21 de out. de 2016

O declínio dos EUA vai custar caro pra alguém...


Importantes feitos estão acontecendo no mundo neste momento. Embora muitos não estejam prestando atenção, é importante procurarmos divulgá-los para tentar conscientizar a todos - o conhecimento desses fatos e de suas implicações pode facilitar o caminhar da história, evitando conflitos inúteis, superados. Por isso, este blog está publicando abaixo a tradução de mais um artigo importante de Thierry Meyssan. Confira:
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O preço do destronamento

Washington está tentando manter sua posição sem ter que desencadear uma Terceira Guerra Mundial; mas, esta parece uma tarefa impossível. Moscou está oferecendo aos EEUU uma porta de saída segura dos conflitos da Síria e do Iêmen. Mas, caso os Estados Unidos escolham essa via, eles terão que abandonar alguns dos seus aliados.

Thierry Meyssan, Rede Voltaire | Damasco (Síria) | 19 de Outubro de 2016


 
   A águia calva, símbolo dos Estados Unidos

Desde o colapso do acordo da cessação das hostilidades durante as celebrações da festa muçulmana do Eid, um fosso cavou-se entre a atmosfera despreocupada das sociedades ocidentais e a seriedade das sociedades russa e chinesa.

Em Moscou, a televisão difunde informação sobre abrigos antiatômicos e organização de grupo de ‘ataque’, enquanto em Washington se zomba da paranóia dos russos que acreditam na possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.

Todavia, as duas grandes potências estão trocando mensagens que intimidariam qualquer um. Após as ameaças norte-americanas de de bombear a Síria, Moscou rompeu o acordo sobre a limitação dos estoques de plutônio, e ajustou seu sistema de lançamento de bombas nucleares disparando três mísseis intercontinentais. O porta-voz do exército russo avisou seus colegas, e anunciou que o seu equipamento estava à altura de destruir qualquer aeronave dos EU, quer se trate de mísseis de cruzeiro ou aviões de caça ‘invisíveis’. O Chefe do Estado Maior do Exército dos Estados Unidos orgulhosamente replicou que, em caso de guerra frontal, as forças aéreas e as marinhas dos dois exércitos seriam rapidamente neutralizadas, e que Washington ganharia a guerra em terra firme. Essas declarações belicosas pouco impressionaram os Russos; mas, inquietaram os membros do Congresso a tal ponto que 22 dentre eles escreveram ao Presidente Obama para lhe pedir que se comprometesse a não ser o primeiro a desencadear a guerra nuclear. Moscou deu instruções aos seus diplomatas colocados em países da OTAN para repatriar suas famílias e ficar prontos a voltar pra casa também.

No passado, os Romanos garantiam que «Se queres a paz, prepara-te para a guerra!» (Si vis pacem para bellum). A ideia era que, durante um período de disputa internacional, a vitória seria obtida, sem guerra, pelo lado que parecesse capaz de ganhá-la fazendo uso de seu poder militar.

O facto é que a população russa está-se preparando para a guerra (por exemplo, esta semana, 40 milhões de russos participaram em exercícios de evacuação de edifícios e de combate a incêndios), enquanto os Ocidentais continuam a se divertir despreocupados nos centros comerciais.

Evidentemente, podemos esperar que a razão prevaleça e que evitemos a Terceira Guerra Mundial. Seja como for, essa discussão atesta para o fato de que o que está em jogo na Síria, há cinco anos, não é aquilo que pensamos. Enquanto no início, o Departamento de Estado se preparava para executar o seu plano da «Primavera Árabe» - em outras palavras, a derrubada dos regimes laicos (profanos) da região a fim de substituí-los pelos Irmãos Muçulmanos -, a Rússia e a China concluíram rapidamente que o mundo não podia continuar a ser governado pelos Estados Unidos; e que eles não deveriam mais estar em posição de decidir a vida e a morte dos Povos.

Ao cortar a histórica Rota da Seda na Síria, e depois a nova Rota da Seda na Ucrânia, Washington inibiu o desenvolvimento de ambos os países, China e Rússia, forçando-os a trabalharem juntos. A resistência imprevista do povo sírio forçou os Estados Unidos a arriscar o seu domínio mundial. O mundo, que se tornara unipolar em 1991 com a «Tempestade do Deserto» [‘Desert Storm’], está agora prestes a voltar à sua condição bipolar, e irá talvez tornar-se multipolar, mais tarde.

Em 1990-91, a mudança na ordem mundial impôs-se sem guerra (a invasão do Iraque não foi a causa disso, mas a consequência); mas, às custas do colapso interno da União Soviética. O nível da vida dos ex-soviéticos caiu de maneira drástica - sua sociedade foi profundamente desorganizada; as suas riquezas nacionais pilhadas a pretexto de serem privatizadas; e sua esperança de vida recuou mais de 20 anos. Depois de ter acreditado a princípio que esta derrota ocorrera por causa do sovietismo, sabemos agora que a queda da URSS foi também – e talvez sobretudo— fruto da sabotagem da economia pela CIA.

Não é, pois, impossível alcançar um reequilíbrio mundial sem confrontação generalizada. E, para evitar uma Guerra Mundial, a discussão entre John Kerry e Sergey Lavrov deslocou-se da batalha de Alepo para um cessar-fogo geral para toda a Síria e também para o Iêmen. E, de fato, acaba de ser anunciada uma trégua de 8 horas em Alepo e de 72 horas no Iêmen.

O problema é que os Estados Unidos não podem rebaixar-se a uma posição de igualdade com a Rússia de seu inegável primeiro lugar - do qual eles se apoderam pela força e tão mal utilizaram - sem pagar o devido preço, por si mesmos ou com seus aliados.

Estranhamente, os cinco estados árabes, a Turquia e o Irão, que foram convidados no sábado, por Kerry e Lavrov, a ir a Lausana, saíram satisfeitos da reunião. No entanto, era seu futuro que estava em jogo. Nenhum deles parece achar que cabeças irão rolar, como rolaram as dos dirigentes do Pacto de Varsóvia. Na situação atual, é possível abstermo-nos do aniquilamento de uma parte da humanidade; mas, a importância do declínio norte-americano será medida pelo número e pela importância dos aliados que eles irão sacrificar.



Tradução: Alva (Portugal) / Marisa Choguill (Brasil)

Fonte: Al-Watan (Síria)


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