8 de out. de 2012

PRESIDENTE HUGO CHÁVEZ VENCE OUTRA VEZ!!!

Hugo Rafael Chávez Frías VENCE MAIS UMA VEZ as eleições presidenciais na Venezuela!!!

PARABÉNS, VENEZUELANOS!!!

PARABÉNS, LATINO AMERICANOS!!!

Mais uma vitória de Hugo Chávez na Venezuela significa a consolidação dos novos rumos que esse país tem tomado, com sua influência positiva não apenas na América Latina mas em todos os cantos do mundo oprimido!!!

A ESPERANÇA VIVE!!!

Agora, sugiro que o Presidente Hugo Chávez tome MUITO cuidado com sua saúde - PRESIDENTE HUGO CHÁVEZ, CUIDE DE SUA DIETA!!!

29 de set. de 2012

Alimentos básicos e indústria alimentar versus alimentação saudável

Por Marisa Choguill, http://mc-alerta.blogspot.com/, 29 de setembro de 2012

Como o título deste artigo indica, existe uma contradição entre indústria alimentar e alimentação saudável.  Isto porque os alimentos denominados básicos (‘staple foods’) – tais como os grãos dos cereais como o trigo, o arroz e o milho, além das sementes de leguminosas como a soja e outras –, que são a matéria prima da indústria alimentar, estão sendo condenados por médicos e nutricionistas em todo o mundo, os quais afirmam que seu consumo nunca deveria ter sido elevado ao nível de ‘alimentos básicos’ pois sua digestão é muito complicada, causando problemas gástricos, carências nutricionais e doenças.

De acordo com historiadores, nutricionistas e especialistas da área médica, tais alimentos foram consumidos por nossos antepassados em pequenas quantidades pois causavam sérios problemas digestivos.  O grão do cereal trigo entrou na cadeia alimentar humana há cêrca de 10.000 anos, mas até o século passado seu consumo era muito reduzido.  Os grãos dos cereais contêm fitatos – substâncias irritantes e inflamatórias que prejudicam a absorção de nutrientes e causam problemas de saúde.  Além do alto conteúdo de carbohidratos (= açúcares), o trigo também contém gluten, uma proteina conhecida por causar sérios problemas digestivos e outros problemas de saúde.  Quanto à soja, embora os chineses a conhecessem há milênios, só começou a ser consumida, em pequenas quantidades, há cêrca de 2.500 anos, quando um laboroso processo de fermentação foi descoberto na China.

Há cêrca de um século, entretanto, a ambiciosa indústria alimentar tomou, como matéria prima básica, o trigo, a soja, e alguns outros grãos e sementes de leguminosas, e deu início ao processamento complexo de tais grãos e sementes fazendo uso de ácidos e outros agentes químicos e físicos com o objetivo de transformá-los em alimentos digeríveis e palatáveis.  Assim, alimentos altamente processados, sintéticos, foram promovidos à posição de alimentos básicos em escala mundial.[1]

Conforme vários especialistas da área médica afirmam, o trigo e a soja, da forma como têm sido processados, são tão nocivos à saúde que deveriam ser eliminados completamente da nossa dieta.  ‘Doenças modernas’ como obesidade, diabete do tipo 2, problemas cardio-vasculares, diversas formas de cancer, problemas gástricos, doenças do sistema imunológico, alérgicas e degenerativas como asma, esclerose múltipla, psoríases, Parkinson’s e Alzeheimer’s, entre outras, estão ligadas ao consumo de tais alimentos.
[2]

Trata-se de uma pandemia de doenças novas, em escala global.  Cêrca de 36% dos americanos são obesos.[3]  O número de pessoas com diabetes do tipo 2, nos EEUU, deve triplicar até 2050.[4]  Conforme dados da ONU, 1 em cada 2 americanos irá contrair cancer durante a vida.[5]  A FAO afirma que, na China, de 2006 a 2015, o governo gastará cêrca de 550 bilhões de dolares com tratamentos de diabetes, doenças cardíacas e enfartes.[6]  Todos os países do mundo estão sendo afetados por tais doenças modernas, que se originam na dieta moderna, baseada em grãos de cereais e sementes de leguminosas.

Tais alimentos básicos deveriam ser substituídos por alimentos integrais e verdadeiramente saudáveis como verduras e hortaliças, carnes, ovos, castanhas, nozes, e frutas.  Entretanto, há cêrca de um século, estamos cada vez mais sendo obrigados a consumir os ‘alimentos’ processados que são promovidos pela mídia comercial e que, enquanto habitantes das cidades, encontramos embalados e convenientemente preparados para o consumo nos supermercados.  Ao mesmo tempo, as formas tradicionais de preparar alimentos, e os costumes alimentares tradicionais, estão desaparecendo...

Nos supermercados, 60% dos alimentos contém soja ou sub-produtos da soja, que são altamente nocivos à saúde – inclusive ‘fórmulas’ para bebês, substitutos do leite e da carne, margarina (substituto da manteiga), óleo, e muitos outros...  O trigo está presente em quase tudo aquilo que consumimos:  pão, bolachas, bolos, macarrão, sobremesas, tortas, empadas, etc., enquanto médicos e nutricionistas afirmam que não precisamos dos carbohidratos (= açúcares) do trigo e de outros grãos para viver.  Em outras palavras:  estamos doentes e subnutridos, pois consumimos poucos tipos de alimentos, inadequados e altamente processados, e em grande quantidade, quando deveriamos consumir uma variedade de alimentos naturais, integrais, e em pequenas quantidades.

Enquanto isso, a indústria farmacêutica – e a quase totalidade da profissão médica – também lucra ao nos vender remédios que tratam apenas dos sintomas das nossas doenças, pois a cura de tais doenças só é possível se mudarmos nossa insalubre ‘dieta moderna’ por uma dieta genuinamente adequada ao consumo humano e, portanto, saudável.

Felizmente, existe um movimento contra a indústria alimentar que está crescendo, principalmente na Europa, onde os abusos dessa indústria estão sendo reconhecidos e divulgados.  O consumo do pão, por exemplo, já está caindo.
[7] 
Nesse movimento esclarecedor, a Internet tem tido um papel relevante.  Certamente, a indústria alimentar já está reagindo contra isso...

Reduzir o consumo de grãos de cerais e sementes de leguminosas, substituindo tais alimentos por outros mais saudáveis, parece ser uma missão impossível.  Entretanto, se uma campanha de esclarecimento for feita para modificar
 costumes enraizados de consumir tais alimentos, substituí-los por outros mais saudáveis é uma tarefa simples pois a produção de verduras, hortaliças e outros alimentos, inclusive carnes, derivados do leite e ovos, nas regiões próximas às cidades, tem sido uma atividade popular há séculos em muitos países, embora em reduzidas quantidades.  Trata-se da tradicional agricultura urbana, isto é, da produção tradicional de alimentos saudáveis e nutritivos, a serem consumidos frescos.  Além de melhorar a qualidade alimentar, a agricultura urbana também cria empregos, barateia o preço dos alimentos pois reduz a necessidade do transporte à distância, e reduz a poluição ambiental.

Ironicamente, Cuba parece fornecer o mais significativo exemplo de agricultura urbana no mundo, hoje.  Por questões de necessidade – em função das sanções econômicas impostas pelos EEUU e das mudanças ocorridas na URSS –, Cuba implementou nos anos de 1990 uma ambiciosa política de agricultura urbana que se tornou um grande sucesso, empregando cêrca de 10% da mão-de-obra ativa e produzindo grandes quantidades de alimentos.  Hoje, Havana produz mais verduras, hortaliças e alimentos frescos do que necessita para seu consumo interno![8]

Enfim, a experiência cubana demonstra que é possível quebrar-se o monopólio da indutria alimentar, e, desta forma, promover-se dietas saudáveis.  Em outros cantos do mundo, governos preocupados com a sa
úde do povo certamente deveriam implementar políticas de agricultura urbana semelhantes à de Cuba.

NOTAS:


[1] Veja:  Pollan, M., In Defense of Food;:  an eater’s manifesto, Penguin, New York, 2008;  Cordain, L., The Paleo Diet: lose weight and get healthy by eating the foods you were designed to eat, John Wiley and Sons, Hoboken, NJ, USA, 2010;  entre outros.
[2] Veja:  Cordain, L., "Cereal grains: humanity's double-edged sword", World Review of Nutrition and Dietetics, vol. 84, 1999, pp. 19-73;  Ottoboni, F. and Ottoboni, M., The Modern Nutritional Diseases and how to prevent them:  heart disease, stroke, type-2 diabetes, obesity, cancer, Vincente Books, Berkeley, CA, USA, 2002;  Taubes, G., Good Calories, Bad Calories:  challenging the conventional wisdom on diet, weight control, and disease, Knopf, New York, 2007;  Daniel, Kaayla T., The Whole Soy Story, New Trends Publishing, Washington, 2007;  Barry Groves, Trick and Treat:  How Healthy Eating is Making Us Ill, London, Hammersmith Press Limited, 2008;  Cordain, L., The Paleo Diet: lose weight and get healthy by eating the foods you were designed to eat, op. cit.;  Challem, J., The Inflammation Syndrome, John Wiley and Sons, Hoboken, NJ, USA, 2010;  Davis, W., Wheat Belly, Rodale, New York, 2011;  Briffa, J., Escape the Diet Trap, Fourth Estate, London, 2012;  entre outros.
[8] Veja:  Koont, Sinan, ‘The Urban Agriculture of Havana’, Monthly Review, 2009, Volume 60, Issue 08 (January).

30 de jun. de 2012

Outros artigos sobre o golpe no Paraguai



Se procurarmos artigos sobre o recente golpe de estado no Paraguai, não vamos achar muitos – com exceção do Correio da Cidadania, que publicou diversos artigos sobre o assunto (veja aqui e aqui), e da Rede Brasil Atual (veja aqui, aqui e aqui).

Por isso, resolvi publicar também esta tradução do artigo escrito por Bill Van Auken, do World Socialist Web Site.
 ___
Presidente do Paraguai deposto em golpe parlamentar
Por Bill Van Auken, World Socialist Web Site: http://www.wsws.org/articles/2012/jun2012/lugo-j25.shtml, 25 de junho de 2012
Governos latino-americanos denunciaram o ultra-rápido impeachment do Presidente do Paraguai Fernando Lugo como tendo sido golpe de Estado parlamentar e ataque a um governo constitucional no continente.
Lugo foi indiciado pela Câmara de Deputados paraguaia e julgado pelo Senado, em um processo absurdo que durou quase 30 horas. A Câmara votou por unanimidade a favor das acusações, enquanto no final da noite de sexta-feira, 22 de junho, o Senado considerou o Presidente culpado por votação de 39 a quatro, significativamente superior à maioria de dois terços necessária nos termos da Constituição paraguaia para derrubar um presidente.
Lugo se juntou uma pequena demonstração nas primeiras horas da manhã de domingo, do lado de fora de uma estação de televisão pública, para denunciar sua cassação como um "golpe de estado contra a cidadania e a democracia."
Imediatamente após a votação do impeachment, milhares de camponeses bloquearam estradas e manifestantes confrontaram a polícia que usou balas de borracha, gás lacrimogêneo e canhões de água na Plaza de Armas de Assunção. O próprio Presidente, no entanto, não ofereceu nenhuma resistência à sua remoção do posto, nem apelou para qualquer resistência popular.
Em vez disso, Lugo declarou sua "submisão" à decisão de cassação, declarando que ele sempre "atuou no âmbito da lei", embora a lei tenha sido "torcida" para removê-lo do cargo. Ele exortou seus partidários a realizar apenas a manifestação "pacífica", e elogiou as forças armadas por suas contribuições para "a consolidação da democracia."
Imediatamente, os comandantes das forças armadas, que tinham mobilizado forças para apoiar o golpe de Estado parlamentar, endossaram o golpe e congregaram-se ao lado de Franco quando ele vestiu a faixa Presidencial.
A principal acusação contra Lugo foi um "fraco desempenho" em relação a um despejo forçado em 15 de junho de camponeses sem-terra que ocupavam terras pertencentes a Blas Riquelme, um rico empresário e fazendeiro, que também foi uma figura de liderança no Partido Colorado, de direita, que, antes da eleição de Lugo, tinha governado o país por seis décadas.
A expulsão de cca de 100 famílias da propriedade em Curuguaty, no Paraguai Oriental, perto da fronteira brasileira, levou a um massacre no qual morreram 11 camponeses e seis policiais. Testemunhas relataram que o banho de sangue começou quando atiradores abriram fogo contra os camponeses quando seus líderes estavam negociando com um comandante de polícia.
O governo de Lugo respondeu enviando o exército à área para impor a ordem. Nove camponeses, um de apenas 15 anos de idade, foram presos e acusados de assassinato.
Enquanto Lugo requereu uma investigação sobre o massacre, oferecendo entregar as provas para a própria polícia-se bem como para o Partido Colorado, ou seja, os responsáveis pelos assassinatos, seus adversários de direita colocaram a proposta de lado, movendo-se para acusar o Presidente em vez disso.
A acusação contra Lugo baseou-se não na sua responsabilidade pelo assassinato de camponeses, mas sim no seu suposto fracasso em usar força suficiente para derrotá-los enquanto empregando retórica populista vazia que despertou expectativas entre as camadas mais oprimidas do país.
Eleito em 2008, o triunfo de Lugo foi relatado geralmente como outro exemplo doa chamada "virada à esquerda" da América Latina. Um ex-bispo católico, que abraçara a teologia da libertação e a identificação da Igreja com os pobres, Lugo ganhou o posto como o candidato da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), uma coalizão apoiada por vários sindicatos e grupos de camponeses e comunitários, mas dominada politicamente pela centro-direita Partido Radical Liberal Autêntico, que forneceu o candidato à vice-presidência de Lugo, Federico Franco.
Várias tendências daquilo que se passa como sendo a "esquerda" paraguaia promoveram a concepção de que a mudança social poderia ser conseguida com uma aliança com as "seções progressivas da burguesia", e o próprio Lugo procurou se apresentar como um homem de "centro", alegando que ele estava criando um caminho entre aqueles de Hugo Chávez da Venezuela e do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.
No impeachment de sexta-feira, realizado apenas nove meses das eleições regulares, os Liberais votaram a favor do golpe de Estado constitucional, catapultando seu homem Franco no palácio presidencial.
Enquanto Lugo tomou posse prometendo realizar a reforma agrária, seu governo havia feito quase nada para alterar a distribuição de terras que é a mais desigual do continente. Cerca de 2 por cento da população, dominada por latifundistas imensamente ricos, controla mais de 77% das terras aráveis do país, enquanto os pequenos agricultores, que compõem 40 por cento da população, possue apenas 5 por cento.
A desigualdade no meio rural foi vastamente aumentada sob a ditadura de 35 anos de Alfredo Stroessner, cujo governo recompensou partidários com grandes extensões de terras expropriadas de camponeses que as tinham cultivado. O crescimento da produção de soja, dominado pelo agronegócio brasileiro, que ocupa uma área substancial do território paraguaio na região da fronteira oriental do país, tem agravado ainda mais essa situação.
Apesar de Lugo não ter efetuado qualquer reforma considerável da terra, nem protegido camponeses e pequenos agricultores da violência rotineiramente usada por grandes proprietários e forças de estado contra eles, a oligarquia reacionária do Paraguai e os seus representantes nos partidos Colorado e Liberal culparam sua eleição de elevar as expectativas da população rural pobre do país, que, em muitos casos, ocupava terra ilegitimamente apropriada pelos ricos e politicamente conectados na vã esperança de que o governo iria intervir em seu favor.
As acusações de impeachment contra Lugo incluíram a declaração: "O constante confronto e luta de classes sociais, que, como resultado final, desncadeou o massacre de compatriotas, é um acontecimento sem precedentes nos anais da história, desde nossa independência até hoje."
Acusações adicionais foram levantadas por Lugo ter permitido uma conferência denominada " Juventude Latino-Americana pela Mudança" a ser realizada em uma base militar e pela sua assinatura em um tratado regional — um documento aparentemente inócuo afirmando respeito pelos princípios democráticos — sem aprovação parlamentar.
A expulsão de Lugo fomentou severos protestos por parte de vários países da América Latina. "Sem dúvida houve um golpe de estado no Paraguai," declarou a presidente Cristina Fernández Kirchner da Argentina. "É inaceitável". A Argentina retirou seu embaixador do país. Denúncias semelhantes foram feitas por Equador, Bolívia, Venezuela, Nicarágua e Cuba. Mesmo o governo de direita no Chile foi compelido a criticar a expulsão de Lugo, com o Ministro dos negócios estrangeiros do país, Alfredo Moreno, afirmando que o impeachment apressado "não cumpriu os requisitos mínimos para este tipo de procedimento."
A reação do governo brasileiro da Presidente Dilma Rousseff estará entre aquelas mais cuidadosamente observadas, dado o controle exercido pelo capital brasileiro sobre grande parte da economia paraguaia. Isso inclui sua propriedade conjunta com o Paraguai da barragem de Itaipu — um dos maiores projetos hidrelétricos do mundo — que atravessa a fronteira entre os dois países.
"O governo brasileiro condena a rápida cassação do Presidente do Paraguai decidida em 22 de junho, em que o direito de se defender não foi devidamente garantido," disse um comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do país. O Brasil apontou que sanções poderiam ser consideradas dentro do bloco de comércio do Mercosul e chamou de volta seu embaixador para consultas, mas não seguiu o exemplo da Argentina em romper as relações diplomáticas. Uma das principais organizações representando os brasileiros no Paraguai, incluindo aqueles controlando terras paraguaias, solicitou de Brasília o reconhecimento de Franco como novo Presidente do país.
Em contraste com as condenações de governos latino-americanos, a administração de Obama emitiu declarações expressando não ter nenhuma opinião direta sobre o golpe de impeachment, mas avisando o povo paraguaio contra a resistência. O Departamento de Estado pediu "a todos os paraguaios para agirem pacificamente, com calma e responsabilidade."
Existem muitas semelhanças entre a expulsão de Lugo no Paraguai e o golpe de Estado realizado apenas há três anos em Honduras contra o Presidente Manuel Zelaya, com apoio de Washington. Em ambos os países, a derrubada foi realizada através de manobras parlamentares, dirigidas por políticos de direita que anteriormente, os dois presidentes tinham abraçado como aliados.
Além disso, em ambos os países, a remoção do Presidente foi realizada com o apoio dos comandos militares com laços profundos com o Pentágono. No Paraguai, estes datam da ditadura de Stroessner, que, através de décadas de assassinatos, tortura e repressão, manteve o apoio das cinco administrações dos EEUU para a força anti-comunista do ditador, vigorosamente declarada.
Mais recentemente, a administração de Obama mais do que duplicou a ajuda dos EEUU para as forças de segurança do país no ano passado, aumentada de 3,90 milhões para $8,20 milhões sob a bandeira da "guerra contra as drogas".
A figura principal do movimento de impeachment contra Lugo foi o senador do Partido Colorado e declarado candidato presidencial Horacio Cartes. Um cabo confidencial do Departamento de Estado dos EEUU, publicado pelo WikiLeaks identificou Cartes e seu Banco Amambay como responsável por "80 por cento da lavagem de capitais no Paraguai" em nome dos traficantes de drogas.

Democratização da mídia


Será que a regulamentação da mídia brasileira vai um dia acontecer?  Veja o que a grande filósofa brasileira Marilena Chauí tem a dizer sobre o assunto, em uma rara entrevista dada ao Vermelho em janeiro de 2011.  Um ano e meio depois, estamos ainda aguardando que algo se faça nessa esfera...
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Regulação da mídia deve partir do Executivo, diz Marilena Chauí

Em entrevista à edição de janeiro da revista Caros Amigos, a filósofa Marilena Chauí afirmou que o governo da nova presidente, Dilma Rousseff, tem condições de avançar na democratização midiática.  “Sem comunicação não há democracia.  Por isso, eu só escrevo sobre a mídia, a mídia, a mídia”, declarou Chauí, que é professora titular da Universidade de São Paulo (USP) e há anos não dá entrevistas para a grande imprensa.

Vermelho, 12 janeiro 2011

Segundo ela, para isso acontecer, uma regulamentação do setor é indispensável.  “É um processo longo, mas em cuja discussão a sociedade inteira tem que participar.  Mas a iniciativa de propor tem que vir do Executivo, porque o Legislativo não terá essa iniciativa”, agregou.

Chauí também opinou que o Brasil está na “hora certa” para fazer a reforma política — que, segundo ela, é a melhor maneira para se mudar o sistema de alianças partidárias, sem o qual não se governa hoje.  “Se você não mudar esse sistema de alianças, a atuação é muito limitada em certas coisas fundamentais, como o caso da reforma agrária.  Agora, tem tudo para fazer, porque, agora, tem os Conselhos Nacionais.  Do ponto de vista institucional, está tudo montado”.

A discussão sobre a ocupação das favelas do Rio de Janeiro e o tráfico também foram destaques na entrevista.  “Se você não legalizar as drogas, você não acaba com o crime organizado.  Se você pegar a lei seca, todo crime que se organizou nos Estados Unidos, em particular em Chicago, está ligado à lei seca.  Quando ela acaba, tudo isso desmorona”, disse a filósofa.

Confira abaixo trechos da entrevista:

Caros Amigos: Em 2006, a senhora ficou profundamente descontente com a postura da mídia durante o período eleitoral, e agora a imprensa teve novamente um comportamento bem complicado.  A gente queria que a senhora começasse falando sobre a sua avaliação da cobertura da mídia nas eleições presidenciais.

Marilena Chauí: Eu diria que não houve cobertura.  Houve a produção midiática da campanha eleitoral e das eleições.  Cobertura significaria mostrar o que efetivamente estava se passando no primeiro turno com todos os candidatos e no segundo turno com os dois candidatos que restaram.  E não foi isso que aconteceu. 

A candidata Dilma não teve em instante nenhum a sua campanha coberta pela mídia.  Ela teve a sua campanha ou ignorada, ou deformada ou criminalizada.  E do lado do candidato Serra, também não houve uma cobertura da campanha dele.  Porque, se tivesse havido uma cobertura da campanha dele, o que a mídia deveria ter mostrado? Essa coisa extraordinária que eu nunca vi acontecer em lugar nenhum de um candidato se autodestruir. 

Primeiro, o vice, ele não conseguiu escolher o vice e depois deu uma escolha que não foi feita por ele e insignificante.  Em seguida, ele começa a campanha descendo a lenha no governo Lula, o qual, entretanto, numa pesquisa de opinião, tinha tido quase 90% de ótimo e bom, e, provavelmente, as pessoas que acompanhavam o programa do Serra, aquelas que opinam, devem ter dito que não era uma boa, aí ele passou a dizer que ia fazer o que o Lula estava fazendo, mas melhor.  Aí, quando ele começou a explicar o que era melhor, começou a fazer propostas completamente alucinadas, foi uma alucinação que ele propôs. 

Bom, mas quando nós chegamos nesse ponto, você tem a entrada em cena do segundo turno.  Ora, na hora que entra em cena o segundo turno, o que é que vem como uma avalanche? O famoso dossiê.  O dossiê que foi atribuído ao PT, disseram que a Dilma tinha mandado fazer, que foi o famoso dossiê que o Aécio fez.  Foi o dossiê que invadiu todos os planos da vida do Serra, e mais, atingiu diretamente a filha dele, que eles tinham dito que o PT que tinha violado a menina, a Verônica.  Foi uma completa produção do Aécio, em Minas. 

Ora, isto que destruiria qualquer candidatura em qualquer tempo e lugar, o servilismo da mídia foi tal, que isto, ou não apareceu, ou apareceu em pequenas notícias e de uma maneira tão confusa que ninguém sabia do que se tratava.  E, depois, quando entrou em cena o aborto, em primeiro lugar a mídia nunca disse que quem introduziu o tema do aborto foi a Marina, que fez um discurso conservador dos evangélicos para os evangélicos, introduziu os temas religiosos e o tema do aborto.  Como ela não entra no segundo turno, o Serra se apropria desse tema. 

Ora, uma imprensa que está defendendo a liberdade de expressão, que está defendendo o espaço público, que está defendendo a opinião pública, está defendendo a liberdade de pensamento, como é que ela pode embarcar na entrada em cena como tema eleitoral de uma questão que pertence ao espaço privado, e é uma questão de religião, que é o aborto? A plena cobertura que foi dada a isso, contradizendo o próprio significado daquilo que a imprensa deveria de entender por coisa pública, espaço público, opinião pública e liberdade de pensamento e de expressão!

Bom, então, depois, no caso da Dilma, é mais interessante do que a não cobertura da campanha do Serra, porque no caso da Dilma, tentou-se primeiro a guerrilheira — “É a guerrilheira, a guerrilheira...”.  E eu tinha dito a uns amigos, este é um caminho perigoso.  É um caminho perigoso, porque, em termos de história pessoal, é muito paralela à história do próprio Serra. 

Se você pega o comício dos cem mil, no Rio [de Janeiro], em 1961, o discurso mais radical do comício não foi o do Jango, não foi o do Brizola, não foi o do Julião, foi o do Serra como presidente da UNE.  Ele fez o discurso afirmando...  o núcleo do discurso do Serra em 1961 foi revolução armada.  Então, eu dizia [é] um perigo, porque se eles enveredarem pela figura da Dilma guerrilheira, eles vão ter que dizer que o Serra pregou em 1961 para cem mil brasileiros a revolução armada.

Caros Amigos: A senhora acha que foi diferente essa cobertura da cobertura de 2006 e da cobertura de 1989? O que há de diferente?

Marilena Chauí: Eu acho que a diferença não é de natureza, a diferença é de grau.  Eu diria que, desta vez, tudo aquilo que se realizou num grau um pouco menor, um pouco mais prudente, desta vez, o véu caiu de uma vez só e atingiu o grau máximo de procedimento.  Então, eu diria, não é diferente se eu considerar o modo de proceder, mas é diferente se eu considerar o grau em que isto foi feito.

Caros Amigos: Você levantou alguns elementos que usaram para difamar a campanha dela.  E aí você colocou que um, que durou inclusive até o final, foi que parecia que ela estava à sombra do Lula o tempo inteiro.  Você acha que qualquer candidato teria isso ou você acha que foi por ela ser mulher?

Marilena Chauí: Ah, qualquer candidato teria.  Teria sido isso pelo seguinte: porque a gente não tem analisado muito o que aconteceu com a figura do Lula, já quase no final do segundo turno.  Quando se percebeu que a possibilidade de vitória da Dilma era grande, e havia as pesquisas de opinião sobre o governo e sobre o próprio Lula, a mídia, e quem começou isso foi a própria Globo com uma clareza...  Ela começou a produzir a figura mítica do Lula.  E é através da mitificação da figura do Lula que se vai, agora, falar da Dilma. 

Então, eu diria que é preciso fazer operar juntos o tratamento dado à Dilma com a mudança no tratamento dado ao Lula: “Isso é o Lula, isso é o mito do Lula, ela não vai poder, porque isso é o Lula que é capaz.” Isso é o analfabeto beberrão.  Durante oito anos era o analfabeto beberrão, que agora é o mito político inigualável que ninguém é capaz de alcançar.  Mas, ao lado disso, você tem o quê?

Durante oito anos, nós tivemos que aguentar que era um problema o Lula aparecer nos lugares os mais diferentes e improvisar.  Tinha mania de improvisar os discursos e aí dizia muita bobagem.  Quanta bobagem ele disse por causa de improvisar.  Então, Dilma ganha e vai à televisão, leva um discurso e lê.  O que você vê nos comentadores da televisão, nos comentadores do rádio e no dia seguinte nos jornais? “Ah, não tem a capacidade de improviso do Lula, ela precisa ler, coitada, tudo dela é preparado...  Você vê, ela teve que vir preparada, ela não é capaz de improvisar.”

Eu tinha vontade de atravessar os fios eletrônicos e bater nas pessoas, porque chegou num grau de perversidade, num sentido psicanalítico do termo.  No nível do discurso, não dá mais, porque quando você vira na direção da perversão, a primeira característica da perversão é a de que ela é impermeável ao discurso.  O grande problema da terapia psicanalítica, na hora em que ela é impermeável ao discurso, porque a psicanálise opera no nível da linguagem.  E você tem um evento que está ou aquém ou além do discurso.

Então, a perversidade e a perversão dos comentários sobre o fato de ela ter o discurso escrito foi tal que eu falei: Já temos aqui o que serão os próximos quatro anos.  Os próximos quatro anos vão ser um inferno como foram os oito do Lula, e sobretudo os quatro primeiro anos do Lula.  Vai ser um inferno e não tem jeito.

Caros Amigos: Como é que a senhora explica que o PT tenha ido mais para a direita, ele fez alianças com partidos de direita, com o Sarney, com Maluf, com Renan Calheiros, com Jader Barbalho?

Marilena Chauí: Não, eu acho que é uma coisa interessantíssima que é...  E isso é um elemento curioso da origem sindical do Lula e dos seus próximos.  E que foi muito criticada: “Sindicalista nunca é radical, sindicalista gosta de negociar, é um negociador, faz concessão...” É verdade.  A peculiaridade, entretanto, do sindicalista negociador é que ele negocia com duas características: ele negocia, mas deixa uma ponta sem negociar para a ação seguinte que ele vai realizar.  Ele não negocia por completo — ele deixa outra por negociar para exigir mais. 

O segundo traço: ele não negocia sem o aval da classe.  Bom, então, vamos pegar o governo de um sindicalista.  A primeira coisa é: fez todas essas alianças.  Por quê? Desde 2005, desde a maldição do mensalão (eu não aguento mais bater nessa tecla), já falei muito isto: se você não fizer uma reforma política, se você não mudar o sistema político-partidário do Brasil, essas alianças permanecerão para sempre, porque o sistema partidário está montado de tal maneira que quem tem a maioria no poder executivo nunca terá a maioria no poder legislativo.

Caros Amigos: Por quê?

Marilena Chauí: Por causa do sistema da representação.  Você tem superrepresentação, e você tem a sub-representação.  Você tem a proliferação de siglas de aluguel, você tem a desigualdade regional.  E uma série de outros pequenos mecanismos no interior do sistema partidário.  Eu não me conformo, porque foi um sistema deixado pelo Golbery [do Couto e Silva], quando percebeu que a Arena corria o risco de perder para o PMDB. 

Ele deixou um sistema que, primeiro, fazia algum sentido ao bipartidarismo, mas que não faz nenhum sentido no pluripartidarismo.  E que, além disso, tem uma série de traços deixados pela ditadura que tornam inviável você operar, efetivamente, com a representação que tem um alicerce no seu respectivo partido.  Isso pegou todos os presidentes da República: Tancredo, Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula.  Eu diria que é um elemento de distorção institucional e de freio na democracia, sem falar nas práticas republicanas que são postas em jogo. 

Porque o núcleo da democracia que o Executivo e o Legislativo negociam - eu faço x e você faz y - é constitutivo de uma democracia que haja essa negociação contínua.  Mas, no nosso caso, você vai da negociação para a negociata, porque o sistema é tal que há um hiato entre o Executivo e o Legislativo.  Tem que fazer a reforma política.  Eu estou muito contente, porque eu estou ouvindo a Dilma dizer que vai fazer. 

Vamos examinar as realizações do governo Lula e ver se o sistema político que forçou essas alianças impediu as coisas essenciais do governo Lula.  Não impediu.  Você tem 18 milhões que saíram da linha da miséria, 32 milhões que saíram da linha da pobreza, 40 milhões de empregos novos com elevação salarial.  Você tem 73 Conferências Nacionais com 70 mil pessoas participando para decidir sobre todos...

Caros Amigos: Mas, no caso da Comunicação, as 672 propostas não saíram do papel até agora...

Marilena Chauí: Nós vamos chegar lá, nós vamos chegar lá, espera um pouquinho.  Você pega o modo como a economia foi concebida, de demanda interna, de crescimento interno, de impedir o processo de desindustrialização que tinha sido iniciado, de controlar o poder financeiro e de investir pesadamente no conjunto das políticas sociais que produzem a inclusão econômica...

Da Redação, com informações da Caros Amigos

29 de jun. de 2012

O golpe no Paraguai


Infelizmente, mais um golpe contra a democracia aconteceu na América Latina - desta vez no Paraguai...  Veja abaixo o que o analista politico Nil Nikandrov, escrevendo para a Voltaire Network, tem a dizer sobre isso:


O golpe cuidadosamente planejado no Paraguai

por Nil Nikandrov
Sob a vigia de Obama, Fernando Lugo é o segundo presidente da esquerda latino-americana a ser deposto do cargo em um cenário orquestrado por seus adversários políticos e amigos muito próximos dos EEUU.  Nil Nikandrov prevê que este padrão de golpes de estado constitucionais "suaves" contra líderes desafiantes – testado com sucesso pelos EEUU em Honduras e, agora, no Paraguai – será amplamente replicado em outros países nos próximos anos. A interferência insidiosa nos assuntos internos da região pelo tio Sam não vai ser relegada logo para a pilha de cinzas da história.

Voltaire Network  | 28 junho 2012

O Presidente Fernando Lugo disse, na sexta-feira, 15 de junho, que ele aceita a decisão do Senado paraguaio de derrubá-lo depois de um processo de cassação super-rápido, em que a lei foi "torcida como um frágil galho ao vento." Não é Fernando Lugo, mas "a Democracia paraguaia que foi profundamente ferida".

A operação lançada pelo Departamento de Estado dos EUA e a CIA com o objetivo de deslocar o primeiro Presidente esquerdista do Paraguai, Fernando Lugo, entrou em sua fase final no dia 16 de junho, quando as forças policiais foram enviadas para expulsar os posseiros da fazenda Morumbí, no distrito de Curuguaty, perto da fronteira com o Brasil. Essa propriedade é conhecida por pertencer ao empresário paraguaio e político Blas Riquelme. Ao chegar ao local, a polícia inesperadamente se viu sob um tiroteio profissional com rifles de calibre alto o suficiente para perfurar cinturões à prova de balas. O chefe de uma unidade de polícia de operações especiais (GEO) e seu vice foram mortos a tiros, e a polícia, para a qual instruções haviam sido emitidas para evitar o uso da força, foi deixada sem outra escolha mas retornar o fogo. Como resultado, onze civis foram derrubados e dezenas feridos.
O incidente sangrento em Curuguaty imediatamente obteve resposta do poder legislativo paraguaio, com os deputados e senadores, principalmente os representantes dos partidos da direita-centrista, afirmando que o Presidente Lugo havia perdido seu domínio sobre a situação sendo incapaz de governar o país. Mesmo o Partido Liberal, que confirmou a candidatura de Lugo nas eleições de 2008, distanciou-se do seu antigo protegido. Em geral, Lugo enfrentou um impeachment que ele descreveu como "golpe expresso" do Parlamento.
Os conselheiros legais de Lugo praticamente não tiveram tempo para preparar sua defesa frente ao Parlamento, mas, na verdade, ficou claro que os críticos do Presidente não tinham intenção de mergulhar em detalhes e que o veredito do Senado foi uma conclusão previamente tomada. Toda a operação que levou ao deslocamento de Lugo foi cuidadosamente planejada a fim de descartar um inquérito parlamentar imparcial e foi implementada como uma pressão ofensiva. Sem dúvida, parte da motivação por trás dessa pressa foi depor Lugo antes que os parceiros do Paraguai na UNASUL pudessem se organizar para consultas e decidir sobre um conjunto de medidas em seu apoio.
A vitória deve ter sido fácil para os coordenadores do enredo na Embaixada dos EUA em Assunção. É verdade que a Presidência de Lugo era um tanto quanto nominal desde que o Parlamento, a polícia e o exército no Paraguai estavam do lado da oposição. Tendo prosperado sob financiamento da USAID durante décadas, um grupo de ONGs estava preparado para organizar protestos em massa se o plano anti-Lugo falhasse, mas não foi preciso e – com excessão do número de mortes em Curuguaty – a derrubada do presidente legítimo no Paraguai merece ser enumerada como um caso exemplar no registro da comunidade de inteligência dos EEUU.
Uma equipe de emissários da UNASUL, chefiada pelo Secretário Geral da organização, venezuelano Alí Rodríguez Araque, visitou o Paraguai, reuniu-se com Lugo e com uma delegação parlamentar e testemunhou o procedimento de impeachment, mas foi incapaz de redirecionar os desenvolvimentos. Os senadores paraguaios mostraram pouca consideração para com os visitantes, para não dizer que foram abertamente hostis. Lugo, deve ser observado, mostrou uma total falta de vontade para enfrentar o desafio – ao contrário de sua promessa inicial para se defender nas audições parlamentares, ele simplesmente as assistiu na TV de sua residência. Citando seu compromisso com a lei, o Presidente sendo ejetado irregularmente aceitou a decisão de cassação (à qual apenas quatro senadores disseram Não). A inação de Lugo pode ser atribuída em grande parte ao fato de ele não ter nenhuma influência sob as circunstâncias: ao longo dos três anos da sua Presidência, ele não conseguiu construir uma base de apoio popular e, mesmo quando a pressão aumentou, não teve nenhuma facção própria ou um movimento populista para apoiá-lo. Protestos de rua demonstrando suporte para Lugo irromperam incoerentemente no dia do impeachment mas foram dispersados pela polícia que usou máquinas de água, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a multidão.

Federico Franco imediatamente empossado como Presidente.

Horacio Cortes, favorito dos EEUU nas eleições de 2013.

O vice-Presidente paraguaio Federico Franco, que foi empossado sem demora assim que Lugo foi deposto, ocupará o cargo até que o mandato do presidente deposto se expire em agosto de 2013. As eleições ocorrerão no mesmo mês, e Washington abertamente favorece o líder do Partido Colorado Horacio Cartes, um empresário que, de acordo com a ABC Color, a DEA (Drug Enforcement Administration) dos EEUU por algum tempo suspeitou de lavagem de dinheiro e de cumplicidade com os cartéis de droga. A torção na reputação de Cartes é revelada em alguns dos cabos expostos pelo WikiLeaks, e as chances são de que as agências dos EUA montaram tal arsenal de relatórios implicando Cartes que Washington não teria nenhuma dificuldade em mantê-lo – como a alguns presidentes latino-americanos – sob estreito controle.
Enquanto o mandato inacabado de Lugo foi marcado pela tendência lenta do Paraguai em direção a regimes populistas na América Latina, o golpe da direita-conservadora promete que o país se submitirá totalmente aos ditames dos EEUU. A agenda no horizonte provável inclui esforços para desestabilizar a UNASUL, formando, no seio da Aliança, um bloco de dissidentes para equilibrar as influências do Brasil, da Venezuela e do Equador. Pode-se presumir também que um novo sopro de vida vai ser dado ao outro projeto de Washington – uma aliança de algum tipo novo entre Chile, Peru, Colômbia e México – para enfraquecer o Brasil internacionalmente.
O Secretário Geral da UNASUL, Alí Rodríguez Araque, disse que a demissão de Lugo foi inconstitucional e foi equivalente a um golpe disfarçado, e salientou ainda que muitos dos governos latino-americanos iriam negar reconhecimento a Franco. Presidente Dilma Roussef citou as cartas da UNASUL e MERCOSUL para sugerir a expulsão do Paraguai desses grupos devido à violação das normas democráticas. Cristina Kirchner da Argentina também opinou que sanções contra o Paraguai seriam apropriadas. Ela descreveu a evolução no país como um golpe e mencionou no contexto as tentativas de golpe de estado contra R. Correa e Evo Morales, e o golpe que depôs M. Zelaya em Honduras. A líder argentina declarou firmemente que tais fenômenos não democráticos são inaceitáveis para a região e que medidas seriam tomadas em consonância com as decisões a serem tomadas pelo MERCOSUL. O Presidente equatoriano R. Correa expressou apoio à chamada de D. Roussef para colocar a funcionar as disposições da carta da UNASUL que garantem diversas formas de pressão – não-reconhecimento dos governos correspondentes, exclusão dos países culpados de conduta anti-democrática da Aliança e o fechamento de fronteiras – como punição para os golpistas. Hugo Chávez da Venezuela e Daniel Ortega da Nicarágua contribuiram com declarações semelhantes sobre o assunto.
Perspectivas de uma investigação séria sobre o tiroteio no Paraguai são sombrias. O derramamento de sangue ajudou os adversários de F. Lugo dando credibilidade à sua lista de queixas, enquanto a maioria dos observadores da América Latina reconhece paralelos entre o recente drama paraguaio e o tiroteio na ponte Llaguno em Caracas em abril de 2002. Neste último caso, atiradores dispararam aleatoriamente em manifestantes contra-Chavez, em partidários de Chávez, e em quem quer que estivesse passando. O incidente foi atribuído às forças sob o comando de Chávez, mas circunstâncias curiosas surgiram mais tarde: por exemplo, um correspondente da CNN conseguiu gravar uma entrevista com os oficiais do exército que se opunham a Chavez os quais, como verificou-se, estavam cientes do ataque planejado de atiradores e das mortes iminentes.

Blas Riquelme, proprietário da terra onde confrontos armados provavelmente encenados ocorreram em 15 de junho, envolvendo forças policiais, atiradores de elite e "campesinos" sem-terra, deixando 17 pessoas mortas.

Várias versões do tiroteio de Curuguaty são encontradas na web. Uma possível explicação é a de que a responsabilidade recai sobre Blas Riquelme, que teria contratado os atiradores através de suas conexões com o exército; mas, no entanto, ainda não está claro por que os atiradores dispararam contra a polícia. Uma versão alternativa é que o episódio teria sido uma provocação encenada pelo Exército do Povo Paraguaio, um grupo clandestino supostamente forjado pela polícia para combater extremistas. Esta origem hipotética pode ser a razão por que tal exército sobrevive apesar do intenso trabalho realizado no Paraguai por especialistas em anti-terrorismo convidados dos Estados Unidos e Colômbia.
Alvarado Godoy escreveu no site intitulado Descubriendo Verdades (Descobrindo Verdades) que o episódio inteiro havia sido "montado", essencialmente um show seguindo um determinado modelo. Ele alega ter informações de que a operação envolveu comandos da marinha dos EEUU que estiveram no Paraguai para treinar soldados do país (Fusna). O enredo não soa exótico considerando quão frequentemente cidadãos americanos são apanhados com rifles atiradores por toda a América Latina, como recentemente na Argentina e na Bolívia. A CIA, a DEA e a Agência de Inteligência de Defesa dos EEUU rotineiramente contratam empreiteiros para executar operações secretas com uso de armas de fogo.
A simples previsão é que o padrão testado com sucesso pelos Estados Unidos em Honduras e no Paraguai – o deslocamento pseudo-constitutional de líderes desafiadores – será amplamente replicado na América Latina nos próximos anos. Ainda, Washington seria ingênuo em acreditar que a violência associada a essa estratégia pode ser contida. Em Honduras, o governo fantoche de P. Lobo se agarra ao poder ao custo de uma campanha de terror que já tomou centenas de vidas de políticos progressistas, jornalistas, ativistas sindicalistas, estudantes e líderes indígenas, e isto quase certamente é o que o futuro reserva para o Paraguai.