26 de out. de 2010

Quem está ganhando com a geoengenharia?

Geoengenharia refere-se à interferência e à modificação em larga escala da natureza.

Este é um assunto difícil.  Temos extraído da natureza tudo aquilo que nos beneficia, desde os alimentos – plantas e animais – até os recursos minerais.  E, fazendo uso da tecnologia que desenvolvemos para modificar os recursos naturais extraídos, procuramos melhorar nossas condições de vida.
Isso vem acontecendo há tempos.  Não apenas fazemos parte do eco-sistema planetário, como também temos feito intervenções drásticas nesse eco-sistema há milhares de anos.  Como diz Radamés Manosso (ECOnservar), ' já devastamos a cobertura vegetal de continentes inteiros;  extinguimos muitas espécies;  contaminamos a maioria dos ecossistemas com poluição;  provocamos a desertificação de grandes áreas;  secamos rios e mares;  construímos grandes barragens, aterros e ilhas artificiais;  introduzimos espécies exóticas agressivas em outros biomas e estamos alimentando o aquecimento global.  Essa geoengenharia de devastação permitiu à nossa espécie conquistar o planeta, mas deixou uma fatura a ser paga.' (grifo meu)
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Nos dois últimos séculos, entretanto, a tecnologia, nas mãos principalmente dos 'países desenvolvidos', avançou o suficiente para causar grande impacto.  Por isso, as mais recentes e gigantescas interferências na natureza precisam ser cuidadosamente analisadas, em condições livres da influência de grupos interessados, pois podem representar perigo para o futuro da vida no planeta.  De fato, métodos de análise de impacto ambiental foram desenvolvidos recentemente com o intuito de medir o impacto de futuras interferências no meio-ambiente e prevenir grandes desastres, embora tais análises não possam evitar que certas interferências consideradas perigosas continuem a ser permitidas, com a justificativa de serem consideradas beneficiais.  Os mais recentes investimentos de certos 'países desenvolvidos' em geoengenharia, justificados como sendo necessários para acalmar um suposto 'aquecimento global', demonstram isso.
A 'teoria' do 'aquecimento global' começou a tomar corpo desde meados do século passado.  Entretanto, muitos cientistas disputam essa 'teoria'  'na sua totalidade ou em parte, questionando se um 'aquecimento global' está realmente acontecendo, se a atividade humana está a contribuir significativamente para isso, e qual a sua magnitude.'  (Wikipedia;  grifo e aspas meus)  Pouco se fala sobre outros problemas ligados aos problemas ambientais, suas possíveis causas e formas de controlá-los, como a destruição de habitats humanos por atividades mineiras, agrícolas, ou de turismo.  O problema social resultante do pernicioso abuso da natureza com fins lucrativos é talvez o problema cuja solução deveria ser priorizada, pois envolveria igualmente a solução de problemas ecológicos.  Um exemplo é a remoção forçada de habitantes nativos da região em que têm vivido em completa harmonia com a natureza, há séculos, quando esta se torna alvo de grandes planos produtivos por governos ou empresas capitalistas poderosas.  O desemprego, a miséria e a descriminação social que passam a fazer parte das vidas dessas comunidades deslocadas inflingem a elas penosos sofrimentos.  Tais planos produtivos, portanto, além do impacto ambiental que causam, abusam ainda dos direitos humanos mais fundamentais, o que justifica análises de seu impacto social para evitar danos às classes menos privilegiadas da sociedade.
Não cabe a este blog entrar a fundo no debate sobre o 'aquecimento global'.  Sabemos, entretanto, que há muitos interesses investidos em uma abordagem exclusivamente econômica desse 'problema', principalmente nos países industrializados.  Essa nova geoengenharia serve exatamente a esse tipo de abordagem pois ela tem 'vícios da velha geoengenharia informal que o homem tem praticado há séculos:  ataca os sintomas e ignora as causas;  cria uma espiral crescente de gastos de recursos e apresenta efeitos colaterais inaceitáveis'  (ECOnservar;  grifo meu).  Dessa forma, fica difícil de acreditar que os governos daqueles países capitalistas estejam sendo altruístas em seus empreendimentos de combate ao suposto 'aquecimento global'.  Desconfia-se até de que a noção de 'aquecimento global' seja parte de um plano secreto para manter os países empobrecidos acorrentados em suas algemas de subordinação.
A raíz dos muitos problemas que estão a nos ameaçar no nosso 'lindo balão azul' (como dizia Guilherme Arantes nos idos anos de 1970) está na insaciável sede de lucros que é característica vital do sistema capitalista.  Nesse sistema, os capitalistas se apropriam e tiram vantagem da tecnologia avançada, criando, através da propaganda, 'desejáveis' objetos de consumo, mesmo que supérfluos, ou justificativas ruidosas para seus investimentos, com o fim de 'produzir' ininterruptamente e maximisar seus lucros.  O poder dos capitalistas é enorme;  seu controle dos meios de comunicação e dos governos (através de lobbies) tem feito com que seja quase impossível desafiá-los.  Entretanto, os problemas ambientais e sociais que causam deveriam justificar o fim de suas práticas predatórias.
Tecnologia é importante; sem dúvida.  E produção em massa é desejável do ponto de vista social e econômico.  O que está errado é a propriedade privada dos meios de produção, pois tira a possibilidade da decisão coletiva.  O caso da nova geoengenharia ilustra bem esse ponto.  Como nunca antes, o desenvolvimento tecnológico chegou a um patamar onde a decisão social quanto ao seu rumo se torna essencial.
'As Nações Unidas deveriam parar os experimentos da geoengenharia'
Fonte:  PressTV, 21 outubro 2010

Representantes de quase 200 países estão reunidos em Nagoya, no Japão, para procurar formas de lutar contra a destruição de florestas, rios e recifes de coral que suportam a vida, bem como economias, em todo o mundo.  Alguns funcionários das Nações Unidas acreditam que a 'mudança climática' é uma das principais causas para as rápidas perdas na natureza, e que projetos de geoengenharia podem combater o 'aquecimento global' e sustar extremas secas, inundações e a subida do nível do mar.
Alguns países gastam bilhões de dólares em projetos de geoengenharia para 'reduzir a mudança climática', isto é, para reduzir a quantidade de luz solar que atinge a terra ou para absorver emissões de gases, principalmente dióxido de carbono.
Ambientalistas, no entanto, dizem que os riscos de tais projetos são muito grandes, porque os impactos da manipulação de natureza em grande escala não são totalmente conhecidos.  Eles dizem que projetos como vulcões artificiais, regimes de grandes nuvens de semeadura e aplicação de ferro nos oceanos para estimular o crescimento de algas que absorvem dióxido de carbono poderão prejudicar tanto a natureza quanto a humanidade, e dizem que as Nações Unidas devem impor uma moratória sobre os projetos de geoengenharia.
Pat Mooney, do grupo ETC, baseado no Canadá, disse à agência Reuters que "é absolutamente inadequado que um grupo de governos de países industrializados tome a decisão de usar geoengenharia sem a aprovação do resto do mundo.  Eles não devem proceder com experimentos na vida real, no ambiente, com a implantação de qualquer projeto de geoengenharia, até que haja um consenso nas Nações Unidas de que isso é bom."
O painel do clima da ONU diz que a geoengenharia será revista em seu próximo relatório, em 2013.  (PressTV)

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