31 de mai. de 2014

Sobre a necessidade de uma aliança de povos contra a OTAN - uma entrevista com Rick Rozoff

Enquanto o Novo Mundo Multipolar, conforme proposto pelo Presidente russo Wladmir Putin, não representa uma ruptura violenta com o capitalismo, ele certamente representa o fim do imperialismo. Como tal, representa também para a humanidade a possibilidade de transformar o presente sistema de exploração de forma progressiva, sem a necessidade de revoluções violentas, em um sistema mais justo.

Todavia, controlada que é pelas mais poderosas elites do mundo, o objetivo real da OTAN é manter o sistema capitalista-imperialista a qualquer custo. Para isso, essa organização está tentando barrar os regimes progressistas, principalmente os da Rússia e da China, por oferecerem uma alternativa ao sistema do qual essas elites dependem para manter seu poder.

Em seu site Stop NATO, Rick Rozoff tem há tempos feito um acompanhamento dos passos da OTAN. Na entrevista abaixo, dada ao jornal russo Voz da Rússia, ele revela suas preocupações sobre a presente pressão contra a Rússia e a China e, assim, contra o resto do mundo. Acredito que sua idéia de uma aliança entre a Rússia, a China e os países não-alinhados, para tentar barrar os avanços da OTAN, deveria ser seriamente considerada.

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Países não-alinhados, Rússia e China devem clamar pela abolição da OTAN
Miguel Francis, VoR, 30 de maio de 2014

Russia, China, non-aligned countries should call to abolish NATO - expert
© Foto:  OTAN

Em 30 de maio de 1982, a Espanha se juntou à OTAN e tornou-se seu décimo sexto membro. Desde a formação da OTAN, em 1949, a organização aceitou novos membros seis vezes e, a partir de 2014, a OTAN unifica 28 Estados na Europa e na América do Norte. Rick Rozoff, o proprietário e gerente do site e lista de discussão internacional Stop NATO (Pare a OTAN), compartilhou suas opiniões, durante sua entrevista com VoR, sobre a possibilidade de alargamento da OTAN e sobre como a comunidade internacional e a Rússia deveriam reagir a ela.

Quais são suas previsões para o futuro alargamento da OTAN?  Será que essa organização conseguiria mover-se para o leste da Europa?

E quanto mais adiante ela teria que se mover? Como você indicou, a OTAN admitiu 12 novos membros em uma década, de 1999 a 2009; aumentou sua adesão colectiva em 75% e tem englobado toda a fronteira ocidental da Rússia, desde o Mar de Barents ao Mar Báltico, do Mar Negro ao Mar Egeu.

Você mencionou os 28 membros da OTAN e ela também agora tem mais de 43, talvez, mais perto de 50 parceiros ao redor do mundo em todos os continentes habitados. Tem um programa de integração avançada com o Cazaquistão, que faz fronteira com a Rússia e a China. Tem um programa individual da parceria e cooperação com a Mongólia, que faz fronteira com a Rússia e a China. E tornou-se uma rede militar global.

Receio que o mundo tenha sentado e permitido que isso ocorresse ao ponto onde agora chegou, um ponto de crise, se não uma catástrofe na Ucrânia. E espero, contra todas as expectativas, que ainda exista alguma possibilidade de reverter esse impulso, embora não esteja confiante de que haja.

Como a comunidade internacional e a Rússia deveriam reagir a isso?

Eu acho que nós estamos usando o tempo verbal errado. Não sei o que a Rússia poderia fazer agora. O que deveria ter feito há mais de 15 anos era oferecer sistemas de defesa aérea e outras formas de assistência militar à República Federal da Jugoslávia, para permitir que esse pequeno país se defendesse contra o ataque de bombardeio de 78 dias pelo bloco coletivo da OTAN.

Tendo falhado em fazer isso, e tendo falhado em impedir a primeira guerra na África há três anos atrás contra a Líbia, e tendo falhado em prevenir a OTAN de estabelecer uma presença naval permanente no mar Mediterrâneo e no mar da Arábia e na Ásia Central e em outras partes do mundo, pergunto-me neste ponto o que pode ser feito.

Diplomaticamente, a Rússia, a China e outros países não-alinhados –  existem muitos poucos deles, a propósito –, deveriam, tanto no Conselho de Segurança da ONU quanto em especial na chamada Assembleia Geral, clamar pela supressão aberta da OTAN como um bloco militar agressivo que empreendeu guerras em três continentes, em 15 anos, na Iugoslávia sem qualquer mandato da ONU, e nos outros dois casos por perverter o mandato que tiveram.

Em 1954, a União Soviética expressou sua vontade de aderir à OTAN. No entanto, os EEUU, a França e a Grã-Bretanha rejeitaram adicionar a URSS. Na sua opinião, qual foi o motivo principal para essa recusa? Será que isso significa que a OTAN foi constituída para ser um contrapeso para a Rússia, e o país era visto como o maior inimigo militar e estratégico desde o início e ainda o é?

Esse é exatamente o caso. Qualquer que tenha sido a motivação Soviética em 1954 –  poderia ter sido basicamente [em resposta a] um gesto de relações públicas dos EUA:  'se a OTAN é, na verdade, a aliança defensiva que alega que é, então, nós gostaríamos de participar também' –, os Soviéticos pegaram o blefe dos EEUU e os Estados Unidos rejeitaram a oferta.  Fazendo o quê?  Incorporando a República Federal da Alemanha à OTAN, no ano seguinte, como membro de pleno direito. Foi só depois disso que os soviéticos e seus aliados configuraram a Organização do Tratado de Varsóvia, no mesmo ano, em resposta à incorporação da Alemanha Ocidental.

Então, a OTAN foi configurada explícita e exclusivamente para conter e, afinal, confrontar a [URSS inicialmente e, agora, a] Rússia. E esse é seu unico objetivo, agora, porque, com a fragmentação da União Soviética e a dissolução do Pacto de Varsóvia, em 1991, os EUA estão longe de desabilitar ou fazer as malas de suas forças armadas e ir pra casa. Em vez disso, eles exploram a situação para trazer o equipamento militar da OTAN, e as tropas, diretamente até a fronteira da Rússia em vários casos.

A OTAN foi criada inicialmente administrada sob grande pressão dos Estados Unidos, certo?

Dwight D. Eisenhower foi o primeiro comandante militar superior da OTAN. Então, ela foi inicialmente quase inteiramente um projeto americano-britânico.

É razoável gastar grandes quantias de dinheiro com a ampliação da aliança; entretanto, muitos Estados, especialmente os admitidos mais recentemente, sofrem com a decadência da economia e dos setores sociais. Por que esses países ainda concordam com a política da OTAN?

Por causa de suas elites políticas, muitas delas tendo sido educadas nos Estados Unidos e muitas delas sendo cidadãos americanos: Toomas Ilves na Estónia, ou recentemente Valdas Adamkus na Lituânia, ou a primeira-dama na Ucrânia até quatro anos atrás, Cathy Yushchenko, que nasceu e cresceu aqui nos EUA. Mikhail Saakashvili na Geórgia estudou na Universidade de Columbia. Eles foram então enviados de volta no período pós guerra fria para governar as nações da forma que os procônsules governaram em nome do Império Romano.

E é surpreendente que eles tenham subordinado as necessidades de seu povo e sua nação aos seus donos em Washington e Bruxelas, que estão dizendo a eles, como você está aludindo, que o mandato de membro da OTAN dita que uma nação gaste 2% do seu PIB em armas e as armas, para serem 'interoperáveis', para usar o termo da OTAN, têm que ser compradas – adivinhe de quem? – dos EUA, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Suécia. E se você tem armas russas, é melhor livrar-se delas e não pensar em comprar qualquer outra, porque elas não são 'interoperáveis' com as da OTAN.

Então, basicamente, a mão estende-se de volta para o bolso dos EUA. E, como é o caso, observamos esse tipo de mentalidade submissiva ao mestre em detrimento dos países.

Qualquer país que se junte à OTAN ipso facto sacrifica completamente sua soberania nacional e orgulho nacional e integridade nacional. E isso também tem exigido que seus filhos e filhas, sob a vontade dos Estados Unidos, possam ser enviados a zonas de guerra ao redor do mundo, para matar e morrer por objetivos de política externa de Washington, e sem perguntas. Se isso não é completa subordinação das nações a uma entidade estrangeira, então não sei o que é...

29 de mai. de 2014

Criando o Novo Mundo Multipolar

Após a assinatura do importante acordo bilateral entre Rússia e China, estabelendo os parâmetros de uma longa colaboração econômica envolvendo trocas de gás e tecnologia, além do uso de suas próprias moedas em suas transações econômicas, a fundação da União Econômica Euro-Asiática (UEE) é outro grande passo na direção da criação do Novo Mundo Multipolar (em 31/05/14: veja aqui e aqui outras considerações sobre esse assunto - em inglês).

O tratado da criação dessa associação, assinado entre Rússia, Cazaquistão e Belarus – pelos Presidentes Vladimir Putin, Nursultan Nazarbayev and Alexander Lukashenko, respectivamente – na Cúpula de Astana, no Cazaquistão, nesta última quinta-feira, 29 de maio de 2014, tem significado histórico.

Conforme o Presidente Nursultan Nazarbayev disse, “a União Econômica Euro-Asiática está baseada em 20 anos de cooperação econômica no sentido de estabelecer uma integração entre esses países, no sentido de criar uma verdadeira União Aduaneira e começar a formação de um espaço econômico comum.”

A União Econômica Euro-Asiática “expande as oportunidades de negócios, de implementação de investmentos conjuntos e cooperação em projetos, e de coordenação sobre mercados externos”, disse Nebenzya.

Conforme RIA Novosti, os três países comprometeram-se a garantir o livre movimento de bens, serviços, capital e mão-de-obra, bem como a implementação de políticas coordenadas em setores críticos, incluindo energia, indústria, agricultura e transporte.

Como informou o Ministro do Exterior do Cazaquistão, Yerlan Idrisov, ‘os países da União juntos são responsáveis por 15% do território do mundo e um quarto de seus recursos naturais, incluindo 15 por cento dos depósitos de hidrocarboneto cru’ (em 02 de junho de 2014: veja aqui)

Como se não bastasse tal iniciativa, no dia seguinte, 30 de maio, o Presidente da Armênia, Serzh Sargsyan, anunciou a intenção de seu país unir-se também à UEE até 15 de junho deste ano, pedindo tempo apenas para a definição de decisões mutualmente vantajosas.

Quantos outros países se unirão à UEE? Visto o dinamismo de suas economias, o aprofundamento da cooperação econômica entre os países do Oriente não deveria surpreender ninguém...

Venezuela aprofunda relações estratégicas com a Rússia

A visita à Rússia do Ministro do Exterior da Venezuela, acompanhado de diversos ministros, expressando interesse em aprofundar as relações estratégicas entre os dois países, é mais um passo em direção ao novo mundo multipolar, livre do imperialismo.

As razões da Venezuela por optar em estreitar suas relações com a Rússia podem ser compreendidas no texto que se segue:
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Inteligência dos EUA aterroriza Venezuela

Durante vários meses, serviços de inteligência dos EUA têm aumentado seus esforços para desestabilizar a Venezuela.
Protestos circunscritos a alguns bairros têm sido amplamente retransmitidos pelos meios de comunicação para dar a impressão de que eles apoderar-se-ão de todo o país. No entanto, há crescentes sinais de que a mão de Washington está por trás desses acontecimentos estranhos.

Nil Nikandrov, REDE VOLTAIRE, 26 de maio de 2014
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Após a vitória do sucessor de Hugo Chávez, Nicolas Maduro, na eleição presidencial de 2013, a CIA tentou usar uma versão modernizada do cenário chileno para derrubá-lo.
Há quarenta anos esse cenário funcionou: em setembro de 1973, o governo de Salvador Allende foi literalmente destruído. Uma ditadura repressiva e fascista controlou o Chile por muitos anos, e apoiantes de Allende tornaram-se suas vítimas. Dezenas de milhares de chilenos passaram por centros de tortura e campos de concentração. Muitos foram obrigados a emigrar, mas até mesmo no exterior eles não se sentiam seguros. A polícia secreta de Pinochet caçou significativas figuras da resistência. usando veneno e explosivos para eliminá-los.

Na Venezuela, o cenário chileno não funcionou. Os conspiradores, seguindo as instruções de seus supervisores da CIA, planejaram provocar o descontentamento em massa. Eles tentaram de tudo: escassez artificial de bens essenciais, sabotagem do transporte público, ataques a agências governamentais, e bloqueios de importantes rodovias, ruas e zonas residenciais. Pairando sobre as cidades – como um sinal alarmante de instabilidade – via-se a fumaça preta da queima de pneus (um eco eloquente de Maidan, em Kiev)... Tudo isso foi sincronizado e bem organizado. Nicolas Maduro e o governo bolivariano se mobilizaram rápido. Mas o Presidente Obama, que sofreu derrota em praticamente todas as frentes na luta pela hegemonia dos Estados Unidos, autorizou o reforço das operações para influenciar o regime Bolivariano...

Na cidade de San Cristobal, Venezuela, o cidadão americano T.М. Leininger foi preso. Ele havia ferido seriamente um venezuelano de quem ele suspeitava trabalhar para as agências de segurança Bolivarianas. Ele tentou se esconder, mas foi detido pela polícia. Quando o apartamento de Leininger foi pesquisado, encontraram um esconderijo secreto de armas de fogo: três espingardas (uma com mira telescópica e silenciador), duas pistolas, um estoque de munição considerável e vários artefatos de camuflagem. O americano foi suspeito de planejar atos terroristas. Uma investigação está em andamento, e os fatos do uso destas armas por grupos de militantes da oposição radical estão sendo examinados.

Sob a direção da CIA, uma campanha de mídia lançada em defesa do agente falhou. Supostamente, ele veio para a Venezuela por razões humanitárias: ele trouxe comida para parentes indigentes. Eles dizem que Leininger é por natureza não inclinado à violência e empreendimentos arriscados, para não falar do uso de armas. Se algo do tipo teve lugar, foi apenas porque Leininger «não está completamente bem e tem mania de perseguição». Essa última teoria, que supostamente veio de sua mãe, destina-se a explicar porque armas foram encontradas na posse do americano.

É revelador que nos últimos tempos as agências de segurança venezuelanas tenham detido pelo menos 60 estrangeiros com armas e, como regra geral, nas regiões do país que estão sendo consideradas pela CIA como áreas promissoras para a criação de ‘zonas quentes’. De acordo com os investigadores, a CIA recruta terroristas de todo o mundo para trabalhar na Venezuela. As agências de segurança venezuelanas têm recebido informações sobre as atividades das estações da CIA na Colômbia, Honduras, México, Panamá e vários outros países transferindo combatentes «controlados» de cartéis de drogas para a Venezuela. É suficiente mencionar que algumas das barricadas no período das revoltas mais intensas da oposição radical eram controladas por narcotraficantes colombianos, que são procurados pela Interpol. Fotografias de criminosos entre os ativistas da oposição venezuelana apareceram na Internet. No entanto, em tais situações, agentes da CIA têm imunidade, apesar da autoridade da Interpol e das normas do direito internacional.

Em praticamente todas as grandes cidades da Venezuela, incluindo a capital, tiros foram ouvidos freqüentemente durante os meses de manifestações contra o governo. A maioria dos que morreram eram cidadãos comuns. Na primeira fase das operações terroristas para derrubar o regime, os mercenários da CIA deliberadamente e consistentemente escolheram vítimas em ambos os lados das barricadas (exatamente como na Praça Maidan, em Kiev). Seu objetivo era exacerbar o confronto entre partidários do governo e da oposição. Na prática da inteligência americana, « estatísticas de abate » são um aspecto importante da guerra de sabotagem contra o país selecionado para desestabilização... Na campanha de propaganda da CIA, prevalece a seguinte tese: a tendência ao aumento de mortes violentas é prova do caos e da incapacidade do governo venezuelano para normalizar a situação e começar a controlar elementos criminosos. Os venezuelanos estão especialmente indignados com as mortes de pessoas das áreas de artes, teatro e cinema e das estrelas das séries de televisão.

Em abril e início de maio, as estatísticas de ataques contra funcionários do partido PSUV e militares e agentes da lei aumentou abruptamente. Armas de fogo foram usadas em praticamente todos os casos. O Ministro venezuelano de Assuntos Internos Miguel Rodriguez Torres afirmou que, na nova etapa de operações de sabotagem, a CIA tem visado «assassinatos seletivos». E alvos são selecionadas cujas mortes violentas terão repercussões políticas máximas: «Sem dúvida, eles estão tentando implementar um plano secreto para desestabilizar o país e derrubar o presidente Nicolas Maduro e o governo. Por essa razão, os inimigos têm recorrido a assassinatos seletivos.»

Entre as vítimas estava o proeminente político Bolivariano Eliezer Otaiza. Nos primeiros anos da administração de Hugo Chávez, ele chefiou o DISIP, o serviço de contra-espionagem (agora SEBIN [– Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional]). Otaiza, que não usou seguranças, foi emboscado por paramilitares em uma estrada deserta, torturado, e depois morto por tiros nas costas. Na opinião de muitos analistas latino-americanos, Otaiza secretamente estava organizando grupos de resistência na Venezuela em caso de agressão armada dos Estados Unidos

Vários oficiais de contra-inteligência militar (DIM [– Administração de Inteligência Militar]) em vários Estados em todo o país têm sido alvos de «tiroteios selectivos». Os agentes da DIM identificam e neutralizam os agentes inimigos em divisões militares e protegem contra sabotagem locais estrategicamente importantes do país. Graças à operação eficiente da DIM, um grupo de generais da força aérea que estava planejando um levante armado contra o governo foi recentemente descoberto. Os generais foram um tempo atrás treinados nos Estados Unidos e, após a vitória da Revolução Bolivariana, mantiveram laços secretos com funcionários do adido militar no escritório na embaixada americana em Caracas. A DIM recebeu sinais, sobre as atividades dos generais conspiradores, de jovens oficiais. Tentativas foram feitas para recrutá-los para atividades contra o governo, inclusive organizando a fuga de um dos pilotos de um avião SU russo.

As contramedidas na aplicação da lei Bolivariana contra terroristas liderados pela CIA e conspiradores estão-se tornando gradualmente mais eficazes. Empregados do SEBIN foram capazes de identificar a estrutura de liderança da conspiração, gravar o conteúdo de conversas entre os conspiradores venezuelanos e seus supervisores da CIA, e verificar os canais para a importação de armas e explosivos para o país e as fontes de financiamento. Em alguns laptops confiscados encontraram listas de Chavists listados para eliminação. O SEBIN limpou acampamentos da oposição em Caracas que, de acordo com os planos da CIA, seriam transformados em Maidans venezuelanos. Durante a operação, grandes quantidades de dinheiro, armas, coquetéis Molotov e drogas foram encontradas nas tendas.

Um grande sucesso do SEBIN foi a operação que desmascarou um funcionário da equipe do Presidente Maduro que foi ligado com a estação da CIA. Ela estava passando informações confidenciais sobre as atividades e movimentos do Presidente e sua comitiva à embaixada dos EUA através de um parente. De acordo com cientistas políticos venezuelanos, a CIA poderia ter usado esses dados para preparar um atentado contra Nicolas Maduro.

Tradução
Marisa Choguill

Fonte
Strategic Culture Foundation

Nil Nikandrov:  Jornalista e analista político cujas colunas aparecem regularmente na revista online Strategic Culture Foundation, assentada na Rússia.

28 de mai. de 2014

Planejando pelas costas dos povos do mundo

O texto abaixo, escrito há 14 anos, mostra que o Partido Comunista Portugues estava bem-informado à época sobre as futuras intervenções imperialistas nos países soberanos. Verifique:

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Não abusem

Carlos Aboim Inglez,
Avante!, Nº 1371, 9 de março de 2000

Após o chamado ‘fim da guerra fria’, na Fundação Carnegie, um dos covis onde os lobos tramam os planos de ataque dos EUA, uma seleta elite (Abramowitz, Albright, Scheffer e outros) trabalhou afanosamente na elaboração de uma nova estratégia, mais ativa, que substituísse a anterior e assegurasse a salvação da OTAN como instrumento indispensável de preponderância na Europa. O seu relatório de 1992, ‘Mudar os Nossos Hábitos: o papel da América no Mundo Novo’, preconizava, em conclusão, adotar um ‘novo princípio das relações internacionais:  a destruição ou a deslocação de grupos de população no interior dos Estados podem justificar intervenção internacional’. E, para tal, os EUA deveriam ‘realinhar’a OTAN e a OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa). No mesmo ano, David Scheffer é co-autor de outro estudo da mesma Fundação, ‘A Autodeterminação na Nova Ordem Mundial’, onde traça o cenário de futuras ações: ‘Quando uma reivindicação de autodeterminação desencadeia um conflito armado que se torna uma crise humanitária’, a intervenção externa é um imperativo indiscutível’ pelo que há que ‘redefinir o princípio de não ingerência nos assuntos internos dos Estados’. E, para tal, ‘os EUA devem procurar um consenso à volta da sua posição no seio das organizações regionais e internacionais , mas não devem sacrificar os seus próprios juízos e princípios se um tal consenso faltar’. O conhecido desabafo de Madeleine Albright – ‘Para que serve ter a maior força militar do mundo se não a utilizarmos ?!’- ganha assim estatuto de brutal diretiva para a política externa do imperialismo americano. Os povos dos Balcãs ( e não só...) que o digam.

Muitos outros ‘especialistas’trabalham nesta matéria. Zbigniew Brzezinski, no seu livro ‘O Grande Tabuleiro de Xadrez’, de 1997, fornece fundamentações geoestratégicas para o imperialismo dos EUA, tendo como alvo central aquilo a que ele chama ‘os Balcãs Euroasiáticos’, indo das margens do Mar Negro às fronteiras da China, com Cáucaso e Cáspio no coração. Na conferência de imprensa em Paris para a apresentação da obra , em 1998, um jornalista pediu-lhe para explicar o ‘paradoxo’ de a sua doutrina por ser tão ‘pragmática e impregnada de realpolitik’ enquanto ele teria sido um destacado ‘defensor dos Direitos do Homem’. Descarado, Brzezinski esclareceu : ‘Elaborei essa doutrina(...) porque era a melhor maneira de desestabilizar a URSS. E funcionou. ‘ Descarado, deu um exemplo de como não se limitava a belas palavras sobre os Direitos do Homem mas sabia também fazer o trabalho sujo. Contou como a CIA começou a fornecer armas aos contrarevolucionários afegãos em meados de 1979, seis meses antes que a URSS acedesse aos pedidos de ajuda do Governo do Afeganistão. E rematou : ‘Nós não obrigamos os russos a intervir, mas conscientemente tornamos essa intervenção mais provável . Esta operação clandestina foi uma excelente idéia. Teve como efeito atrair os russos para a armadilha afegã.’ Quantas outras armadilhas se estão tecendo ?!

Estes casos ficam em geral no segredo dos deuses : trata-se de ‘alta política’, não para consumo dos simples mortais. Por isso, a barragem de condicionamento ideológico sobre o ‘direito à autodeterminação’, o ‘ direito de ingerência humanitária’, os ‘direitos do Homem’, se torna uma litania interminável, adequadamente teorizada e ilustrada mediaticamente por imagens de horror . Tal lavagem ao cérebro serve às mil maravilhas os velhos/novos apetites do grande capital e da força político-militar imperialista que o serve. É imprescindível denunciar os seus mentores originais: para que não abusem da nossa razão e do nosso coração. As vítimas são os povos. E os povos zangam-se.

NOTA:  Revisado para o portugues do Brasil.

22 de mai. de 2014

A nova etapa da acumulação capitalista (1)

O encaminhamento das hostilidades na arena internacional demonstra que as reais intenções geopolíticas do Ocidente (império americano e seus aliados) são cercar a Rússia e a China na tentativa de bloquear seu desenvolvimento econômico, mantendo assim o poder em suas mãos.  Como resposta a tal confronto, a recente assinatura de um acordo bilateral entre Rússia e China, estabelendo os parâmetros de uma longa colaboração econômica envolvendo trocas de gás e tecnologia, além do uso de suas próprias moedas, define uma nova perspectiva para o capital, com inevitáveis conseqüências para o futuro da humanidade (por sua enorme importância histórica, pretendo tratar desse assunto, com mais detalhe e considerações, em breve).

Após esse acordo, mudanças de natureza geopolítica são inevitáveis – a Rússia e a China estão cooperando entre si e constituem, assim, uma força inegável, econômica e políticamente, a frear os avanços do capital indomado no mundo.

Enfim, a crise na Ucrânia está sem dúvida a acelerar o caminhar da história.  Isso é o que revela o texto abaixo. Verifique.

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Crise na Ucrânia acelera a reestruturação do mundo

A crise ucraniana não mudou radicalmente a situação internacional, mas precipitou os desenvolvimentos em curso. A propaganda Ocidental, que nunca foi mais forte, oculta especialmente a realidade do declínio ocidental para as populações da OTAN; mas, não tem mais efeito na realidade política. Inexoravelmente, a Rússia e a China, apoiadas pelos outros BRICS, ocupam seu lugar de direito nas relações internacionais.

por Pierre Charasse*, REDE VOLTAIRE | CIDADE DO MÉXICO (MÉXICO) | 30 DE ABRIL DE 2014 

A crise na Ucrânia pôs em evidência a magnitude de manipulação da opinião pública ocidental pela grande mídia, canais de TV como CNN, Foxnews, Euronews e muitos outros, bem como toda a imprensa alimentada por agências de notícias ocidentais. A maneira com que o público ocidental é mal informado é impressionante; mas, ainda é fácil de ter acesso a uma riqueza de informações por todos os lados. É preocupante ver quantos cidadãos do mundo estão sendo atraídos para uma russofobia, nunca vista mesmo nos piores momentos da Guerra Fria. A imagem que entra o inconsciente coletivo através da máquina de poderosos meios de comunicação ocidentais é que os russos são "bárbaros e atrasados" em relação ao mundo ocidental "civilizado". O discurso muito importante que Vladimir Putin fez em 18 de março, após o referendo na Crimeia, literalmente foi boicotado pelos meios de comunicação ocidentais [1], pois estes abriram um grande espaço para as reações ocidentais, todas negativas, é claro. No entanto, em seu discurso, Putin explicou que a crise na Ucrânia não foi desencadeada pela Rússia e apresentou, com grande racionalidade, a posição da Rússia e os legítimos interesses estratégicos de seu país no conflito pós-ideológico.

Humilhada por seu tratamento pelo Ocidente desde 1989, a Rússia acordou com Putin e começou a reconectar-se com uma política de grande poder, tentando reconstruir as linhas da força histórica tradicional da Rússia czarista e da União Soviética. A geografia muitas vezes controla a estratégia. Tendo perdido grande parte de seus territórios"históricos", nas palavras de Putin, e população russa e de nacionalidade russa, a Rússia estabeleceu um grande projeto nacional e patriótico para recuperar o seu estatuto de superpotência com ação "global", garantindo a segurança de suas fronteiras terrestres e marítimas. Isso é exatamente o que o Ocidente quer evitar em sua visão de mundo unipolar. Bom jogador de xadrez que é, Putin está vários passos à frente graças a um profundo conhecimento da história, do mundo real e das aspirações de grande parte da população dos territórios anteriormente controlados pela União Soviética. Ele conhece a União Europeia perfeitamente, suas divisões e fraquezas, a capacidade militar da OTAN e o estado da opinião pública ocidental relutante em ver um aumento nos gastos militares em tempos de recessão econômica. Ao contrário da Comissão Europeia, cujo projeto coincide com o dos Estados Unidos para fortalecer o bloco político-econômico-militar Euro-Atlântico, os cidadãos europeus em sua maioria não procuram maior expansão da UE para o leste, nem com a Ucrânia ou com a Geórgia, e nem com qualquer outro país da União Soviética.

Com sua postura e suas ameaças de sanções, a UE, servilmente alinhada com Washington, mostra que é impotente para "punir" a Rússia a sério. Seu peso real não é igual às suas ambições sempre proclamadas de moldar o mundo à sua imagem. O governo russo muito responsivo e malicioso tem apresentado "reações graduais", ridicularizando as medidas ocidentais punitivas. Putin, altivo, permite-se mesmo ao luxo de anunciar que vai abrir uma conta no banco Rossyia de Nova York para depositar seu salário! Ele não mencionou ainda a limitação do fornecimento de gás à Ucrânia e à Europa Ocidental; mas, todos sabem que ele tem esta carta na mão, o que já obrigou os europeus a pensar sobre a reorganização completa do seu abastecimento de energia, que vai levar anos para se materializar.

Os erros e as divisões ocidentais colocam a Rússia em posição de força. Putin goza de popularidade excepcional no seu país e nas comunidades russas em países vizinhos, e podemos ter certeza de que seus serviços de inteligência já penetraram profundamente os países anteriormente controladas pela União Soviética, fornecendo informações abundantes de primeira mão sobre o equilíbrio do poder interno. Seu aparato diplomático dá argumentos fortes para remover o monopólio da interpretação do direito internacional do "Ocidente", particularmente sobre a espinhosa questão da autodeterminação. Como seria de esperar, Putin não hesita em citar o precedente de Kosovo para difamar a duplicidade do Ocidente, sua inconsistencia, e o papel desestabilizador que desempenhou nos Balcãs.

Enquanto a propaganda da mídia ocidental estava em pleno andamento após o referendo de 16 de março na Crimeia, gritos ocidentais caíram subitamente um tom e o G7, no seu Encontro de Haia às margens da conferência sobre segurança nuclear, não ameaçou excluir a Rússia do G8, como tinha alardeado alguns dias antes, mas simplesmente anunciou que "não participaria do Encontro de Sochi." Isto lhe deu a oportunidade de reativar a qualquer momento esse fórum privilegiado de diálogo com a Rússia, criado em 1994 a seu pedido expresso. Primeiro recuo do G7. Obama, por sua vez, apressou-se a anunciar que não haveria nenhuma intervenção militar da OTAN para ajudar a Ucrânia, mas apenas uma promessa de cooperação para reconstruir o potencial militar desse país, composto em grande parte de equipamentos soviéticos obsoletos. Segundo recuo. Vai levar anos para colocar um exército ucraniano digno desse nome a seus pés e, perguntamo-nos, quem vai pagar tendo em conta a situação das finanças do país. Além disso, não sabemos exatamente qual é a situação das forças armadas da Ucrânia depois de Moscou ter convidado, com algum sucesso ao que parece, os ucranianos militares, herdeiros do exército vermelho, a se alistarem no exército russo, mantendo sua patente individual. A frota ucraniana já está totalmente sob controle russo. Finalmente, em outra espetacular reversão por parte dos Estados Unidos: teria havido conversações secretas muito avançadas entre Moscou e Washington para adotar uma nova Constituição na Ucrânia, para instalar um governo de coalizão cujos extremistas neonazistas seriam excluídos em Kiev por ocasião das eleições de 25 de maio e, especialmente, para impor um status neutro na Ucrânia, sua "Finlandização" (recomendado por Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski) [2], que proíbe sua entrada na OTAN, mas permite acordos econômicos com a UE e com a União Aduaneira da Eurásia (Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão). Se tal acordo for alcançado, a UE será confrontada com um fato consumado e terá que conformar-se a pagar a conta dessa decisão russo-americana. Com essas garantias, Moscou poderia considerar que seus requisitos de segurança foram atendidos. Teria recuperado o pé em sua antiga esfera de influência com o acordo de Washington, e abster-se-ia de fomentar o separatismo em outras províncias ucranianas ou na Transnístria (província Moldávia povoada pelos russos) enquanto reafirmando seu forte respeito para com as fronteiras europeias. O Kremlin ao mesmo tempo teria oferecido uma saída honrosa para Obama. Um golpe de mestre para Putin.

Conseqüências geopolíticas da crise ucraniana

O G7 não havia calculado que, tomando medidas para isolar a Rússia, além do fato de estar aplicando a si mesmo um "castigo sado-masoquista", nas palavras de Hubert Vedrine, antigo ministro francês dos negócios estrangeiros, estaria, apesar disso, precipitando um processo, já em curso, de reestruturação profunda do mundo em benefício de um grupo não-ocidental, liderado por China e Rússia, sob a égide dos BRICS. Em resposta ao comunicado do G7, de 24 de março [3], os chanceleres dos BRICS manifestaram sua rejeição a quaisquer medidas para isolar a Rússia e imediatamente aproveitaram a oportunidade para denunciar as práticas de espionagem dos Estados Unidos contra seus líderes e, como boa medida, exigiram que os Estados Unidos ratificassem a nova distribuição do direito de voto no FMI e no Banco Mundial como um primeiro passo para uma "ordem mundial mais justa" [4]. O G7 não esperava uma resposta tão rápida e virulenta dos BRICS. Esse episódio pode sugerir que o G20, do qual o G7 e os BRICS são os dois principais pilares, poderia atravessar uma grave crise antes do próximo encontro em Brisbane (Austrália), em 15 e 16 de novembro, especialmente se o G7 continuar a marginalizar e punir a Rússia. É quase certo que haverá uma maioria no G20 a condenar as sanções contra a Rússia, o que na verdade terá o efeito de isolar o G7. Em sua declaração à imprensa, os ministros dos BRICS sentiram que, decidir quem é membro do grupo e qual é seu propósito, cabe a todos os seus membros "em igualdade de condições", e nenhum dos seus membros "pode unilateralmente determinar sua natureza e seu caráter." Os ministros clamam que a crise atual se resolva no contexto das Nações Unidas, "com calma, visão ampla, renunciando à linguagem hostil, às penas e às sanções". Uma afronta para os países do G7 e da União Europeia! O G7, que colocou-se sozinho num beco sem saída, está avisado de que será necessário fazer concessões significativas, se quiser continuar a ter alguma influência no G20.

Além disso, dois importantes eventos estão a ocorrer nas próximas semanas.

Primeiro, Vladimir Putin vai pagar uma visita oficial à China em maio. Os dois gigantes estão prestes a assinar um grande acordo de energia que afetará substancialmente o mercado global de energia, tanto estrategicamente quanto financeiramente. As transações deixarão de ser em dólares, mas passarão a ser nas moedas nacionais dos dois países. Voltando-se para a China, a Rússia não terá nenhum problema para vender sua produção de gás no caso de a Europa Ocidental decidir mudar de fornecedor. E, com a mesma aproximação, China e Rússia poderiam assinar um acordo de parceria industrial para a produção do caça Sukhoi 25, um desenvolvimento altamente simbólico.

Durante o encontro dos BRICS no Brasil em julho, o Banco de Desenvolvimento do grupo, cuja criação foi anunciada em 2012, pode tomar forma e oferecer uma alternativa aos financiamentos pelo FMI e pelo Banco Mundial, sempre relutantes em mudar o funcionamento das suas regras de financiamento para dar mais peso às economias emergentes e suas moedas, além do dólar.

Finalmente, há um aspecto importante da relação entre a Rússia e a OTAN que escassamente é comentado na mídia mas que é muito revelador do estado de dependência em que o "Ocidente" se encontra enquanto retira as suas tropas do Afeganistão. Desde 2002, a Rússia concordou em cooperar com os países ocidentais para facilitar a logística das tropas no teatro afegão. A pedido da OTAN, Moscou autorizou o trânsito de equipamentos não-letais para a ISAF (Força de Assistência à Segurança Internacional), por via aérea ou terrestre entre Dushanbe (Tajiquistão), Uzbequistão e Estônia, através de uma plataforma multimodal em Oulianovk, na Sibéria. Isso não é nada menos do que transportar todos os suprimentos para milhares de homens que operam no Afeganistão, entre os quais estão toneladas de cerveja, vinho, tortas, hambúrgueres, alface fresca, todos transportados por aeronaves civis russas, desde que as forças ocidentais não têm ativos de ar suficiente para suportar uma implantação militar dessa magnitude. O acordo OTAN-Rússia de outubro 2012 amplia a cooperação para a instalação de uma base russa no Afeganistão com 40 helicópteros onde pessoal afegão é treinado na luta antidroga que o Ocidente abandonou. A Rússia continua a recusar-se a permitir o trânsito, através do seu território, de equipamentos pesados, o que tem-se constituído em grave problema para a OTAN no momento da retirada de suas tropas. Na verdade, eles não podem viajar por terra via Kabul-Karachi por causa de ataques a comboios pelos talibãs. Sendo impossível o caminho pelo norte (Rússia), o equipamento pesado voa de Cabul para os Emirados Árabes, sendo então enviado para portos europeus, o que quadruplica o custo da retirada. Para o governo russo, a intervenção da OTAN no Afeganistão tem sido um fracasso; mas, sua retirada precipitada, antes do final de 2014, vai aumentar o caos e afetar a segurança da Rússia, podendo causar um ressurgimento do terrorismo.

A Rússia também tem importantes acordos com o Ocidente no campo dos armamentos. O mais importante é provavelmente o assinado com a França para a fabricação de duas operadoras de helicóptero para seus arsenais por US $ 1,3 bilhões euros. [5] Se o contrato for cancelado com as sanções, a França deve reembolsar quantias já pagas, bem como pagar penas contratuais, e perderá milhares de empregos. O pior é, provavelmente, a perda de confiança, do mercado, na indústria de armamento francêsa, como observado pelo Ministério da Defesa russo.

Não nos esqueçamos de que, sem a intervenção da Rússia, os países ocidentais nunca seriam capazes de chegar a um acordo com o Irã sobre não-proliferação nuclear, ou com a Síria sobre o desarmamento químico. Esses são fatos sobre os quais os meios de comunicação ocidentais estão silenciosos. A realidade é que, por causa de sua arrogância, sua falta de conhecimento da história, sua falta de jeito, o bloco ocidental precipitou a desconstrução sistemática da ordem mundial unipolar e oferece, numa bandeja, para a Rússia e para a China, apoiadas pela Índia, pelo Brasil, pela África do Sul e por muitos outros países, uma "janela de oportunidades" para reforçar a unidade de um bloco alternativo. A evolução estava-se movendo para a frente, mas lenta e gradualmente (ninguém quer dar um pontapé no formigueiro e. de repente, desestabilizar o sistema global); mas, de repente, tudo está andando mais rápido e a interdependência está mudando as regras do jogo.

Sobre o encontro do G20 em Brisbane, será interessante ver como o México posiciona-se, após os encontros do G7 em Bruxelas em junho, e o dos BRICS no Brasil em julho. A situação é muito fluida e irá evoluir rapidamente, o que exigirá grande flexibilidade diplomática. Se o G7 persistir em sua intenção de marginalizar ou excluir a Rússia, o G20 pode desintegrar-se. O México, apanhado nas redes do TLCAN [Tratado de Livre Comércio de América do Norte - nt] e do futuro TPP [Trans-Pacific Partnership - nt], deve escolher entre afundar com o Titanic do Ocidente ou adotar uma linha independente, mais em harmonia com os seus interesses como uma potência regional com ambições globais, aproximando-se dos BRICS.


Source:
La Jornada (Mexico)


Notas:

[1] “Vladimir Putin speech to Russian lawmakers on Crimea”, by Vladimir Putin, Voltaire Network, 18 March 2014.
[2] “Kissinger thinks Ukraine should be more like Finland”, Voltaire Network, 9 March 2014.
[3] “Joint G7 statement about Russia”, Voltaire Network, 24 March 2014.
[4] “Conclusions of the BRICS Foreign Ministers Meeting”, Voltaire Network, 24 March 2014.
[5] « La France vendra-t-elle des armes à la Russie ? », Réseau Voltaire, 20 mars 2014.

* Diplomata francês.

16 de mai. de 2014

Teriam os velhos Países Aliados se transformado nas Novas Potências do Eixo?

Conforme John Pilger, “[o] Pentágono correntemente sustenta ‘operações especiais’ – guerras secretas – em 124 países.” De que outra evidência precisamos para confirmar a hipotese de que os EEUU são os mais perigosos adversários da liberdade dos povos do mundo? E visto que os EEUU estão à frente da OTAN, podemos também ter certeza da natureza agressiva dessa instituição, e não ‘defensiva’, conforme querem que acreditemos. Afinal, a OTAN defenderia seus países membros de quem, se não têm adversários tão loucos que os venham a atacar? Na verdade, é a OTAN que está por trás de golpes e conspirações em diversos países (como aqueles ataques terroristas da Operação Gládio na década de 1980 na Itália).

A mais recente estratégia de dominação do mundo pelos EEUU – guerras, golpes, conspirações e sanções contra países soberanos que ameaçam sua hegemonia – define uma fase fascista do imperialismo. Agora, para o império, mais do que nunca, ‘os fins justificam os meios’.

Tudo indica ainda que os EEUU não estão sozinhos: seus velhos aliados, a Velha Europa, também têm ricos banqueiros e capitalistas que compartilham dos mesmos ideais que seus análogos americanos. Os governos europeus estão nas mãos dessa elite, e não nas mãos de seus povos, e por isso, infelizmente, não se pode esperar que tomem uma postura humanista.

Em suma, as velhas Forças Aliadas, que se declararam contra o fascismo e o nazismo de suas concorrentes Potências do Eixo, acusando (em sua propaganda dissimulada) tal bloco de nações de atrocidades de todos os tipos, parecem ter-se transformado em Novas Potências do Eixo, mais mortais que suas predecessoras, mais tirânicas, e aparentemente sem outro bloco de nações a desafiá-las, pelo menos até agora, talvez em virtude da possibilidade de uma guerra termonuclear.

O artigo abaixo apresenta uma compilação de fatos mostrando o envolvimento da Alemanha no golpe na Ucrânia. Se ainda houver alguma esperança de que a Alemanha possa vir a tomar uma direção diferente na questão das sanções contra a Rússia, este artigo mostra que se trata de uma falsa esperança – tudo indica que o presente governo da Alemanha não está do lado certo da história...

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Será que a Alemanha está envolvida na Ucrânia?

REDE VOLTAIRE, 15 de maio de 2014



Os parlamentares alemães, particularmente aqueles do partido Die Linke, exortaram o governo de Angela Merkel a ordenar uma investigação independente sobre a presença de mercenários na Ucrânia.

A Rede Voltaire informou a seus leitores em 3 e 4 de março sobre a presença de mercenários de Israel e dos EUA em Kiev [1]. Em 9 de março os leitores do semanário alemão Bild am Sonntag viram um vídeo mostrando os mercenários contratados pela Academi (veja abaixo).

Depois disso, o semanário afirmou não saber quem contratou os mercenários dos EUA, enquanto a imprensa alemã insinuou a presença de mercenários alemães em sua comitiva.

Os parlamentares têm expressado preocupação sobre a privatização da guerra e exigiram saber se as autoridades alemãs estão envolvidas nessas operações.

Esta questão é particularmente relevante à luz dos seguintes fatos :

• O partido da Chanceler Angela Merkel, CDU, oficialmente apoia o líder ucraniano Vitali Klitchsko.
• Em 1 de dezembro de 2013, o Presidente do Parlamento Europeu Martin Schultz foi à Praça Maidan pronunciar um discurso contra o governo democraticamente eleito de Viktor Yanukovych.
• No dia 4 de dezembro, o ministro do exterior alemão Guido Westerwelle apareceu manifestando seu apoio aos manifestantes da Praça Maidan.
• Em 7 de dezembro, o Presidente da Comissão dos Assuntos Externos do Parlamento Europeu, Elmar Brok, foi à Praça Maidan para fazer um discurso em favor de Yulia Tymoshenko.
• Em 29 de janeiro de 2014, durante uma conferência de imprensa com Vitali Klitschko ao seu lado, Elmar Brok apelou pela renúncia do presidente Yanukovych.
• Em 21 de fevereiro, os três ministros do Triângulo de Weimar, incluindo Guido Westerwelle, negociaram e assinaram um acordo político entre o presidente Yanukovych e a oposição de Maidan. No entanto, este acordo serviu para mascarar o golpe que ocorreu horas mais tarde, enquanto o presidente Yanukovych viajava à província.
• No dia 25 de abril, quatro oficiais alemães trabalhando para a OSCE, traindo seu mandato, viajaram para o leste do país onde foram presos por espionagem pelos ucranianos federalistas e detidos por uma semana.

Tradução
Marisa Choguill

NOTAS:

[1] «Militares israelíes en Maidan», Red Voltaire , 3 de marzo de 2014. “Mercenários U.S. colocados no Sul da Ucrânia”, Rede Voltaire, 5 de Março de 2014.

11 de mai. de 2014

O preço da ‘paz’

Em “Imperialismo: fase superior do capitalismo”, Lenin mostrou a natureza imperialista do sistema capitalista.

Lenin mostrou que,  no fim do século XIX, seguindo a lógica do capitalismo – promover o lucro e o enriquecimento dos capitalistas –, a nova oligarquia financeira da Europa, principalmente da Inglaterra, vislumbrou abarcar novas fontes de matérias-primas e novos mercados fora da Europa a fim de obter mais lucros. Em pouco tempo, isso levou a um acirramento do confronto entre os grandes monopólios pelos recursos econômicos e, mais tarde, pelas demandas mundiais criadas pelo capitalismo globalizado. Como resultado, perpetrou-se uma partilha do mundo entre as associações de capitalistas, o que gerou uma política de conquista das terras ‘não ocupadas’ (colônias) – a corrida foi tal que, em 1916, não havia mais, no mundo, nenhum território ‘não ocupado’.

Isso estabeleceu, conforme a análise de Lenin, novas relações sociais de produção – a luta de classes elevou-se ao âmbito global e transformou-se na luta dos povos dos países colonizados (empobrecidos ou ‘subdesenvolvidos’) contra os imperialistas.

Mas, essa luta de classe, que tem por objetivo a extinção do imperialismo, implica na união das nações colonizadas em sua luta contra o imperialismo, enquanto a extinção do imperialismo implica também na extinção do próprio capitalismo, visto que as relações sociais estabelecidas pelo capitalismo globalizado, que permitem a extração do lucro nessa fase avançada do capitalismo, deixam também de existir.  Por isso, as potências imperialistas, comandadas pelas elites capitalistas, coludem em suas políticas em relação aos países dominados com o objetivo de evitar sua união. Essa é a lógica perversa do sistema de relações internacionais, que condena bilhões de pessoas à miséria, à violencia e à morte pelos privilégios da pequena e criminosa elite capitalista.

Entretanto, o sistema capitalista contem muitas contradições. Como o brilhante trabalho de Marx mostrou, trata-se de um sistema onde a acumulação das riquezas tende a ser concentrada cada vez mais em poucas mãos. Isso também se aplica às nações imperialistas, onde se observa confrontos e rivalidades com o objetivo de estabelecer impérios. Tais confrontos levaram milhões de seres humanos, no século passado, a lutar e morrer em duas Guerras Mundiais onde os únicos beneficiários foram os ricos capitalistas.

Desde a Segunda Guerra Mundial, o império dos EEUU se estabeleceu como a maior potência mundial comandando uma hierarquia de nações, isto é, uma hierarquia onde as elites capitalistas de outras nações imperialistas estariam sob a ‘proteção’ da elite dos EEUU, apoiando suas iniciativas. O objetivo de tal ‘ordem mundial’ seria manter a relação social de exploração no sistema globalizado, ou seja, manter as colônias em sua condição de subordinação.

Embora tal ‘ordem mundial’ tenha dado resultados por algum tempo, a lógica da concentração do capital não coopera com a idéia de permanência desse esquema. Os capitalistas dos EEUU enriqueceram muito mais do que os de todas as outras nações, enquanto os níveis de miséria nos países explorados atingem hoje níveis nunca vistos na história da humanidade. Para completar o quadro de contradições, as crises inerentes ao capitalismo nunca foram eliminadas e, hoje, atingem um nível de complexidade impossível de ser manejado.

Como resultado, todos os povos do mundo, incluindo os dos países imperialistas, encontram-se hoje ameaçados pela continuada existência de um sistema econômico-social incontrolável e destruidor. Em meio à grave crise atual, os povos das nações imperialistas estão tendo que pagar o alto preço da luta de classe global que se aguça a cada dia, enquanto aumentam a destruição e os crimes contra os povos colonizados a fim de manter sua condição subalterna e sua exploração. Tudo em nome do capital, dos privilégios da pequena elite dona do mundo.

Mas, o crescendo de contradições do capitalismo está levando os povos do mundo à conscientização da necessidade de superá-lo, substituindo-o por outro sistema econômico onde a lógica da acumulação capitalista seja substituída pela lógica do bem-estar social e da dignidade do ser humano - afinal, a história continua sua caminhada.

O artigo abaixo levanta os enormes custos da loucura imperialista para barrar o caminhar da história, e analisa a situação da Itália, uma potência de segunda ordem onde o alto custo de sua cooperação com a ‘ordem mundial’ vigente, embora inquestionável para sua elite corrupta, está começando a dar sinais de exaustão:

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O que nos custa a liberdade da OTAN

Manlio Dinucci, REDE VOLTAIRE, Roma (Itália) | 31 de março de 2014
A liberdade tem o seu preço. E também o tem a submissão voluntária. O preço da submissão aos Estados Unidos e às suas aventuras militares é particularmente alto: para a Itália, 56 milhões de euros por dia. Para a França, 117 milhões de euros diários.

«A situação na Ucrânia recorda-nos que a nossa liberdade não é gratuita e que temos que estar dispostos a pagar.» Isso nos recordou o presidente Obama, tanto em Roma como em Bruxelas, ao expressar a sua preocupação pelo fato de que alguns membros da OTAN queiram diminuir os seus gastos militares. Obama anunciou que os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da OTAN se reunirão na próxima semana em Bruxelas para reforçar a presença da aliança atlântica no leste da Europa e modernizar as suas forças militares. É claro que isso exigirá, naturalmente, mais dinheiro. Assim, já estamos avisados.

A quanto se eleva o gasto militar da Itália? Segundo os dados do SIPRI, o famoso Instituto Internacional [de Estudos para a Paz] de Estocolmo, a Itália subiu em 2012 ao décimo lugar entre os países que mais dinheiro gastam em armamento em todo o mundo, à volta de 30 bilhões de dólares, equivalentes a 26 bilhões de euros ao ano, o que equivale por sua vez a gastar 70 milhões de euros por dia, dinheiro que provém dos fundos públicos e se destina às forças armadas, à compra de armamento e à realização de missões militares no exterior. [1]

Segundo os dados correspondentes ao ano em curso, publicados há um mês pela OTAN, o gasto da Itália no setor de defesa se eleva a 20,6 bilhões de euros, equivalente a mais de 56 milhões de euros diários. Essa cifra, segundo detalhado no orçamento, não inclui o gasto destinado a outras forças que não estão permanentemente sob o comando da OTAN mas que podem pôr-se sob as ordens do comando atlântico, segundo as circunstâncias. Também não inclui os gastos das missões militares no exterior, que não aparecem no orçamento do Ministério da Defesa.

Existem, além do mais, duas somas extra-orçamentais destinadas ao financiamento de programas militares a longo prazo, como o do avião de combate F-35.

O orçamento oficial confirma que o gasto militar da OTAN ultrapassa um trilhão ao ano, o que representa 57% do total mundial.

Mas, na realidade, essa soma é ainda mais elevada já que, ao gasto militar dos Estados Unidos, quantificado pela OTAN em 735 bilhões de dólares ao ano, há que juntar outros gastos de caráter militar que não se incluem no orçamento do Pentágono – como os 140 bilhões anuais destinados aos militares aposentados, os 53 bilhões que vão para o «Programa Nacional de Inteligência», e os 60 bilhões para a «Segurança da Pátria» – que elevam o gasto real dos Estados Unidos em matéria de “defesa” a mais 900 bilhões de dólares, ou seja, mais da metade dos gastos mundiais nesse setor.

O objetivo dos Estados Unidos é que seus aliados europeus assumam uma percentagem mais importante dos gastos militares da OTAN, destinada, por sua vez, a aumentar o fortalecimento e a otimização da “frente do leste”.

Hoje em dia, sublinha Obama, «aviões da OTAN patrulham os céus do Báltico, reforçamos a nossa presença na Polônia, e estamos dispostos a fazer mais.» Avançando nesse sentido, adverte-nos Obama, «cada Estado membro da organização deve incrementar o seu próprio envolvimento e assumir a sua própria tarefa, mostrando a vontade política de investir na nossa defesa coletiva.»

Podemos ter a certeza de que o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, e o seu primeiro-ministro, Mateo Renzi, já confirmaram essa vontade a Obama.

Tradução
Alva

Fonte
Il Manifesto (Itália)

NOTA:

[1] Segundo os dados do SIPRI para o ano de 2012, a França ocupa o 6º lugar mundial em matéria de gasto militar com 58 bilhões de dólares, ou seja, cêrca de 43 bilhões de euros, o que representa 117 milhões diários, sem contar os gastos de defesa incluídos em outros orçamentos que não têm a ver com essa rubrica. Ver o orçAmento de Defesa de 2014 da República Francesa.

9 de mai. de 2014

O impacto geo-político da estrada de ferro de alta-velocidade com três rotas unindo a Rússia à China, aos EEUU e à Europa

A notícia sobre uma nova estrada de ferro sendo projetada na China é muito importante pois com certeza seu impacto geo-político será enorme. Os planos já estão sendo feitos, e isso indica que não se trata de sonho, mas de realidade. A China é um país fantástico, e conseguiu chegar ao que é hoje graças a muito trabalho e engenhosidade.

Este projeto certamente afetará todas as pretensões do império na tentativa de isolar a Rússia – as três rotas partirão de Moscou!

E embora as regiões explorados pelos imperialistas não figurem dessa proposta inicial, conforme a notícia do jornal britânico, sua anexação está explícita visto que implicaria em apenas uma extensão da linha férrea, isto é, na extensão de um ou outro dos tres eixos planejados. Assim, todas as grandes regiões geográficas do planeta serão contempladas com a possibilidade de uma ligação férrea entre elas, em igualdade de condições!

O artigo abaixo, embora em inglês, merece seu espaço neste blog pois promete muito para o futuro.

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Chinese experts 'in discussions' over building high-speed Beijing-US railway
'China-Russia plus America line' would run for 13,000km across Siberia and pass under Bering Strait through 200km tunnel
Jonathan Kaiman in Beijing, theguardian.com, Thursday 8 May 2014 20.00 BST

A magnetic-levitation train leaves Shanghai. The proposed US rail line would take two days, with the train travelling at an average of 350km/h. Photograph: Aly Song/Reuters
China is considering plans to build a high-speed railway line to the US, the country's official media reported on Thursday.

The proposed line would begin in north-east China and run up through Siberia, pass through a tunnel underneath the Pacific Ocean then cut through Alaska and Canada to reach the continental US, according to a report in the state-run Beijing Times newspaper.

Crossing the Bering Strait in between Russia and Alaska would require about 200km (125 miles) of undersea tunnel, the paper said, citing Wang Mengshu, a railway expert at the Chinese Academy of Engineering.

"Right now we're already in discussions. Russia has already been thinking about this for many years," Wang said.

The project – nicknamed the "China-Russia plus America line" – would run for 13,000km, about 3,000km further than the Trans-Siberian Railway. The entire trip would take two days, with the train travelling at an average of 350km/h (220mph).

The reported plans leave ample room for skepticism. No other Chinese railway experts have come out in support of the proposed project. Whether the government has consulted Russia, the US or Canada is also unclear. The Bering Strait tunnel alone would require an unprecedented feat of engineering – it would be the world's longest undersea tunnel – four times the length of the Channel Tunnel.

According to the state-run China Daily, the tunnel technology is "already in place" and will be used to build a high-speed railway between the south-east province of Fujian and Taiwan. "The project will be funded and constructed by China," it said. "The details of this project are yet to be finalised."

The Beijing Times listed the China-US line as one of four international high-speed rail projects currently in the works. The first is a line that would run from London via Paris, Berlin, Warsaw, Kiev and Moscow, where it would split into two routes, one of which would run to China through Kazakhstan and the other through eastern Siberia. The second line would begin in the far-western Chinese city of Urumqi and then run through Kazakhstan, Uzbekistan, Turkmenistan, Iran and Turkey to Germany. The third would begin in the south-western city of Kunming and end in Singapore. The routes are under various stages of planning and development, the paper said.
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Photo taken on June 27, 2013 shows China's first intelligent high-speed test train produced by CSR Qingdao Sifang Co Ltd waits to be tested in Qingdao, a coastal city in East China's Shandong province.  China is considering building a high-speed railway across the Siberia and Bering Strait to Alaska, across Canada to the US.  In not so distant future, people can take the train from China to the US.  [Photo/Xinhua]
SourceChina Daily

3 de mai. de 2014

GLADIO: Operação clandestina da OTAN

Gládio foi o nome dado a uma organização clandestina, na Itália, do tipo ‘stay-behind’ (‘ficar para trás’), isto é, uma organização que atuaria clandestinamente no país após uma intereferência externa ou uma guerra, no caso, após a Segunda Guerra Mundial.

A Opera
ção Gládio foi constituída de células clandestinas dos serviços de informação italianos e da OTAN, à época da Guerra Fria, para declaradamente contrapor-se a uma eventual ‘invasão’ da Itália pela União Soviética. Na realidade, o objetivo não-declarado da Operação Gládio era aterrorizar o povo italiano com atentados terroristas, culpando a União Soviética por tais atentados e, assim, controlando a opinião pública e contendo a opção dos povos europeus pelo comunismo.

Durante a Guerra Fria, quase todos os países da Europa Ocidental organizaram redes ‘stay-behind’
 sob o controle da OTAN  (Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Noruega, Países Baixos, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia e Reino Unido).

No entanto, a existência da Gládio – da qual apenas se ‘suspeitava’  (conforme a mídia comercial) até as revelações feitas pelo membro da Avanguardia Nazionale,Vincenzo Vinciguerra, durante seu processo, em 1984 – só foi reconhecida pelo Presidente do Conselho italiano, Giulio Andreotti, em outubro de 1990.

Os acontecimentos na Ucrânia, bem como em diversos outros pa
íses, parecem entretanto demonstrar que operações semelhantes existem ainda e ainda estão aterrorizando os europeus...

Leia o artigo abaixo para entender o que está ocorrendo de fato na Ucrânia:

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O novo Gladio na Ucrânia

Olhando para trás, para o golpe em Kiev e as informações fornecidas em nossas colunas durante o curso dos acontecimentos, Manlio Dinucci descreve um dispositivo de décadas de idade, usado pelos Estados Unidos e pela OTAN, como aparece hoje: um novo "Gladio," quer dizer, uma estrutura militar secreta capaz de manipular fatos políticos.
Parafraseando uma famosa série de televisão dos EUA: "O Pentágono vai negar qualquer conhecimento de suas ações..."

por Manlio Dinucci, REDE VOLTAIRE, Roma (Itália), 23 de março de 2014
"Delta", um antigo oficial do exército israelita, comandando uma milícia liderada por judeus durante a "revolução Ucrainiana".

Seu nom de guerre é Delta. Ele é um dos líderes militares da "revolução ucraniana", mesmo que, como ele mesmo diz, ele não se considere ucraniano. Sob o capacete, ele usa um kippa [NT: pequeno gorro usado pelos homens judeus ortodoxos]. A história foi lançada pela agência de imprensa judaica JTA (sediada em Nova York), depois de fazer uma entrevista anônima e fotografá-lo camuflado com um colete à prova de balas, o rosto escondido atrás de óculos escuros e um lenço preto [1].

"Delta" é um antigo veterano do exército israelense, que se especializou na guerra urbana como um membro da brigada de infantaria Givati, que esteve envolvida na Operação Chumbo Fundido e outros ataques em Gaza, incluindo o massacre de civis no bairro de Tel el-Hawa. Na Ucrânia há alguns anos, sob o disfarce de empresário, ele montou e treinou, juntamente com outros antigos soldados israelenses, os "Capacetes Azuis de Maidan", uma unidade de combate aplicando, em Kiev, as mesmas técnicas urbanas que foram experimentadas na faixa de Gaza.

Conforme ele disse à JTA, seu pelotão recebe ordens do Svoboda, isto é, de um partido que, por trás da sua nova fachada, mantém sua matriz neonazista. A fim de tranquilizar os judeus ucranianos, que corretamente se sentem ameaçados pelos neonazistas, "Delta" insistiu que a acusação de anti-semitismo levantada contra o Svoboda é "bobagem".

A presença de especialistas militares israelenses na Ucrânia é confirmada pelas informações retransmitidas pelo JTA e outras agências de notícias judias segundo as quais muitos dos feridos em confrontos com a polícia de Kiev foram imediatamente levados para hospitais israelenses, evidentemente para impedir que alguém revelasse quaisquer verdades mais inconvenientes. Como aquela sobre as pessoas que treinaram e armaram os atiradores na Praça Maidan que, com os mesmos rifles de precisão, dispararam contra os manifestantes e a polícia (quase todos atingidos na cabeça).

Estes fatos lançam uma nova luz sobre a forma como o golpe em Kiev foi organizado e implementado. Sob a direção dos Estados Unidos e da OTAN, a CIA e outros serviços secretos têm há anos recrutado, financiado, treinado e armado os ativistas neonazistas que, em Kiev, invadiram prédios do governo e em seguida foram nomeados para a "guarda nacional".

A documentação fotográfica que tem circulado recentemente na internet mostra jovens ativistas ucranianos, pertencentes à organização neonazista Uno-Unso, na Estônia, em 2006, sendo treinados por instrutores da OTAN em técnicas de guerra urbana e uso de explosivos para sabotagem e ataques [2]. A OTAN fez a mesma coisa durante a Guerra Fria para formar a estrutura paramilitar clandestina de "agir-por-trás", denominada "Gladio" [3]. Eles são ativos também na Itália, onde, em Camp Darby (base militar dos EUA perto de Pisa) e outros locais, treinaram grupos neofascistas para realizar ataques e perpetrar um possível golpe de estado. Uma estrutura paramilitar análoga foi criada e está funcionando hoje na Ucrânia, também utilizando especialistas israelitas.

O golpe de estado não teria tido êxito, no entanto, se a OTAN não tivesse cooptado uma grande parte dos escalões superiores da hierarquia militar ucraniana, treinando-os durante anos no Colégio de Defesa da OTAN e inserindo-os em "operações de paz". E não é difícil imaginar que, nas sombras da rede oficial, um segredo está à espreita. Assim, as forças armadas ucranianas atenderam à ordem da OTAN para permaneceram "neutras" enquanto o golpe de estado se desenrolava. Em seguida, eles foram substituídos por Andriy Parubiy, co-fundador do Partido Nacional Socialista renomeado Svoboda, que tornou-se Secretário do Comitê de Defesa Nacional, e pelo Almirante Igor Tenjukh, nomeado Ministro da Defesa, que também está ligado ao Svoboda.

Sem dúvida, o descarte (ou eliminação) daqueles oficiais considerados pouco confiáveis já está em andamento. Enquanto a OTAN, que de fato anexou a Ucrânia, pronunciou o referendo na Crimeia como "ilegal e ilegítimo".

Tradução
Marisa Choguill


NOTAS:

[1] «Militares israelíes en Maidan», Red Voltaire , 3 de marzo de 2014.

[2] “Manifestantes de Maidan formados pela Otan em 2006”, Traduction Alva, Rede Voltaire, 9 de Fevereiro de 2014.

[3] Leia: Daniele Ganser, NATO’s Secret Armies: Operation Gladio and Terrorism in Western Europe, 2005, Frank Cass, London and New York.