30 de jun. de 2014

Quem está realmente no poder?

A situação política do mundo está bastante volátil.  Embora alguns dias atrás, na época da postagem anterior deste blog, fosse ainda possível acreditar-se que o império americano comandado por um civil estava no comando da situação mundial, a notícia abaixo parece dizer que é na verdade o complexo militar-industrial que comanda o império.  Ou, pelo menos, parece dizer que existe uma certa competição sobre quem está no poder nos EEUU...  Sob tal condição, fica difícil fazer qualquer previsão favorável sobre o futuro...

Talvez seja adequado que o leitor leia esse artigo  (abaixo) antes de continuar a ler esta ‘introduç
ão’.

O artigo relata um acontecimento ocorrido em 2007 – 7 anos atrás.  Entretanto, nesses 7 anos, alguns acontecimentos parecem ter contraditado certos discursos do Presidente americano Barack Obama, que tem sido considerado ‘fraco’ por seus opositores.  De fato, com a informação obtida no artigo abaixo, percebe-se que as tentativas do Presidente americano de dominar a situação têm falhado – os últimos 7 anos têm sido repletos de guerras, interferências, ‘revoluções coloridas’ e outros excessos pelo mundo afora.  Isso indica, infelizm
ente, que é o complexo-militar industrial que está no poder nos EEUU, a serviço de uma elite definitivamente enlouquecida, e que o presidente apenas obedece suas ordens.

Se for esse o caso, pode-se predizer apenas um futuro de imensa brutalidade, assassinatos em massa de cidadãos, mais destruição ambiental, pilhagem de recursos naturais e principalmente controle  (policial) e desmembramento de Estados a fim de enfraquecer a Resistência mundial contra tal loucura.  E, mesmo sem uma guerra termonuclear, haver
á pouca esperança para a sobrevivência digna dos povos, diante da catastrófica destruição da natureza que tanta violência vai causar...

Sim, porque a Resistência a tal monstruosidade só pode advir de instituições altamente organizadas, como o Estado  (o apoio russo e belorusso ao Iraq atacado por for
ças supostamente religiosas demonstra isso), ou organizações militares paralelas de Resistência, que, caso existissem, seriam denominadas ‘redes terroristas’ pela mídia comercial conivente.  No futuro, cidadãos e NGOs terão mínima influência no desenrolar dos acontecimentos;  isso se não forem cooptados a cooperar com as forças ‘militares’ no poder, como acontece frequentemente  (grupos de pressão ambiental são os mais comumente cooptados, visto seu impacto)...

O artigo abaixo nos dá uma visão do poder dessa estrutura militar, e alerta sobre o perigo que representa.

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Blackwater ameaçou matar investigador dos EUA no Iraque – relatório

VoR, 30 de junho de 2014, 10:47

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©  Foto:  East News/AP, Photo/Rafiq Maqbool.  Foto de arquivo.

O administrador chefe  no Iraque da notória empresa de segurança privada Blackwater ameaçou matar um investigador do Departamento de Estado dos EUA por sondar o desempenho da empresa, o jornal New York Times informou segunda-feira.

O Times, citando um memorando interno do Departamento de Estado, disse que a ameaça veio apenas algumas semanas antes de guardas da Blackwater atirarem e matarem 17 civis em 16 de setembro de 2007 na Praça Nisour em Bagdá, conforme relatado pela AFP.

No entanto, as autoridades da embaixada dos EUA em Bagdá pactuaram com Blackwater e os investigadores do Departamento de Estado foram ordenados a sair do país, o jornal disse.

Quatro ex-funcionários da Blackwater estão atualmente em julgamento num tribunal norte-americano pelas as mortes na Praça Nisour.

A matança, vista como um exemplo da impunidade por empresas de segurança privada na folha de pagamento dos EUA no Iraque, agravou o ressentimento iraquiano dos americanos.

O principal investigador do Departamento de Estado, Jean Richter, advertiu no memorando, datado de 31 de agosto de 2007, que pouca supervisão da empresa, que tinha um contrato de US $ 1 bilhão para proteger diplomatas dos Estados Unidos, havia criado "um ambiente com muita responsabilidade e muita negligência."

Os guardas da Blackwater "viam-se como acima da lei", Richter escreveu.

De acordo com um memorando do Departamento de Estado, Daniel Carroll, gerente de projeto da Blackwater no Iraque, disse a Richter depois de uma discussão "que ele poderia me matar naquele momento e ninguém poderia ou iria fazer nada quanto a isso pois estávamos no Iraque."

Richter escreveu: "Eu levei a ameaça do senhor Carroll a sério. Nós estávamos em uma zona de combate, onde as coisas podem acontecer inesperadamente, especialmente quando questões envolvem impactos potencialmente negativos em um contrato lucrativo de segurança".

Um companheiro investigador do Departamento de Estado que testemunhara a troca de palavras corroborou no relatório de Richter em uma declaração separada.

A Blackwater, cuja licença para trabalhar no Iraque foi revogada por Bagdá, foi renomeada duas vezes desde então e depois da fusão com uma empresa rival é agora chamada Constellis Holdings.

O Departamento de Estado cancelou seu contrato com a empresa logo depois de o Presidente Barack Obama tomar posse em janeiro de 2009.


Tradução:
Marisa Choguill

21 de jun. de 2014

Mais repressão a caminho...

Infiltrações e espionagem dos opositores sempre existiram nas atividades de grupos sociais decididos a mudar o status quo. O objetivo de tais operações é barrar aquelas atividades ou antecipar-se às demandas dos militantes a fim de preparar respostas desmobilizantes ou criar barreiras às mudanças pretendidas, mantendo, assim, a situação, sem grandes mudanças.

É por isso que os EEUU, guardiões do sistema capitalista-imperialista, têm estudado há já algum tempo a engenharia dos movimentos e agitações sociais a fim de saber como tais movimentos se expandem. A nível internacional, os imperialistas têm recorrido a aberta ou camuflada interferência nos afazeres internos de nações soberanas, sempre com o apoio das elites locais. É aí que eles aplicam seus conhecimentos de engenharia das agitações sociais – forjando falsas manobras ou re-dirigindo e sufocando agitações espontâneas.


Mas, seus conhecimentos de técnicas de controle social não bastam quando as forças sociais são poderosas e recorrentes, e quando os povos dos próprios países imperialistas, cujos privilégios começam a ser cortados pouco a pouco pelo sistema em crise, ameaçam a elite dominante com sua própria revolta. A verdade é que essa elite, incapaz de por um fim à crise sistêmica do sistema capitalista-imperialista, está sendo inexoravelmente encurralada pelos povos do mundo. Por isso, é questionável se, com tais técnicas de controle social, ela está de fato ganhando algum terreno na luta de classe global, ou apenas tornando tal luta ainda mais longa e dolorosa.


Enquanto as disparidades na distribuição das riquezas, isto é, as condições objetivas para a luta de classe, permanecerem, tal luta será inevitável. Nenhuma solução milagrosa surgirá para salvar a elite, com seus monstruosos privilégios, do confronto final. Quanto mais a elite investir em controle social e guerras, mais rapidamente estará cavando suas própria sepultura. Uma negociação diplomática seria a solução sábia para dar um final menos destrutivo e mais digno à luta de classe; mas, não se pode esperar sabedoria de tão criminosa elite... Infelizmente, a humanidade terá que enfrentar mais alguns anos de agonia antes de poder finalmente impor sua vontade.


Veja no artigo abaixo como técnicas de controle dos movimentos sociais estão sendo criadas nos EEUU com a participação de acadêmicos e outros pesquisadores coniventes com as atividades das agências de segurança daquele país.


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Pentágono prepara-se para massiva agitação civil

No final da Guerra Fria, um escândalo sacudiu as universidades nos Estados Unidos: professores renomados e laboratórios de pesquisa foram secretamente financiados pelo Pentágono. Por um lado, os pareceres de peritos foram contaminados e, por outro lado, suas pesquisas foram encaminhadas para aplicações militares. Essa época está de volta: o Pentágono agora é o principal patrocinador das ciências sociais nos Estados Unidos. Ele visa principalmente compreender como os cidadãos se envolvem em um movimento político a fim de manipulá-lo e controlá-lo.

Nafeez Mosaddeq Ahmed, REDE VOLTAIRE, 21 de junho de 2014



Um programa de investigação do Departamento de Defesa (‘Department of Defense’ – DoD) financia universidades para modelar a dinâmica, os riscos e os pontos de inflexão da agitação civil em grande escala em todo o mundo, sob a supervisão de várias agências militares dos EUA. O programa de vários milhões de dólares é projetado para obter "conhecimentos militantes relevantes" imediatos e a longo prazo para altos funcionários e legisladores na "comunidade de política de defesa" e para informar a política implementada pelos "comandos combatentes".

O DoD lançou o Programa Minerva de Iniciativa de Pesquisa em Parceria com Universidades" em 2008 – o ano da crise global do sistema bancário –“para melhorar a compreensão básica do Departamento de Defesa das forças sociais, culturais, comportamentais e políticas que moldam as regiões do mundo de importância estratégica para os EUA.”

Entre os projetos premiados para o período 2014-2017 figura um estudo feito pela Universidade de Cornell e gerenciado pelo Escritório de Investigação Científica da Força Aérea que visa desenvolver um modelo empírico "da dinâmica da mobilização do movimento social e seus contágios". O projeto irá determinar "a massa crítica (‘tipping point’ – ponto de inflexão)" do contágio social, estudando seus "vestígios digitais" nos casos "da revolução egípcia de 2011, das eleições russas para o Duma em 2011, da crise nigeriana de subsídio de combustíveis de 2012, e dos protestos na Turquia do parque de Gazi de 2013."

"As mensagens postas no Twitter e as conversas serão examinadas para "identificar indivíduos mobilizados em um contágio social e quando eles se tornam mobilizados."

Outro projeto premiado este ano para a Universidade de Washington "procura descobrir as condições sob as quais se originam movimentos políticos que visam a mudança política e econômica em grande escala", juntamente com suas "características e conseqüências". O projeto, gerenciado pelo Escritório de Pesquisa do Exército dos EEUU, centra-se em "movimentos em grande escala envolvendo mais de 1.000 participantes em duradoura atividade" e irá abranger 58 países no total.

No ano passado, a Initiativa Minerva do Ministério da Defesa financiou um projeto para determinar ’Quem Não se Torna Um Terrorista e Por Quê?’ que, no entanto, funde ativistas pacíficos com "adeptos da violência política", que são diferentes dos terroristas somente no fato de que eles não embarcam em "militância armada" por si próprios. O projeto visa explicitamente estudar ativistas não-violentos:

"Em cada contexto, encontramos muitos indivíduos que compartilham o fundo demográfico, familiar, cultural e/ou sócio-econômico de quem decidiu envolver-se em terrorismo mas que se absteve de partir para a militância armada, mesmo que simpatizando-e com as metas finais dos grupos armados. O campo de estudos do terrorismo não tem, até recentemente, tentado olhar para esse grupo de controle. Este projeto não é sobre terroristas, mas sobre os apoiantes de violência política."

Cada um dos 14 estudos de caso do projeto "envolve extensas entrevistas com dez ou mais ativistas e militantes de partidos e organizações não governamentais que, embora solidários com causas radicais, escolheram o caminho da não-violência."

Eu entrei em contato com o investigador principal do projeto, Profa. Maria Rasmussen da Escola Naval de Pós-Graduação, e perguntei por que ativistas não-violentos, a trabalhar para ONGs, foram equiparados aos apoiantes da violência política – e quais "partidos e ONGs" estavam sendo investigados – mas não recebi nenhuma resposta.

Da mesma forma, funcionários do programa Minerva se recusaram a responder a uma série de perguntas semelhantes, que lhes fiz, incluindo perguntas como de que forma "causas radicais" promovidas pelas ONGs pacíficas constituíam-se em uma ameaça potencial à segurança nacional de interesse para o DoD.

Entre minhas perguntas estavam as seguintes:

"O Departamento de Defesa dos EUA vê os movimentos de protesto e ativismo social em diferentes partes do mundo como uma ameaça à segurança nacional dos EUA? Em caso afirmativo, por quê? O Departamento de Defesa considera os movimentos políticos visando a mudança política e econômica em grande escala como uma questão de segurança nacional? Em caso afirmativo, por quê? Ativismo, protesto, ’movimentos políticos’ e, claro, as ONGs são um elemento vital de uma sociedade civil saudável e democrática - por que é que o DoD está financiando pesquisas para investigar tais questões?"

O diretor de programa da Iniciativa Minerva Dr Erin Fitzgerald disse "Eu aprecio suas preocupações e estou contente que você tenha-nos procurado para nos dar a oportunidade de esclarecer" antes de prometer uma resposta mais detalhada. Em vez disso, recebi a seguinte instrução branda da Assessoria de Imprensa do Ministério da Defesa:

"O Departamento de Defesa leva a sério seu papel na segurança dos Estados Unidos, de seus cidadãos e dos aliados e parceiros. Enquanto cada desafio de segurança não causa conflito e nem todo conflito envolve os militares dos EEUU, o programa Minerva ajuda a prover fundos básicos de pesquisa em ciências sociais que ajudam a aumentar a compreensão do Departamento de Defesa do que causa instabilidade e insegurança em todo o mundo. Compreendendo melhor esses conflitos e suas causas previamente, o Departamento de Defesa pode melhor preparar-se para o ambiente de segurança dinâmica do futuro.

Em 2013, o programa Minerva financiou um projeto da Universidade de Maryland, em colaboração com o Laboratório National do Pacífico Noroeste (‘Pacific Northwest National Laboratory’), do Departamento de Energia, para avaliar o risco de agitação civil devido às alterações climáticas. O projeto de três anos, de US $1,9 milhões, está desenvolvendo modelos para antecipar o que pode acontecer às sociedades sob uma variedade de possíveis cenários de mudança climática.

Desde o início, o programa Minerva foi programado para fornecer mais de US $75 milhões para pesquisa em ciências sociais e comportamentais, em cinco anos. Só este ano, ele recebeu um orçamento total de US $17,8 milhões do Congresso dos EUA.

Uma comunicação interna de- pessoal do programa Minerva, mencionada em uma Dissertação de Mestrado de 2012, revela que o programa é voltado para produzir resultados rápidos que são diretamente aplicáveis às operações de campo. A dissertação foi parte de um projeto financiado pelo programa Minerva sobre "discurso muçulmano anti-radical [reacionário – NT]" na Universidade Estadual do Arizona.

Um e-mail interno do professor Steve Corman, um investigador principal do projeto, descreve uma reunião organizada pelo programa de Modelagem Social Cultural e Comportamental Humana (‘Human Social Cultural and Behavioural Modeling ‘ – HSCB), do Ministério da Defesa, em que altos funcionários do Pentágono disseram que sua prioridade era "desenvolver capacidades que sejam rapidamente utilizadas" sob a forma de "modelos e ferramentas que possam ser integradas com as operações."

Embora o supervisor do Escritório de Pesquisa Naval Dr. Harold Hawkins tenha assegurado aos pesquisadores da universidade desde o início que o projeto era meramente "um esforço de pesquisa básica, portanto não devíamos estar preocupados com a aplicação", a reunião de fato mostrou que o DoD está procurando "fomentar resultados" em "aplicações", Corman disse no e-mail. Ele aconselhou seus pesquisadores a "pensar em moldar os resultados, relatórios, etc, a fim de que eles [DoD] possam ver claramente sua aplicação em ferramentas que podem ser levadas para o campo."

Muitos estudiosos independentes são críticos do que eles vêem como os esforços do governo dos EUA para militarizar a ciência social a serviço da guerra. Em maio de 2008, a Associação Antropológica Americana (AAA) escreveu para o governo dos EUA notando que o Pentágono não tem "o tipo de infra-estrutura para a avaliação de pesquisa antropológica [e de outras ciências sociais]" de uma forma que envolva "revisão pelos pares (‘peer review’) rigorosa, equilibrada e objetiva", pedindo para que essa investigação seja em vez disso gerenciada por agências civis como a National Science Foundation (NSF).

No mês seguinte, o DoD assinou um memorando de entendimento (ME) com a NSF para cooperar na gestão do Minerva. Em resposta, a AAA alertou que, apesar de que as propostas de pesquisa agora iriam ser avaliadas por painéis de revisão de mérito da NSF, "funcionários do Pentágono terão poder de decisão sobre quem senta nos painéis":

"... permanecem preocupações no seio da disciplina de que a pesquisa somente será financiada quando suportar a agenda do Pentágono. Outros críticos do programa, incluindo a Rede de Antropólogos Interessados (‘Network of Concerned Anthropologists’), têm levantado preocupações de que o programa iria desencorajar a investigação em outras áreas importantes e minar o papel da Universidade como um lugar para discussão independente e crítica dos militares".

De acordo com o Prof. David Price, um antropólogo cultural na Universidade de S. Martin em Washington DC e autor de Antropologia Transformada em Arma: Ciências Sociais a Serviço do Estado Militarizado, "quando olhamos para os pedaços individuais de muitos desses projetos, eles meio que parecem como ciência social normal, análise textual, pesquisa histórica e assim por diante; mas, quando somamos esses pedaços, todos eles compartilhavam temas de legibilidade com todas as distorções da simplificação excessiva. Minerva está colhendo as peças do produto para o Império de uma forma que pode permitir que indivíduos desassociem suas contribuições individuais do projeto maior."

O Prof Price expôs anteriormente como o programa de Sistemas de Terreno Humano (HTS) do Pentágono – projetado para incorporar os cientistas sociais em operações militares de campo – rotineiramente realizaram cenários de treinamento em regiões "dentro dos Estados Unidos".

Citando uma síntese crítica do programa enviado a diretores do HTS por um ex-funcionário, Price relatou que os cenários de treinamento do HTS "adaptaram o programa COIN [COntra-INsurgência] para Iraque/Afeganistão" a situações domésticas "nos"EUA, onde a população local foi vista, do ponto de vista militar, como uma ameaça ao equilíbrio estabelecido de poder e influência, e um desafio à lei e à ordem.

Um jogo-de-guerra, disse Price, envolveu ativistas ambientais protestando contra a poluição de uma fábrica de carvão perto de Missouri, alguns dos quais eram membros da conhecida ONG ambiental Sierra Club. Os participantes foram incumbidos de "identificar aqueles que eram ’solucionadores-de-problemas’ e aqueles que eram ’causadores-de-problemas’, e o resto da população que seria alvo das operações de informação para mover seu Centro de Gravidade em direção àquele conjunto de valores e pontos de vista, que era o ’desejado estado final’ da estratégia militar."

Tais jogos-de-guerra são consistentes com um grupo de documentos de planejamento do Pentágono que sugerem que a vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional (‘National Security Agency’ – NSA) é parcialmente motivada para preparar para o impacto desestabilizador de um futuro choque ambiental, de energia e econômico.

James Petras, Professor Bartle de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova York, concorda com as preocupações de Price. Os cientistas sociais financiados pelo programa Minerva, ligado às operações de contra-insurgência do Pentágono, estão envolvidos no "estudo das emoções para alimentar ou sufocar movimentos ideológicos", ele disse, incluindo como "neutralizar movimentos populares".

O programa Minerva é um excelente exemplo da natureza profundamente intolerante e derrotista da ideologia militar. Pior ainda: a falta de vontade dos funcionários do Departamento de Defesa para responder às questões mais básicas é sintomática de um fato simples – em sua inabalável missão para defender um sistema global cada vez mais impopular, servindo os interesses de uma minoria, as agências de segurança não têm dúvidas em pintar o resto de nós como potenciais terroristas.


Tradução
Marisa Choguill

Fonte
The Guardian

4 de jun. de 2014

Semelhanças entre acontecimentos que precederam a I Guerra Mundial e acontecimentos atuais

O excelente texto de Andrew Korybko, publicado pela Rede Voltaire, que anexo abaixo, refere-se a uma interessante pesquisa sobre alguns acontecimentos-chave na I Guerra Mundial comparados com acontecimentos no presente. Paralelos podem ser traçados, e lições aprendidas. Vale a pena ler:

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Lições e Consequências da Primeira Guerra Mundial: de Volta para o Futuro?

O centenário da Primeira Guerra Mundial é um momento para uma reflexão sóbria e profunda sobre as causas e consequências desta tragédia humana. Tem havido alegações de que a aprendizagem pode ser ‘uma visão perfeita’ [‘20/20’ em inglês= fácil após a ocorrência – NT]; mas, estando hoje tão distante do evento real em si, parece que a aprendizagem através das polêmicas polarizada de hoje é míope. A história está sendo reinterpretada para marcar pontos políticos a curto prazo, e esquece-se de que a intenção britânica do conflito original era para uma transformação a longo prazo e profética do arranjo (na época, reconhecido como ‘global’) das potências européias. Claro, nem tudo saiu como previsto e aconteceram ‘zebras’ [‘dark horses’: acontecimentos inesperados; o mesmo que ‘zebras’, ‘azarões’ – NT] para contrabalançar esses planos cuidadosamente concebidos e/ou colher dividendos imerecidos. Não importa que cem anos já tenham passado; o objetivo geoestratégico é o mesmo – as Potências Marítimas devem utilizar todos os métodos (incluindo intriga e maciço derramamento de sangue) para impedir que as potências continentais conspirem contra elas. O continuum da história estranhamente mostra que as sombras do passado ainda pairam sobre a cabeça do futuro, e as lições temáticas que antecederam e que se seguiram à I Guerra Mundial ainda soam perigosamente verdadeiras hoje.
Andrew Korybko, Rede Voltaire, 4 de junho de 2014

1. Temas

Enquadramento geopolítico

Comumente, diz-se que " geografia é destino"; e, em grande medida, a localização geográfica é um forte determinante da ação. Alfred Mahan e Halforth Mackinder compreenderam isso muito bem na virada do século passado.

Mahan publicou "A Influência do Poder Marítimo na História" em 1890, o qual argumentava que o poder no mar é chave para controlar a terra.
Mackinder levou essa idéia um passo adiante em 1904, escrevendo em "O Eixo Geopolítico da História" que as óbvias limitações geográficas do poder marítimo exigem um forte controle sobre o Heartland [1] a fim de dominar a Eurásia. Esta foi originalmente entendida como a Ásia Central, mas mudou ao longo do tempo.
Por que importava então?
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O Secretário do Exterior britânico em 1914, Sir Edward Grey, foi o principal instigador da Primeira Guerra Mundial.

O Reino Unido e a Alemanha estavam envolvidos em uma feroz corrida de armamentos navais até a véspera da Primeira Guerra Mundial. Embora a Marinha Britânica fosse suprema, a Alemanha era claramente uma ameaça crescente para essa hegemonia. Além disso, a Alemanha e a Áustria-Hungria eram os mestres da Europa Central e a Rússia controlava oHeartland (essencialmente ’ ganhando’ o Grande Jogo). O historiador russo Nikolay Starikov brilhantemente argumenta que o Reino Unido, usando sua experiência diplomática (e esperteza) de séculos no equilíbrio do grande poder, instigou a Alemanha e a Rússia à guerra após os acontecimentos de Sarajevo para destruir seus dois inimigos maiores (em diferentes teatros da Eurásia) em um único golpe.
Por que é importante hoje?
Brzezinski, escrevendo em ‘O Grande Tabuleiro de Xadres’ [‘The Grand Chessboard’] em 1997, adverte os americanos responsáveis pelas decisões sobre a possibilidade (à época distante, hoje mais realista) de uma aliança russo-alemã que isolasse a América da Europa e, assim, arruinasse a estratégia Euro-Asiática da América. Adaptando para a presente realidade geopolítica, faz sentido agora a razão porque existe tanta incriminação ocidental contra a Alemanha por ter supostamente começado a I Guerra Mundial – o objetivo é manter a Alemanha e a Rússia divididas e impedir sua coordenação política futura. A onda de Revoluções Coloridas destina-se unicamente a penetrar o Heartland soviético anterior e a remover a Rússia do jogo do Grande Poder. Na frente naval, os EUA estão tentando incitar a China em rota de colisão catastrófica com seus vizinhos do sudeste asiático sobre territórios marítimos disputados.
Lição
A combinação do poder sobre o mar e a terra, devidamente coordenados e aplicados em toda a Eurásia, é a fórmula básica para o controle global. Uma olhada momentânea no mapa das implantações navais e militares americanas no exterior prova facilmente as teorias de Mahan e de Mackinder sem a necessidade de palavras. Porque a geografia não pode ser alterada, essas idéias vão continuar a orientar os EUA e qualquer outro aspirante à hegemon global. No mundo de hoje, os EUA mesclaram o conceito de Balcãs Euro-Asiáticos de Brzezinski [indo das margens do Mar Negro às fronteiras da China, incluindo o Cáucaso – NT] com as táticas de agitação de massa de Gene Sharp (estimuladas por redes de mídia social) para conceber a arma das Revoluções Coloridas para executar isso

Um sistema de aliança hobbesiano

Os países entram em alianças militares uns com os outros por algum tipo de benefício percebido, que pode variar dependendo do ator. Mesmo que tais alianças não decretem de jure [de acordo com a lei – NT] defesa militar mútua, se a percepção aceita é de que essa aliança acarreta tal compromisso, então as reputação e prestígio das partes podem fortemente estar em jogo se elas não levarem a cabo sua obrigação prevista. Quanto mais os sistemas de aliança crescem, mais complicados se tornam, eventualmente amaranhando a todos que são laçados na rede. Guerras em grande escala podem começar assim, com base em erro de cálculo ou eventos periféricos.
Por que importava então?
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Cartaz russo "Entente Cordial" de 1914. São mostradas as personificações femininas da França, Rússia e Grã-Bretanha. No centro, a Rússia detém no alto uma cruz Ortodoxa (símbolo da fé); a Britânia, à direita, uma âncora (referindo-se à Marinha da Grã-Bretanha, mas também um símbolo tradicional da esperança); e Marianne, à esquerda, um coração (símbolo de caridade/amor, provavelmente em referência a Basílica de Sacré-Cœur) – "fé, esperança e caridade" sendo as três virtudes da famosa passagem bíblica I Coríntios 13:13. O cartaz revela uma postura russa sincera para com seus "aliados" na Primeira Guerra Mundial.

As percepções obrigacionais envolvendo alianças desempenharam um papel importante no longo período que antecedeu a I Guerra Mundial, pois Starikov escreve que "até o início da Primeira Guerra Mundial, a aliança Entente não foi enquadrada em um Tratado!" Claramente, havia sempre uma "saída"; mas; devido à duplicidade da diplomacia britânica (também devidamente elaborada por Starikov em suas obras), a situação foi cuidadosamente enquadrada para a Alemanha e a Rússia como se não houvesse alternativa. Uma vez ativado, o emaranhado da fibrosa aliança multiplicou-se exponencialmente até que a maioria de todo o continente (e o Oriente Médio através do Império Otomano) foi envolvido em guerra total. Um evento relativamente banal no grande esquema da política contemporânea (um assassinato político na periferia continental) levou a uma grande conflagração no seu núcleo.
Por que é importante agora?
Após a Guerra Fria, a OTAN continuou a crescer inabalável, devorando os restos do Pacto de Varsóvia e parte das antigas Iugoslávia e União Soviética. Embora a defesa militar mútua não seja legalmente vinculativa na OTAN (o Artigo 5º não estipula explicitamente assistência militar, deixando que cada estado-membro tome essa decisão por conta própria), a percepção é que é. Isto significa que os EUA e seus coortes podem acabar perigosamente envolvidos em um conflito regional a fim de salvar as aparências. As ações provocativas da Turquia na Síria ou seus planos fracassados de um ataque enganador lá deveriam enviar sinais de alarme ao resto do mundo. O mesmo pode ser dito para a Polônia e a Lituânia, também membros da OTAN, em relação a seus planos de criar uma brigada conjunta com a Ucrânia, a qual não é membro da OTAN. Claramente, uma potência média em uma grande aliança pode atrair o resto dos seus vinte e sete membros a uma calamidade desastrosa. Deixando de lado a OTAN, os EUA têm um acordo de defesa mútua com o Japão, o qual tem sido incitado a provocar a China. As garantias de segurança fornecidas pelos Estados Unidos a Israel e Arábia Saudita também poderiam facilmente envolvê-los em uma guerra regional com o Irã.
Lição
As alianças militares são um tipo de acordo quase sacrossanto que os estados fazem uns com os outros, colocando seu prestígio e a vida dos seus cidadãos em risco pelos seus parceiros. Elas não deveriam ser entendidas como uma forma de afirmação política. Quanto maior é a aliança, maior é a chance de surtos não-intencionais de grave guerra e de os jogadores do meio manipularem os outros membros. É totalmente instável quando Obama, referindo-se aos Estados Unidos, conta com orgulho para a turma de graduação do West Point [academia militar do exército dos EEUU – NT] que, "Da Europa à Ásia, nós somos o centro de alianças sem rival na história das nações." Excepcionalmente perigosas são as chamadas alianças "defensivas" que só têm um histórico de ação militar ofensiva (por exemplo, as guerras da OTAN). As alianças tanto podem complicar a situação política quanto podem esclarecê-la.

Manipuladores (distantes) do equilíbrio de poder

Os conceitos de equilíbrio de poder e de Dividir para Reinar são tão antigos quanto as páginas do tempo; no entanto, igualmente tão velho é o conhecimento de que quanto mais distante o praticante dessas estratégias, menos provável é que seja afetado diretamente pelas consequências negativas de suas ações. Isso os torna mais calculistas e letais no potencial de danos que podem colher nos teatros alvos. O poder do estado manipulador de equilíbrio deve também ser levado em consideração. Se um estado forte está manipulando os mais fracos, então o risco potencial de consequências negativas diminui; da mesma forma, uma vez que fortes estados começam a manipular seus pares, o risco de consequências negativas (mesmo que os estados sejam distantes uns dos outros) aumenta dramaticamente.
Por que importava então?
O Reino Unido havia sido historicamente a prima donna do equilíbrio de poder e das políticas de Dividir para Reinar na Europa, e desempenhou perfeitamente esse papel no processo que conduziu à I Guerra Mundial. Conforme descrito por Starikov, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido Edward Grey diligentemente jogou todas as potências continentais uma contra a outra a fim de que seu país colhesse os benefícios esperados de um conflito continental hobbesiano. As consequências da guerra não foram exatamente as que haviam sido antecipadas (como é fato, isso não acontece com grandes manobras estratégicas); mas, no entanto, é importante observar o impacto da interferência do Reino Unido na gênese da Grande Guerra. Sua visão de equilíbrio europeu e de Dividir para Reinar contribuiu diretamente para a tragédia, inadvertidamente ou não.
Por que é importante agora?
Os EUA substituitam o Reino Unido como equilibrador global do mundo e praticante de Dividir para Reinar. Sua nova política de ‘Liderar por Trás’ [‘Lead from Behind’] é um eufemismo para essas práticas. Eles nomeiam aliados regionais para realizar o que é percebido como sendo condições mutuamente vantajosas (para a vantagem objetiva da grande estratégia dos EUA, mas apenas para a vantagem subjetiva do ’aliado’) enquanto Washington supervisiona e gerencia eventos. A Turquia e Polônia são os principais exemplos dessa política em ação, e a influência da CIA e do FBI sobre a junta de Kiev é ainda outra aplicação dela. Mais sinistramente, as Revoluções Coloridas também podem associar seu nascimento ao de um poder manipulativo (distante) tentando gerenciar eventos regionais para seu próprio interesse. Ao manipular globalmente multidões de atores simultaneamente, surge um risco crítico de má gestão e conseqüências não intencionais. Isso é ainda mais apocalíptico devido aos avanços na tecnologia militar (armas nucleares, drones, guerra electrônica, etc.) que podem igualar o jogo entre as grandes potências manipuladoras e as manipuladas.
Lição
Poderes equilibradores e manipuladores (distantes) têm paradoxalmente visão e cegueira. Eles têm uma certa visão do que a ordem global ou regional deve parecer; mas, a fim de trazer esta idéia à fruição, muitos movimentos complicados devem ser feitos com antecedência. A cegueira decorre do fato que, quando manobras arriscadas de enormes consequências são feitas, conseqüências não intencionais de natureza variável geralmente se seguem e, mais do que provável, estas tendem a ter algum tipo de resultado desastroso para algumas ou todas as partes afetadas. Quanto mais distante e forte o poder manipulativo, mais provável que tenha visões grandiosas (e perigosas) daquilo que o futuro deve parecer e que na verdade atue sobre esses sonhos. Mesmo se este tipo de ator esteja apenas manipulando uma pequena ou média potência, se o alvo eventual for uma potência de força igual ou próxima à dele, então é o mesmo que tentar manipular o dito poder (por exemplo, a manipulação da Ucrânia pelos EUA para afetar a Rússia). Isso nunca leva a resultados pacíficos e estáveis.


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2. Consequências

‘Zebras’


Essas são as consequências não intencionais que acontecem devido à manipulações e grandes planos que correm mal. Elas são impossíveis de se prever com precisão, e só às vezes podem parecer esperadas, em retrospectiva. As ‘zebras’ são as ‘cartas fora do baralho’ [‘wild cards’] que surpreendentemente alteram a dinâmica no jogo e causam uma mudança que os manipuladores originais não pretendiam. Elas aparentemente surgem do nada.
Por que importava então?
Em conformidade com o argumento de Nikolay Starikov, a intenção do Reino Unido, ao transformar os eventos em Sarajevo em uma guerra européia, era eliminar dois de seus principais rivais simultaneamente, Alemanha e Rússia. Londres se antecipara, tendo a mão livre para impor sua vontade por toda a Eurásia, de Berlim a Bagdá e do Mar de Barents até ao Mar de Bering. A história, no entanto, não foi assim, e algumas notáveis ‘zebras’ entraram em cena:
  • Os EUA entraram na Primeira Guerra Mundial e foram capazes de ter poder decisório na composição da Europa pós- I Guerra Mundial. O Reino Unido não era mais o rei do continente e, daquele momento em diante, sua influência global começou a diminuir relativamente enquanto a dos EUA aumentava.
  • O Japão, observando de longe como o fratricídio Europeu estava enfraquecendo o poder coletivo dos estados coloniais, tomou alguns territórios alemães do Pacífico e definiu seus projetos de maiores conquistas asiáticas menos de duas décadas mais tarde.
  • A Rússia levantou-se das cinzas, transformada internamente em União Soviética mas externamente semelhante às suas fronteiras imperiais.
  • Os turcos travaram o que identificam como uma guerra de independência, derrubando o Tratado de Sevres (que procurou alocar esferas de influência européia em Anatólia) e substituindo-o com o Tratado de Lausanne.
Essas quatro ‘zebras’ eram imprevisíveis em 1914; mas, em 1924, elas definiram uma parte significativa da arena internacional.
Por que é importante agora?
Assim como a estratégia britânica pelo poder, fomentando as salvas de abertura da I Guerra Mundial, levou ao surgimento inesperado de vários centros de poder, o mesmo o fez o fiasco unipolar dos EUA após o fim da Guerra Fria. A China, com a qual os EUA haviam-se aliado para conter a União Soviética, experimentou a ascensão econômica mais rápida da história da humanidade, e está a um passo de superar a economia os EUA este ano. A Rússia mais uma vez se ergueu, com Putin retornando o país ao seu status histórico de grande poder após a década de crises de 1990. Na verdade, a Rússia e a China agora estão desfrutando o melhor estado de relações mútuas em sua história. Isso os levou a coordenar as suas políticas na ONU, nos BRICS, na APEC e no Oriente Médio e Norte da África. Claramente, olhando para trás, em 1991, não foi isso que os planejadores da política norte-americana anteciparam para o seu mundo "unipolar". Na verdade, o futuro multipolar está crescendo sobre o passado unipolar, e o processo parece ser irreversível, agora.
Lição
Para citar Donald Rumsfeld, "há incógnitas desconhecidas " [‘there are unknown unknowns’], e é impossível prever que conseqüências resultarão de qualquer ação determinada. No entanto, parece que quanto maior a escala do empreendimento, quanto maior o ator que o está iniciando, e quanto maior(es) o(s) alvo(s), tanto mais provável que os resultados inesperados sejam extremamente profundos e marcantes. Pode-se assim avaliar que a "batalha pela Eurásia" dos EUA resultará consequentemente em uma miríade incalculável de ‘zebras’ que podem completamente inverter o equilíbrio de poder global.

Lenocínio político

Estados de segunda e terceira ordens (não-grandes poderes) estão sempre sujeitos a ameaças de manipulação; mas, essa ameaça torna-se um fato depois que um manipulador (distante) do equilíbrio de poder decide perseguir sua visão estratégica. Esses estados são com certeza imolados de uma forma ou de outra se eles estiverem no teatro de operações, e sua vitimização vai ser lucrativa para o estado manipulador. Isso pode assumir a forma clara de traição, de voltar atrás em promessas anteriores, ou de francamente submeter o parceiro de segunda/terceira ordem contra sua vontade ou expectativa. Estados de primeira ordem podem ter relações respeitosas com os de segunda/terceira ordem, mas uma vez que o estado de primeira grandeza vai para a ofensiva para perseguir sua visão (messiânica), essas relações imediatamente tornam-se dispensáveis e nada mais do que ‘cartas do pôquer político’.
Por que importava então?
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Faisal ibn al-Hussein (1885-1933), rei do Iraque entre 1921 até sua morte. Note a bandeira do Reino Árabe da Síria, que coroou Faisal como seu rei em março de 1920 e caiu sob a conquista francesa quatro meses mais tarde.

Dois dos principais problemas no Oriente Médio assentam-se nesse período: a questão de Israel e da Palestina e as fronteiras coloniais artificiais da região. Os árabes foram encorajados a revoltar-se contra os turcos em troca de sua independência após a guerra, conforme a Correspondência Hussein-McMahon; mas, obviamente isso não aconteceu. Enquanto as raízes da questão Israel e Palestina durante esse tempo são bem conhecidas (Declaração de Balfour), menos conhecida é a traição do Reino Árabe da Síria depois da I Guerra Mundial.

O Protocolo de Damasco de 1914 serviu de base para a Correspondência McMahon-Hussein de 1915 - 1916, em que as fronteiras do futuro Reino Árabe da Síria seriam especificadas. Ele incluiria os estados modernos da Síria, Líbano, Israel, a maioria da Jordânia Ocidental e o Iraque e partes do Sul da Turquia. Falsamente, os britânicos estavam ao mesmo tempo ocupados a conspirar com os franceses para dividir no Oriente Médio em zonas coloniais através do Acordo Sykes-Picot. Mais tarde, em 1917, eles concluíram o acordo de Balfour (que se sobrepôs ao território prometido para o Reino Árabe da Síria), indicando claramente que nunca tiveram qualquer intenção de honrar suas promessas de garantir um estado árabe independente centrado em torno da Síria. A destruição e ocupação do Reino Árabe da Síria pela França em 1920 destruiu o sonho da independência síria até após 1946. Ainda assim, os francêses já haviam então deslocado forçosamente o Líbano da Síria e até mesmo entregue a província de Hatay para a Turquia em 1939, apesar de ambas as áreas terem sido historicamente parte da civilização Síria há séculos.

A traição da Síria depois da I Guerra Mundial é um caso clássico de lenocínio político, e seu legado é o desconfigurado Oriente Médio de hoje.
Por que é importante agora?
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A embaixadora dos EUA April Glaspie encontrou-se com Saddam Hussein em 25 de julho de 1990, apenas uma semana antes da invasão iraquiana do Kuwait.

Os estados de segunda e terceira ordens estão mais ameaçados agora do que antes. A estratégia destrutiva dos Balcãs Euro-Asiáticos de Brzezinski visa especificamente os estados no Rimland [área da Eurásia no entorno doHeartland –NT], a maioria dos quais se encaixam nessa categoria (excluindo a Índia e a China). Revoluções Coloridas, por exemplo, pretendem criar um terremoto geopolítico para quebrar o Rimland Euro-Asiático e provocar o colapso do Heartland. Outras vezes, no entanto, os métodos mais tradicionais de guerra são empregados a par com decepção diplomática. O caso mais impressionante é o do envolvimento militar do Iraque no Kuwait, em 1990.

April Glispie, a embaixadora dos EUA no Iraque, na época, deu "luz verde" total a Saddam para suas ações. Depois, isso foi usado como justificativa para o assentamento de militares dos EUA na Arábia Saudita e no Golfo, para a Primeira e a Segunda Guerras do Golfo, e para o projeto para um "Novo Oriente Médio". A Primavera Árabe é apenas a mais recente iteração [repetição] dos grandes planos estratégicos dos EUA para a região; mas, se não fosse pela Primeira Guerra do Golfo (provocada por garantias enganosas que os EUA não iriam intervir, da mesma forma como os britânicos garantiram aos alemães no período que antecedeu a I Guerra Mundial), talvez nada disso tivesse acontecido e pelo menos mais de 1 milhão de vidas poderiam ter sido poupadas.
Lição
Assim como a liberdade foi falsamente prometida aos árabes para que se rebelassem contra os turcos, e Saddam foi tapeado a acreditar que o Iraque poderia anexar o Kuwait, os manipuladores (distantes) do equilíbrio de poder normalmente exploram os estados de segunda e terceira ordens exclusivamente para promover seus próprios objetivos estratégicos. Muito raramente eles realizam suas promessas ou decretam assistência a longo prazo aos seus ’aliados’. Essas pessoas e estados são objetos na busca de objetivos maiores e, sendo reconhecidos como tal, são descartados quando já não são mais úteis. Compreendendo a natureza predatória de gigolôs políticos tais como o Reino Unido e os Estados Unidos, os estados de segunda e terceira ordens podem trabalhar para evitar o destino que se abateu sobre o Reino Árabe da Síria e Saddam Hussein.


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Mapa da Europa após a Primeira Guerra Mundial até 1929

Duplicidade perigosa

A duplicidade só pode ser ’estável’ se for imposta por um hegemon global sem rival – em todos os outros casos, ou uma vez que o referido poder começar a declinar ou outros a revoltar-se contra ele (o que inevitavelmente acontece), esses padrões duplos perigosamente abrem uma caixa de Pandora de ‘zebras e azarões’ [‘black horses and black swans’]. Independentemente, estados (ou grupos de estados) que sentem que estão em uma posição de poder e influência esmagadora podem levar à imposição de padrões duplos por pura conveniência política míope. É mais fácil aplicar uma norma para os vencidos e outra para os vencedores.
Por que importava então?
A duplicidade de auto-determinação e nacionalismo étnico são talvez as mais perigosas hipocrisias do século passado. Após a Segunda Guerra Mundial, as potências vitoriosas jogaram um jogo de equilíbrio sobre o sangue étnico. Seu duplo standard destinava-se a reformular o mapa da Europa a seu bel-prazer, potencializando alguns e fragilizando outros. Ironicamente, alguns estados sentiram ambos os efeitos. Isto foi provocado pela vinculação e separação de vários grupos étnicos, unindo alguns enquanto criando diásporas [dispersões] entre outros.
Grupos étnicos que foram forçosamente divididos:
  •  Alemães (Tratado de Versailles)
  •  Húngaros (Tratado de Trianon)

Grupos étnicos autorizados a permanecer unidos:
  •  Poloneses
  •  Romenos

Falso estado:
  •  Checoslováquia

Os alemães e húngaros procuraram alterar esse equilíbrio artificial da distribuição étnica; essa foi uma das causas da Segunda Guerra Mundial. Os poloneses e os romenos, enquanto sediando uma grande maioria de seus grupos étnicos dentro de suas fronteiras, tinham minorias substanciais também (ucranianos e bielorrussos na Polônia, húngaros na Romênia). Eles eram ‘estados-nação’ no sentido de que as nacionalidades dominantes eram o polonês e o romeno; mas, eles não eram estados-nação ’puros’ por causa de grandes grupos minoritários. A Checoslováquia era algo completamente diferente: uma mistura de alemães, tchecos, eslovacos e húngaros. Era uma entidade artificial criada puramente para fins políticos. A duplicidade de critérios sobre etnia predominante durante toda a Europa no pós-I Guerra Mundial eventualmente provocaria a Segunda Guerra Mundial.
Por que é importante agora?
Mais uma vez, auto-determinação e nacionalismo étnico foram liberados da caixa de Pandora, embora desta vez pelos Estados Unidos e seus aliados. Começando no Kosovo, que havia sido declarado uma "exceção" à regra: um grupo étnico agitou violentamente para obter auto-determinação (tendo recebido apoio militar internacional para isso) e a declarou unilateralmente em 2008. Naquela época, Putin disse que "a independência do Kosovo é um terrível precedente. Com efeito, ela rompe com todo o sistema de relações internacionais, um sistema que tomou não apenas décadas mas séculos para evoluir... E, sem dúvida, isso pode implicar em toda uma cadeia de consequências imprevisíveis". Ele concluiu dizendo que "em última análise, é uma espada de dois gumes, e a outra borda vai bater-lhes na cabeça, qualquer hora", o que é exatamente o que aconteceu nos casos da Ossétia do Sul, Abecásia, Crimeia, e possivelmente Donbass e a totalidade do Novorossiya... E o gato apenas começou a pular fora do saco.
Lição
A duplicidade nunca resulta em estabilidade, e carrega dentro de si as sementes e embriões para futuros conflitos e desordem. A questão é quanto tempo levará para o duplo standard amadurecer em um problema de pleno direito, e que forma e alcance a oposição a essa falsa norma vai tomar. Como pode ser visto pelos casos da Europa pós-I Guerra Mundial e pelo mundo dos dias modernos, certos padrões duplos completamente revolucionaram a política internacional e podem trazer os mais imprevisíveis dos resultados. Eles são com certeza uma receita para o desastre eventual.

Pensamentos finais


Os temas e as consequências da Primeira Guerra Mundial são ainda estranhamente verdadeiros hoje. A diferença, no entanto, é que o escopo da instabilidade e o teatro potencial de operações saltou da Europa para toda a Eurásia. Enquanto os britânicos foram os condutores privilegiados da política de equilíbrio de poder e das políticas de Dividir para Reinar do período pré-Primeira Guerra Mundial, os EUA agora herdaram esse trono. A aliança da OTAN, tendo superado sua finalidade e inchado com membros desnecessários, representa o agrupamento militar mais instável, o qual pode muito bem provocar uma guerra por erro de cálculo.

O cálculo geopolítico permanece o mesmo – o Poder Marítimo (EUA) e seus aliados não podem permitir que uma combinação de estados continentais (Rússia, China, Irã e Índia) se una para repelí-los da Eurásia. O estratagema dos Balcãs Euro-Asiáticos de Brzezinski e as táticas de Gene Sharp cindiram-se na criação de uma nova arma perigosa de guerra global – as Revoluções Coloridas. A combinação de Revoluções Coloridas com o precedente de Kosovo, realizado sob a égide da ’liderança’ de EUA/OTAN, fraturou as relações internacionais contemporâneas e carrega o potencial de minar a paz que prevaleceu durante quase 70 anos entre as grandes potências.


NOTA
:

[
1] Heartland significa, literalmente, Coração da Terra. Mackinder situou o Heartland na zona territorial que abrange os continentes europeu e asiático, e que recebe a denominação de Eurásia – NT.


Autor
Andrew Korybko
Estudante de Mestrado na Universidade Federal de Relações Internationais de Moscow (MGIMO).

Tradução
Marisa Choguill