24 de jul. de 2014

China planeja expandir rede ferroviária

Como alertei anteriormente, a China está ativa na expansão de sua rede ferroviária!  As implicações geo-políticas são muitas. Confirme:

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Beijing ataca suavemente, mas efetivamente
Yuri Simonyan *, NEO, 15.07.2014
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O governo chinês está desenvolvendo um novo projeto para restaurar a histórica Grande Rota da Seda. De acordo com algumas fontes chinesas, isso envolve o transporte ferroviário a estender-se tanto quanto seis mil quilometros e um custo de 150 bilhões de dólares. Beijing está planejando construir uma rede ferroviária através do Quirguistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Irã, com a Turquia sendo o destino final. O ponto de partida deve ser a Região Autônoma de Xinjang Uygur. Também é esperado que esta rota pode estar ligada à ferrovia de Baku-Tbilisi-Kars, cuja construção entrou em sua fase final. A nova linha estará pronta até 2030 e irá fornecer a operação de trens de passageiros viajando à velocidade de 200 km/h, bem como trens de carga, com velocidades de 160 km/h.

Este projecto ambicioso nos faz pensar na dormente "expansão econômica" da China em direção ao oeste. Em particular, refere-se à antiga área da União Soviética. Se somarmos a "expansão demográfica" disfarçada da mesma forma, podemos chegar a um número de conclusões e fazer várias suposições. Isso para não mencionar a maioria dos países da Ásia Central, onde os cidadãos da China sentem-se completamente em casa enquanto também se nota que recentemente conseguiram se estabelecer em Estados Trans-caucasianos. Isto afeta sobretudo a Geórgia, pois bairros chineses reais apareceram em sua capital e em alguns outros locais – os chamados "Chinatowns". Será que temos razão em dizer que, enquanto alguns dos peso-pesados políticos estão tentando empurrar uns aos outros fora de uma determinada região através de truques diferentes e até mesmo pela força, a China está fazendo exatamente o mesmo mas a pensar mais claramente e com muito mais eficiência?

Alexander Knyazev, um especialista na região do Oriente Médio e Ásia Central, apela para que não se dramatize a situação. "Um projeto é assim chamado porque ele não tem que ser implementado por todos os meios", – isto é o que ele disse ao correspondente de " New Eastern Outlook". De acordo com Knyazev, o projeto chinês envolve elementos com um potencial de conflito– uma área da ferrovia sendo planejada a estender-se desde a cidade chinesa de Kashgar ao uzbeque Andijan através do Osh Quirguistão.

"Até o final do ano passado, as autoridades de Bishkek estavam confirmando a disponibilidade a participar do projeto. Os principais debates no Parlamento foram centrados em torno das questões da participação financeira por parte do Quirguistão. Foi discutido que as companhias chinesas teriam acesso a um número de depósitos minerais na área do percurso proposto como parte da contra-partida do Quirguistão no projeto. Os deputados não se sentiram muito entusiasmados com isso, e não estavam prontos para discutir outros assuntos relativos ao projeto levantados durante esses debates", Knyazev informou.

De acordo com outros especialistas, dentre os problemas pendentes envolve considerar a largura da faixa ferroviária. O lado chinês insiste na largura "européia", à qual eles estão mais acostumados (1435 mm), enquanto que o Quirguistão gostaria de usar o padrão (calibre) da faixa que foi amplamente utilizada na ex-URSS, pensando principalmente no desenvolvimento da sua região sul – o chamado "padrão soviético" (1520 milímetros). Neste caso, seria possível conectar as novas estradas de ferro com as rotas existentes do Quirguistão, sem grandes despesas.

"Em dezembro de 2013, o Presidente do Quirguistão Almazbek Atanbayev recusou-se a participar no projeto chinês sem dar qualquer razão e, até agora, a questão permanece. O fato é que o projeto chinês é um rival direto não só da Trans-Siberiana russa, mas também de alguns projetos de comunicação cazaque:  a auto-estrada Khorgas-Urask indo da fronteira chinesa com acesso à Europa, e a rota ferroviária Zhanaozen (região do Cazaquistão ocidental) – Gyzylgaya e Gyzyletrek (Turcomenistão) – Gorgan (Irã). O projeto cazaque é parte do corredor internacional Norte-Sul, combinado com a rede ferroviária russa, e certamente não provoca concorrência com as ferrovias russas", Alexandr Knyazev disse.

Há mais uma rota cazaque. No ano passado o Cazaquistão acabou a construção da pista de 293 km de extensão ligando Zhetygen a Khorgas, na fronteira da China, completando assim um anel para a rede ferroviária nacional existente e abrindo outra ferrovia da chino-europeia ao longo de seu território. Além dos problemas nas relações com o Cazaquistão e a Rússia, a construção da ferrovia latitudinal chinesa também significaria uma mudança no desenvolvimento da região sul do Quirguistão, reorientando as ligações com a China e o Uzbequistão, uma divisão mais explícita entre o sul e o norte da república, tendo em conta que já existe a ameaça de separação. "É por isso a atitude para com o projeto em Bishkek é muito cautelosa", Knyazev alegou. De acordo com o especialista, uma atitude completamente diferente para com o projeto da estrada de ferro ocorre no Uzbequistão, com grande produção orientada para a exportação (urânio, algodão, metais, etc.).

"No Uzbequistão, a implementação do projecto ferroviário chinês é vista como uma possibilidade de ativar as conexões com a própria China, bem como adquirir o tão aguardado acesso aos portos do Pacífico. Segue-se que o consentimento do Quirguistão para participar do projeto chinês faz da república um rival direto em respeito aos países dos quais é mais dependente – Cazaquistão e Rússia", como Knyazev acredita. É por isso que, de acordo com sua opinião, as questões de implementação do projecto ferroviário permanecem abertas mesmo na região da Ásia Central, não mencionando a rota caucasiana meridional ainda.

Um colega de Knyazev, o especialista azerbaijão Ilgar Velizade, que dirige o clube dos analistas políticos " South Caucasus ", acredita que, apesar do número de dificuldades, o projeto chinês tem um certo potencial para ser implementado – principalmente pelo fato de que as ferrovias estão a ser encomendado não para amanhã, nem mesmo em um ano, mas só em 2030 e, a essa altura, a situação pode mudar drasticamente por todo lado. "É evidente que a China persegue seus próprios objetivos durante a execução de tal projecto em grande escala e de baixo custo, cujo principal objetivo é fortalecer sua presença não apenas na região da Ásia Central, mas também no Cáucaso e nos territórios vizinhos, principalmente em torno do mar Negro", Ilgar Velizade informa o autor.

O perito azerbaijão acha que, ao mesmo tempo, a julgar pelos trabalhos específicos feitos, envolvendo não só a construção dos trilhos mas também a construção da infra-estrutura relacionada, centros de logística, armazéns e até mesmo objetos de infra-estrutura turística – motéis, hotéis etc., as empresas chinesas vão tentar participar ativamente na sua criação e provavelmente em sua operação. "Tendo dito issoque, pode-se prever que podemos falar sobre uma consistente e considerável expansão do Império Celestial na Ásia Central e na região do mar Cáspio-Negro dentro dos próximos quinze anos, em vez de testemunhar um avanço da China em direção ao oeste depois de 2030", relata Ilgar Velizade.

* Yuri Simonyan é colunista do "Nezavissimaïa Gazeta".

Tradução
Marisa Choguill

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