7 de jul. de 2016

A imprensa e a redação



Marisa Choguill, 7 de julho de 2016

O cerne da
imprensa é o conjunto das notícias que divulgam – isto é, os noticiários.

O que é imprensa?

Imprensa
é a designação coletiva dos veículos de comunicação que exercem o jornalismo e outras funções de comunicação informativa.  Inclui jornais e revistas escritos, bem como os telejornais e a radiodifusão de notícias.

O que é notícia?

No âmbito da imprensa, notícia é a descrição resumida de um acontecimento, fato ou assunto.  Sendo um resumo, a notícia não pode conter muitas palavras – ela deve comunicar o acontecimento, e não traçar argumentos sobre eleNotícia é informação sobre os acontecimentos, que podem ser políticos, econômicos, esportivos, comerciais, militares, recreativos, etc., nos âmbitos local nacional, ou internacional.  Através das notícias, nos mantemos informados sobre os acontecimentos e nos posicionamos em relação a eles.

Estrutura e composição da notícia

Ao descrever sucintamente um acontecimento, fato ou assunto, as notícias se amoldam à seguinte estrutura:
1. Descrevem o
acontecimento em poucas palavras
2. Dizem
onde ocorreu
3. Dizem
quando ocorreu
4. Descrevem brevemente as eventos que deram
origem ao acontecimento
5. Indicam as possíveis
consequências.

Quanto à composição, a notícia apresenta duas partes:  manchete e texto.

Manchete:  resumo da notícia em poucas linhas – as palavras devem ser tais que atraiam leitores ou telespectadores.

Texto:  descrição resumida dos detalhes do acontecimento em questão.

Redação

A imprensa tem sempre redatores responsáveis pelas suas comunicações.

Os redatores são encarregados de avaliar os fatos, selecioná-los, e redigir notícias sobre eles.  A redação refere-se, assim, à definição e organização das citaçõesA
redação expõe a perspectiva do jornal quanto aos acontecimentos ao selecionar / omitir informação e, em certos casos, ao preparar textos que influenciam o leitor a aceitar determinados pontos de vista.


NOTA:  Jornais televisivos ou radiodifundidos têm ainda locutores, sonoplastas, e outros.  Os locutores são meramente os apresentadores das notícias;  os sonoplastas são os que dirigem o fundo musical, como por exemplo a música de abertura do jornal.

4 de jul. de 2016

Política externa britânica depois do Brexit



Este novo artigo de Thierry Meyssan aprofunda um pouco mais sua análise das consequências do Brexit para o Reino Unido.  Outra vez, o autor apresenta uma análise surpreendente.  Sua experiência enquanto analista de relações internacionais e militante inspira credibilidade e confiança na seriedade de seu trabalho.  Vale a pena ler e refletir.

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A nova política externa britânica

A imprensa ocidental continua a repetir a mesma mensagem – deixando a União Europeia, os britânicos se isolam do resto do mundo e terão que lidar com terríveis consequências econômicas. Entretanto, a queda da libra poderia ser uma vantagem dentro da Comunidade das Nações  (Commonwealth of Nations), que é uma família muito maior do que a União Europeia e está presente em todos os seis continentes. Famosa por seu pragmatismo, a City pode rapidamente tornar-se o centro internacional para o yuan e implantar a moeda chinesa no coração da União Europeia.

Thierry Meyssan, Rede Voltaire | Damasco (Síria) | 4 de julho de 2016


Elizabeth II, rainha da Reino Unido de Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Antigua e Barbuda, Austrália, Bahamas, Barbados, Belize, Canadá, Granada, Ilhas Salomão, Jamaica, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e Tuvalu.

Os Estados Unidos permanecem incertos da sua capacidade de convencer a União Europeia a participar ativamente na OTAN e da vontade do Reino Unido para prosseguir com a aliança militar que eles vêm construindo juntos desde 1941, com a finalidade de dominar o mundo. Porque, apesar das alegações dos líderes europeus, o Brexit não isola o Reino Unido, mas lhe permitir voltar-se para a Comunidade das Nações e criar vínculos com a China e a Rússia.

Forçando os europeus para a OTAN

Os Estados Unidos e o Reino Unido tinham planejado forçar os membros da União Europeia a anunciar o aumento de seu orçamento militar para 2% do seu PIB, durante a cúpula da aliança em Varsóvia  (8 e 9 de julho). Além disso, havia planos para a adoção de uma estratégia para a implantação de forças militares na fronteira russa, incluindo a criação da unidade logística comum OTAN-UE que permitiria o uso coletivo de helicópteros, navios, aviões e satélites.

Até agora, o Reino Unido foi o colaborador mais importante da União Europeia em matéria de defesa, fornecendo cerca de 15% do orçamento de defesa da UE. Além disso, foi responsável pela operação Atalanta para a proteção de transportes marítimos ao largo da costa do Chifre da África, e tinha disponibilizado seus navios no Mediterrâneo. E, finalmente, havia sido planejado que o Reino Unido iria fornecer tropas para a constituição de grupos de combate da UE. Com o Brexit, todos estes compromissos agora são nulos.

Para Washington, a questão agora é se Londres vai ou não vai aceitar aumentar seu investimento direto na OTAN, do qual já é o segundo mais importante colaborador, para compensar a parte que desempenhou na UE – mas sem ganhar nenhuma vantagem particular ao fazê-lo. Embora Michael Fallon, o atual Ministro da Defesa britânico, tenha se comprometido a não debilitar os esforços comuns da OTAN e da UE, ninguém pode ver a razão por que Londres concordaria em colocar novas tropas sob o comando de estrangeiros.

Como resultado, e acima de tudo, Washington está a questionar a vontade de Londres para prosseguir com a aliança militar que tem estado a construir com a Coroa  (Crown) desde 1941. Claro, não devemos excluir a possibilidade de que o Brexit pode ser um truque britânico, capacitando-os a renegociar a sua «relação especial» com «os americanos» para sua vantagem. No entanto, é muito mais provável que Londres pretenda ampliar suas relações com Beijing e Moscou sem necessariamente renunciar às vantagens da sua entente com Washington 
[entente:  acordo que visa a colaboração ou desanuviamento de relações entre países;  aliança política ou militar; nt].

As agências secretas anglo-saxônicas

Durante a Segunda Guerra Mundial, e mesmo antes de eles entraram na guerra, os Estados Unidos fizeram um pacto com o Reino Unido que foi claramente disposto conforme as especificações da Carta do Atlântico [1]. Esse pacto defendia que os dois países se unissem para garantir a liberdade de circulação marítima e a extensão do comércio livre.

Essa aliança foi implementada pelo acordo «Cinco Olhos», que atualmente serve como base para a cooperação entre 17 agências de inteligência de 5 diferentes Estados  (Estados Unidos e Reino Unido, bem como três outros membros da Comunidade das Nações – Austrália, Canadá e Nova Zelândia).

Os documentos revelados por Edward Snowden atestam que a rede Echelon na sua forma atual constitui-se numa «agência supranacional de inteligência, independente das leis de seus próprios Estados-Membros». Assim sendo, «Cinco Olhos» tem sido capaz de espionar personalidades como o Secretário-Geral das Nações Unidas e a Chanceler alemã, e, ao mesmo tempo, realizar uma fiscalização em massa em seus próprios cidadãos.

De forma idêntica, em 1948, os Estados Unidos e o Reino Unido fundaram uma segunda agência supranacional, o Escritório de Projetos Especiais, que comandou as redes de “agir-por-trás”  ("stay-behind") da ONU, hoje conhecidas pelo nome Gládio.

A Professora Daniele Ganser demonstrou que essa agência tem organizado uma série de golpes de estado e operações terroristas na Europa [2]. Se no início pensávamos que a «estratégia de tensão» havia sido destinada para impedir a ascensão ao poder de governos comunistas na Europa por meios democráticos, logo ficou claro que o objetivo principalmente era alimentar a fobia do comunismo e assim justificar o protecionismo militar anglo-saxônico. Documentos recentemente desclassificados têm revelado que esse mecanismo existe fora da Europa e opera no mundo árabe [3].

Finalmente, em 1982, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália criaram uma terceira agência supranacional, cuja pseudo-ONG – a Doação Nacional para a Democracia  (National Endowment for Democracy) e suas quatro filiais:  ACILS, CIPE, NDI e IRI – forma a parte visível [4]. É especializada na organização de golpes de estado camuflados como «revoluções».

Apesar de existir uma quantidade impressionante de literatura sobre esses três programas, nós não sabemos absolutamente nada sobre as agências supranacionais que os controlam.

A «relação especial»

Os Estados Unidos, que proclamaram sua independência, separando-se da Coroa, só se reconciliou com o Reino Unido no final do século XIX  (a Grande Reconciliação  (the Great Rapprochement). Os dois Estados aliaram-se para a Guerra Espanhola em Cuba, e depois para a exploração dos seus postos de comércio coloniais na China – quando Washington descobriu sua vocação imperialista. Em 1902, um clube transatlântico foi formado para afirmar sua redescoberta amizade:  a Sociedade dos Peregrinos. Ela é tradicionalmente presidida pela monarca inglesa.

A reconciliação foi selada em 1917 com o projeto comum para a criação de um Estado judeu na Palestina [5], e os Estados Unidos entraram na guerra ao lado do Reino Unido. Desde então, os dois Estados têm compartilhado diversos procedimentos militares, incluindo, mais tarde, a bomba atômica. No entanto, quando a Comunidade das Nações foi criada, Washington recusou-se a fazer parte dela, considerando-se igual a Londres.

Apesar de alguns desentendimentos durante os ataques britânicos no Egito  (Canal de Suez), ou contra a Argentina  (a Guerra das «Falklands»)  (a Guerra das Malvinas), ou novamente durante os ataques dos EUA a Granada, as duas potências sempre ofereceram forte apoio uma à outra.

A Coroa financiou o início da campanha eleitoral de Barack Obama em 2008, fazendo generosas contribuições através do traficante de armas iraquiano-britânico Nadhmi Auchi. Durante seu primeiro mandato, um grande número de colaboradores diretos do novo Presidente foram secretamente membros da Sociedade dos Peregrinos, dos quais a seção dos EUA foi então presidida por Timothy Geithner. Mas, o Presidente Obama progressivamente se afastou do grupo, dando a impressão à Coroa de que não estava valendo a pena. As coisas pioraram com as palavras afiadas publicadas em The Atlantic contra David Cameron [6].  A visita do casal Obama à Rainha Elizabeth II em seu aniversário pouco fez para curar as feridas.

A Comunidade das Nações  (The Commonwealth)

Ao desligar-se da União Europeia e afastar-se dos Estados Unidos, o Reino Unido não se isolou de forma alguma pois pode voltar a usar seu maior trunfo:  a Comunidade das Nações.

Tem sido completamente ignorado o fato de que, em 1936, Winston Churchill lançou a ideia de incorporar os presente Estados da União Europeia à Comunidade. Sua proposta foi prejudicada pela ascensão do perigo e da guerra mundial. Foi somente após a vitória dos aliados que o mesmo Churchill lançou a ideia dos «Estados Unidos da Europa» [7] e convocou a Conferência do Movimento Europeu em Haia [8].

A Comunidade é uma organização de 53 Estados-Membros cuja única política é fundada nos valores ingleses básicos – igualdade racial, estado de direito, direitos humanos sobre o «Interesse Nacional». No entanto, sugere que seus membros desenvolvam habilidades de negócios e esportes. Além disso, compartilha seus peritos em todos os setores.

A Rainha Elizabeth II, que é a soberana de 16 dos Estados-Membros, é a Chefe da Comunidade das Nações  (uma posição que é escolhida pelos membros ao invés de ser um título hereditário).

O que os britânicos querem?

Do ponto de vista de Londres, foram os Estados Unidos que violaram a «relação especial», por ceder à imoderação  (arrogância) de um mundo unipolar e conduzir suas políticas externa e financeira por si mesmos – e isto quando eles não são mais a principal potência econômica do mundo nem o principal poder militar convencional.

A partir daqui, é do interesse do Reino Unido deixar de colocar «todos seus ovos numa só cesta» – para conservar os instrumentos comuns que compartilha com Washington enquanto depende da Comunidade e tece novas relações com Beijing e Moscou, diretamente ou através da Organização de Cooperação de Xangai  (OCX).

Notadamente, no dia da Brexit, a OCX aceitou a adesão de dois membros da Comunidade, a Índia e o Paquistão, embora nunca tenha incluído Estados da Comunidade antes [9].

Enquanto não sabemos nada dos contatos que o Reino Unido deve já ter feito com a Rússia, notamos sua aproximação com a China.

Em março passado, a Bolsa de Londres, que gerencia as trocas da City e de Milão, revelou seu projeto de fusão com a Bolsa Alemã  (
Deutsche Börse), que administra a Bolsa de Frankfurt  (Frankfurt Stock Exchange), a câmara de compensação  (clearing houses) Clearstream e o Grupo Eurex  [10].  Conforme planejado, as duas empresas deveriam decidir sobre a operação logo após o referendo de Brexit. Este anúncio é surpreendente visto que a regulamentação Europeia proíbe formalmente tal operação, que é o equivalente à criação de uma «posição dominante». Portanto, supõe-se por tal decisão que as duas empresas estavam antecipando a saída do Reino Unido da União Europeia.

Além disso, a Bolsa de Londres anunciou um acordo com o Sistema de Câmbio Monetário Internacional da China  (China Foreign Exchange Trade Sistema – CFETS) e, em junho, tornou-se a principal bolsa de valores do mundo a avaliar as obrigações do tesouro chinês. Todos os elementos estavam presentes para transformar a City no Cavalo de Tróia chinês na União Europeia, em detrimento da supremacia dos Estados Unidos.


Thierry Meyssan


Translation:  Pete Kimberley

NOTES:


[1] “The Atlantic Charter”, by Franklin Delano Roosevelt, Winston Churchill, Voltaire Network, 14 August 1941.

[2] Nato’s Secret Armies: Operation Gladio and Terrorism in Western Europe, Daniele Ganser, Cass, London, 2004.

[3] America’s Great Game: The CIA’s Secret Arabists and the Shaping of the Modern Middle East, Hugh Wilford, Basic Books, 2013.

[4] “The networks of "democratic" interference”, by Thierry Meyssan, Voltaire Network, 22 January 2004; « Национальный фонд демократии — игровая площадка ЦРУ] », Тьерри Мейсан, Однако (Российская Федерация) , Сеть Вольтер, 6 октября 2010.

[5] “Who is the Enemy?”, by Thierry Meyssan, Translation Roger Lagassé, Voltaire Network, 4 August 2014.

[6] “The Obama Doctrine”, by Jeffrey Goldberg, The Atlantic (USA) , Voltaire Network, 10 March 2016.

[7] “Winston Churchill speaking in Zurich on the United States of Europe”, by Winston Churchill, Voltaire Network, 19 September 1946.

[8] « Histoire secrète de l’Union européenne », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 28 juin 2004.

[9] “Brexit coincides with India’s and Pakistan’s entry into the SCO”, by Alfredo Jalife-Rahme, Translation Anoosha Boralessa, La Jornada (Mexico) , Voltaire Network, 2 July 2016.

[10] Câmara de compensação: mecanismo de processamento central por meio do qual as instituições financeiras acordam trocar instruções de pagamento ou outras obrigações financeiras; a Clearstream é uma organização da Bolsa Alemã que oferece serviços para transações domésticas e transfronteiras de capitais, fundos de investimentos e títulos do tesouro (bonds); parte do Grupo Eurex, a Eurex Intercambios (Eurex Exchange) é o mais importante mercado de derivativos da Europa e o terceiro do mundo. Algumas definições importantes:  a palavra mercado refere-se tradicionalmente ao local no qual agentes econômicos procedem à troca de bens por uma unidade monetária ou por outros bens; no mercado financeiro as pessoas negociam com dinheiro.

Thierry Meyssan:  Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Eixo pela Paz  (Axis for Peace).  As suas análises sobre política externa são publicadas na imprensa árabe, latino-americana e russa.  Última obra em francês:  L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations  (ed. JP Bertrand, 2007).  Última obra publicada em castelhano:  La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación  (Monte Ávila Editores, 2008).