26 de abr. de 2014

O sistema capitalista está condenado

Veja abaixo outro ótimo artigo de Finni Cunningham.  Tenho lido os artigos deste jornalista há alguns anos, em vários sites, e eles parecem refletir meus próprios pensamentos.  Eu acredito que muitas pessoas pensam como nós, mas não têm a habilidade de escrever ou expressar suas idéias ou a oportunidade de divulgá-las.

Concordo com o autor que está na hora de começarmos a falar abertamente sobre o sistema econômico opressor em que vivemos.  De certa forma, este blog tem tentado mostrar exemplos dessa oprressão, e pretende continuar a fazê-lo.
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Pobreza e guerra condenam o capitalismo
Pobreza e guerras são indicadores do capitalismo como um sistema econômico falido, escreve Cunningham Fini.


Por Fini Cunningham, PressTV, sábado, 26 de abril de 2014 11:15 AM GMT

Os trabalhadores em países ocidentais agora são pagos tão mal que as empresas estão declaradamente achando lucrativo retornar da China – tendo mudado para a Ásia, em primeiro lugar, para explorar a mão de obra barata lá.

Esse é um indicador surpreendente de como o capitalismo criou uma corrida global ao poço da miséria para os trabalhadores – no entanto, a mídia corporativa ocidental ativamente oculta essa abominação.

Esta semana, um noticiário de negócios da BBC soou quase comemorativo sobre o fato de que a Grã-Bretanha, os EUA e outros países ocidentais têm agora "custo competitivo" com relação à China e ao Brasil. O resultado é que muitas firmas e empresas estão agora a se re-estabelecer em países ocidentais por causa dos salários "competitivos" dos trabalhadores, de acordo com a distorção da BBC.

A competitividade, disse a BBC, provinha do salários dos trabalhadores no oeste sendo "mantidos constantes" e porque eles "se tornaram mais produtivos".

Essa é uma linguagem orwelliana [referente às distorções da realidade pelo Estado totalitário na novela 1984, de George Orwell – nt], usada para obscurecer as condições de pobreza sistemática e exploração em que vivem muitos trabalhadores em países ocidentais – cuja escala é tão terrível que as empresas estão achando esses países mais lucrativos do que outros destinos que foram anteriormente pensados como fornecedores de mão de obra barata.

Tais empresas tinham anteriormente fechado, ou, como a linguagem orwelliana denomina, "reduzido" suas operações nos EUA, na Grã-Bretanha e em outros países ocidentais para aumentar seus lucros, aproveitando os baixos salários na China.

Mas, após vários anos com desemprego crônico pressionando os salários para baixo e política de governo facilitando cortes de salários, os trabalhadores no Ocidente agora foram transformados em um exército de mão de obra barata. Governos ocidentais estão também usando dinheiro do contribuinte para oferecer incentivos fiscais [como redução dos impostos corporativos – nt] às firmas atraindo-as a retornar – a fim de explorar o trabalhador comum cada vez mais intensamente.

Estima-se que o valor em termos de salário médio nos Estados Unidos é menor do que o que era na década de 1960 – meio século atrás. Isto tem levado a um enorme aumento da pobreza e à polarização da riqueza em mãos da pequena elite social. Os 400 indivíduos mais ricos dos Estados Unidos da América possuem mais riqueza do que metade da população, que consiste de cerca de 155 milhões pessoas. Um quarto de todos os trabalhadores americanos está oficialmente classificado como subsistindo abaixo da linha da pobreza. A figura real pode ser tão alta quanto 50 por cento.

Na Grã-Bretanha, por exemplo, o salário médio para um executivo de empresa é agora 120 vezes a de um trabalhador médio, de acordo com o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento. Vinte e cinco anos atrás, a diferença era de 49 vezes.

Deveria ser óbvio que pobreza, decadência social e vasta desigualdade não estão apenas sistematicamente associadas; mas, que essa situação abominável é uma indicação de que o capitalismo é um sistema econômico falho.

O surpreendente é que a mídia e os políticos ocidentais vivem negando completamente essa realidade evidente. É óbvio que o sistema capitalista de lucro privado para uma pequena minoria social deve ser condenado abertamente e que é impraticável como um sistema de organização social, baseado como é na exploração maciça de seres humanos. Mas, quando você ouve esse assunto a ser discutido por figuras públicas no Ocidente? É como o proverbial elefante, ou talvez devêssemos dizer dinossauro, na sala a ser ignorado.

O que o público ocidental precisa fazer é forçar esse tópico em conversa aberta. Os políticos e a mídia corporativa precisam ser tratados com desprezo por sua negação e desinformação sobre a mais premente realidade do nosso tempo – a destruição das sociedades sob o capitalismo.

Só porque as elites políticas e os meios de comunicação não falam sobre o capitalismo não significa que nós devemos suprimir esse assunto também. Se o fizermos estaremos nos conformando a esse "grupo pensante".

As pessoas deveriam entender que todos os partidos políticos existentes nos países ocidentais – sejam eles chamados Republicano ou Democrata, Conservador ou Trabalhista– são todos, como a grande mídia, defensores do capitalismo. Eles se beneficiam do sistema e nunca reconhecerão suas limitações; muito menos o contestarão. A mesma crítica se aplica à maioria dos sindicatos, cuja liderança também é beneficiária do sistema.

Chegou a hora de um genuíno socialismo em que a economia é organizada e planejada através da participação pública e onde a produção é orientada por necessidades humanas, e não pelo lucro privado. Historicamente, o capitalismo tornou-se redundante como um sistema de organização social. Não apenas redundante; o capitalismo degenerou-se em inimigo do mundo, ameaçando nossa sobrevivência. Está a destruir a vida humana através de uma exploração implacável. O sistema é insustentável, perverso e irracional.

Além disso, o desejo insaciável de lucro privado também está orientando a rivalidade geopolítica que inevitavelmente se manifesta na guerra. A guerra não é só boa para os investidores capitalistas; ela também distrai a atenção do público para além do dinossauro na sala.

Parece haver pouca dúvida de que Washington e seus aliados ocidentais estão tentando provocar uma guerra com a Rússia não fora de qualquer princípio jurídico, mas simplesmente para desviar a atenção da guerra de classe que está sendo travada contra os trabalhadores e a maioria das pessoas em suas próprias sociedades.

Apesar da censura oficial eficaz sobre o assunto, o público occidental precisa começar a falar insistentemente sobre o capitalismo e sua destruição das sociedades, do ambiente natural e das relações internacionais a tal ponto que uma guerra nuclear está sendo irresponsavelmente arriscada.

A mídia alternativa, como a PressTV, merece grande crédito por sua liberdade de pensamento, levantando este urgentemente necessário debate público sobre o capitalismo e a necessidade premente de sua abolição. É também em parte por isso que o público ocidental está abandonando sua mídia em massa e olhando para alternativas como PressTV.

É um absurdo, mas profundamente revelador, como a mídia corporativa ocidental recusa quaisquer vistas ou discussões sobre o capitalismo e o seu impacto abominável de pobreza e belicismo.

Como a revolucionária alemã Rosa Luxemburg disse uma vez, estamos diante de uma escolha entre a presente barbárie sob o capitalismo, ou a criação de um novo mundo democrático, viável, sob o socialismo.

Um primeiro passo seria o público ocidental começar a falar e a pensar abertamente sobre a irracionalidade destrutiva do capitalismo. É disto que os políticos ocidentais e a elite rica, incluindo a mídia, têm mais medo. Eles temem o momento em que a maioria das pessoas vai começar a gritar "o rei está nu!"

FC/HMV


* Fini Cunningham (nascido em 1963) tem escrito extensivamente sobre assuntos internacionais, com artigos publicados em várias línguas. Ele é formado em mestrado em química agrícola e trabalhou como um editor científico para o Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir uma carreira no jornalismo. Ele também é músico e compositor. Por quase 20 anos, ele trabalhou como editor e escritor em grandes organizações, incluindo The Mirror, Irish Times e Independent . Originalmente de Belfast, na Irlanda, ele agora está morando no leste da África com jornalista freelance, onde está escrevendo um livro sobre Bahrein e a Primavera Árabe, com base na experiência de testemunhas oculares; trabalhando no Golfo Pérsico como editor de uma revista de negócios e, também, como correspondente de notícias freelance. O autor foi deportado de Bahrein, em junho de 2011, por causa de seu jornalismo crítico, em que ele destacou as violações sistemáticas dos direitos humanos pelas forças do regime. Ele é também colunista de política internacional para a PressTV e para a Strategic Culture Foundation.

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