1 de ago. de 2014

Considerações sobre a luta de classe global: a estratégia de alianças dos povos e o futuro da humanidade

Atualizado em 12 de junho de 2014


As crises


Estamos vivendo em uma época de grave crise: econômica, social, institucional, política, cultural... Isso tem resultado em uma enorme instabilidade, e tem reforçado a luta de classe em todos os níveis.

As crises (que são características do capitalismo) são bastante comuns e complexas. A economia, sensível indicador das crises, tem estado em situação muito ruim por um bom tempo, e isso já aconteceu antes. Também não é nova a especulação no sistema financeiro, possível com a des-regulação: os 'esquemas Ponzi' tornaram-se populares desde a década de 1920. Em 2007/2008, o sistema financeiro global quebrou porque estava fundado em tanta especulação que não mais poderia continuar...

Logo após essa quebra, com o dinheiro dos contribuintes, os banqueiros dos países mais desenvolvidos economicamente foram escandalosamente socorridos, e, a seguir, eles puderam endinheirar-se ainda mais (e continuam a fazê-lo!) com as medidas conhecidas como QE (‘quantitative easing’: quando o dinheiro faz-de-conta impresso – cujo valor é baseado na confiança – caiu do 'céu' em seus cofres). Foi um grande roubo do dinheiro do povo seguido por um grande acúmulo de dinheiro fictício.

Isto pode ter salvo os banqueiros; mas, não salvou a economia – e não alterou os princípios que causam as crises.

Os banqueiros precisam de uma recuperação econômica: eles não vão obter ‘lucro ' (sob a forma de juros) se os investidores não emprestarem seu (na verdade, nosso!) dinheiro e investirem na atividade produtiva. Então, eles apostam que essa recuperação pode ser alcançada e, de acordo com suas fantasias, quando isso acontecer, eles serão capazes de aumentar a taxa de juro e obter grandes ganhos.

Agora, eles estão apostando em que chegou o momento de 'pagar' aos investidores para que façam empréstimos e, então, criem empregos e riquezas. Se tiverem sorte – o que eles acreditam que têm! –, a economia será 'reiniciada'.

O problema é que os investidores não estão emprestando – e investindo e arriscando grandes perdas (como os mimados banqueiros o fazem) – porque eles (justificadamente) estão com medo de que não haja suficiente consumo de novos produtos.

Pode-se ainda levantar outro ponto: os banqueiros não têm nada a perder com a 'deflação' e oferta de dinheiro a juros abaixo de zero. Novamente, as pessoas comuns são as únicas a perder porque, se tiverem alguma poupança/investimento, ou se sua aposentadoria depender dos juros de sua poupança, elas estarão condenadas porque suas economias irão reduzir-se com o tempo... A partir dessa perspectiva, pode-se deduzir que o novo passo dos grandes banqueiros – reduzir a taxa de juros abaixo de zero para estimular a economia – é de seu interêss e constitui-se, em parte, em outro confisco – agora, tentando revertê-lo para a economia estagnada...

Os banqueiros perderão sua aposta.

Existem duas contradições principais que jogam uma contra a outra e que minam seus planos: demasiada disparidade (e irremediavelmente baixo consumo) e continuado e elevado investimento em guerras (que se tornaram a única mercadoria com um crescente mercado/demanda realizável, pois os capitalistas e seus governos as financiam – com o dinheiro dos impostos!).

Como explicar essas guerras?

A luta de classe global


Essas guerras nada mais são do que expressões de uma luta de classe global, resultado da tentativa de barrar a rebelião dos povos contra a agressão e a exploração por uma elite muito rica – que inclui os banqueiros em seu núcleosão guerras contra os povos mais oprimidos tentando barrar sua luta inexorável contra a desigualdade, contra a dicotomia perversa do capitalismo-imperialismo onde o enriquecimento de poucos ocorre às custas do empobrecimento da maioria em escala global.

Enquanto no passado a luta de classe era travada entre empregador e empregado, o
s protagonistas dessa luta, hoje, s
ão os países, os Estados, conforme os povos do mundo têm sido divididos para serem comandados.  Assim, de um lado estão os países que enriqueceram às custas da exploração de outros países – liderados pelo império americano e sua máquina de guerra –;  e de outro lado estão os países que continuam a ser explorados sob os mais diversos mecanismos e cujos povos estão-se levantando – incluindo Russia e China que, embora tenham conquistado sua independência no passado, estão sendo agora ameaçados.

As evidências são claras:

Há mais de 5,2 bilhões de pessoas no mundo (cerca de 80% da população mundial 95% da população do Terceiro Mundo) vivendo com menos de US$ 10 por dia/pessoa (no Brasil, isso equivale a cêrca de R$ 600,00/mês/pessoa); 2,3 bilhões dessas pessoas estão vivendo com menos de US$ 2,5 por dia/pessoa (isso equivale a cêrca de R$ 150,00/mês/pessoa). Vale lembrar que em muitos países do Terceiro Mundo essas pessoas não têm direito a benefícios sociais de qualquer tipo: auxílio desemprêgo (a vasta maioria nunca teve emprego formal), auxílio alimentação, auxílio habitação, auxílio saúde, auxílio educação...

Ao mesmo tempo, 85 indivíduos apenas possuem tanta riqueza quanto metade das pessoas mais pobres do mundo (3,5 bilhões de pessoas). 'Uma estimativa conservadora para 2010 diz que pelo menos um terço de toda a riqueza financeira privada, e quase a metade de toda a riqueza no exterior, é agora propriedade das 91.000 pessoas mais ricas do mundo – apenas 0,001% da população do mundo.E essa concentração de riquezas só está piorando
...

Qual sistema econômico poderia sobreviver a tal disparidade na distribuição de riquezas sem repressão violenta?

Não é de admirar que o estado capitalista-imperialista selvagem não tenha outra escolha senão recorrer a guerras e 'revoluções coloridas ' para se manter, liderado pelo imp
ério americano com seu inigualável arsenal bélico e sua sede de hegemonia. Assim, multi-milionários e bilionários estão a travar uma luta de classe em escala mundial, contra todos os povos do mundo, para manter o sistema e seus privilégios.  Desde a queda da União Soviética, em 1991, houve mais de 90 (noventa!) conflitos/guerras  (ver aqui e aqui) e mais de 30 'revoluções coloridas', geralmente terminando em golpes de estado, principalmente na África, América Latina, Europa Oriental, Oriente Médio e Sudeste da Ásia, isto é, nos países economicamente explorados:  mais de 120 guerras/ golpes/ conflitos!   Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, houve mais de 250 guerras/ golpes/ conflitos para barrar as lutas dos povos oprimidos contra o imperialismo, pela soberania.  Mais de 50 milhões de pessoas morreram nessas guerras capitalistas.


Essa luta de classe não pode ser ganha pela classe dominante global cujo objetivo é manter o status quo. Travar guerras abertas e implementar estratégias de guerra para reprimir, evitar ou controlar genuínas revoltas contra as terríveis disparidades na distribuição de riquezas, sem tomar medidas efetivas para pelo menos reduzir tais disparidades, levará a guerras permanentes porque enquanto existirem disparidades haverá revolta. E onde houver revoltas haverá reduzidas possibilidades de que investimentos capitalistas sejam bem-sucedidos  exceto aqueles voltados a guerras. Portanto, para recuperar a economia real é preciso reduzir a desigualdade, acabando assim com as revoltas e aumentando o consumo. Mas, isso seria resolver a maior contradição do sistema que é a exploração do trabalhador pelo capitalista; para tanto, é preciso superar o sistema!

Do ponto de vista da R
ússia e da China isso tambéé verdade pois seus povos compreendem que estão lutando contra o mesmo inimigo.

Embora a luta de classe possa durar anos ou décadas, e outros milhões de pessoas possam vir a morrer no mundo todo em sua irrevogável guerra de resistência contra condições de vida opressivas – que se constituem nas condições objetivas para a luta de classe –, ela está tornando o sistema inviável, se é que já não o fêz, assim como sistemas econômicos anteriores se tornaram inviáveis pelas suas próprias contradições internas e foram eventualmente suplantados – como Marx disse, 'a história de toda sociedade até aqui é a história da luta de classe'.  Tal fracasso está aparente na economia capitalista-imperialista irremediavelmente estagnada e no efeito dessa estagnação sobre a classe oprimida, os trabalhadores do mundo, os outros 99,99%!

Portanto, os trabalhadores do mundo, empregados ou não, em todos os países do mundo, imperialistas ou não, estarão cada vez mais unidos na vanguarda de uma luta de classe inevitável que, na presente etapa, crucial nessa luta, toma uma forma sangrenta em escala global.  Vencendo essa guerra de classe, eles quebrariam a dicotomia do capitalismo-imperialismo e poriam fim a esse sistema opressor.  Entretanto, na presente etapa, trata-se de uma luta muito desigual...

A guerra global que está sendo travada contra os povos do mundo é acima de tudo imoral:  o letal arsenal de guerra das forças imperialistas tem sido em grande parte adquirido com dinheiro usurpado dos seus cidadãos  (através de impostos) e dos povos contra os quais os estão usando  (através de 'investimentos' coagidos em seus países para a exploração de seus recursos e mão-de-obra).  De forma extremamente feroz e traiçoeira, empreendida contra povos destituídos de arsenal de defesa adequados, e sem atendimento às mais elementares normas de guerra, essa guerra poderia certamente ser vista como o 'holocausto dos povos oprimidos do mundo' pois, até agora, tem resultado apenas em massacres...

Há outros fatores que complicam a situação para a classe oprimida. Uma ferrenha campanha de desinformação/propaganda da m
ídia capitalista defende e justifica conspirações e massacres. Além disso, nenhum espaço de manobra é ignorado e novas estratégias letais são criadas a cada dia para dominar os povos.

O que parece aparente, entretanto, é que os imperialistas, liderados pelo império americano, cometeram um êrro grave ao mover-se contra dois países independentes e resolutos, em sua incontrolável obsessão pela hegemonia:  Rússia e China.

A aliança dos povos


A Rússia e a China, que estão em uma posição menos vulnerável tendo em vista seu arsenal bélico e sua economia mais independente, reconhecem a gravidade da situação e se opõem aos massacres dos imperialistas; por causa disso, são tidos como inimigos pelos países imperialistas que justificam assim cêrcos e ameaças militares ou econômicas (sanções econômicas) contra esses países. Nenhuma lei internacional é acatada pela classe dominante imperialista, que usa a força, impunemente, para defender seus interesses. Tal capacidade de forçar o controle total sobre os destinos dos povos, tal hegemonia, tem desafiado até hoje todas as tentativas de mudança. Como a resistência da Rússia e da China continua, fala-se mesmo da inevitabilidade de uma guerra termonuclear, iniciada pela classe opressora a fim de forçar a subordinação desses países. É porque esses países, corajosamente, se recusam a ceder aos imperialistas que a humanidade vive um momento de confronto mortal.

Ao
aliar-se a outros países oprimidos em sua luta pela soberania, a Rússia e a China se posicionam na vanguarda, ou mesmo na liderança dessa luta, e nos indicam seu destino.  Não devemos julgar esses países como sendo apenas outro bloco em busca de capital financeiro e poder porque os líderes da Rússia e da China, bem como os líderes dos povos que estão a aliar-se a eles, são genuinamente representantes de seus povos e não apenas de suas elites endinheiradas – daí sua posição contrária ao imperialismo. Pode-se argumentar que, com a rea
ção da Rússia e da China às ameacas imperialistas, o ponto de inflexão da luta de classe foi irremediavelmente atingido e os povos do mundo podem-se prepar para seu momento de glória.

É por isso que vivemos um momento muito perigoso na história.

A pergunta a fazer não é se a classe dominante imperialista poderia explodir-nos a todos, pondo fim aos nossos sonhos – e aos deles – e fazendo da sobrevivência de alguns uma luta dolorosa. Visto que sabemos bem que essa classe pode fazer o que bem-entender com os arsenais que controla, a pergunta a fazer é se ela realmente o faria, se teria coragem de destruir bilhões de vidas humanas, ou talvez toda e qualquer possibilidade de vida no planeta, para evitar sua queda, para barrar a mudança do sistema econômico. Só o que podemos fazer é esperar que ponderem cautelosamente antes de tomar qualquer decisão... E, caso queiramos acreditar que a elite não tomaria uma decisão tão destrutiva, qual poderia ser então o resultado final do presente confronto?

Em sua obstinada luta pela hegemonia, o império americano está-se tornando na ant
ítese daquilo que anteriormente era:  de guardião do capital global, começa a se tornar seu algoz, criando barreiras à expansão de parte desse capital e ameaçando a todos de extinção.  Como resultado, sinais de ruptura da estrutura de poder global começam a aparecer, enquanto o bloco de oposição ao imperialismo se organiza e fortalece.  Isso indica que grandes mudanças ocorrerão em breve e que a nova etapa da acumulação capitalista, embora temporária, deverá ocorrer sob controle social, atendendo às necessidades fundamentais da sociedade e não apenas às necessidades de lucro e acumulação do capital.  Como resultado da luta de classe global, um novo sistema econômico e social começa a tomar forma diante de nossos olhos.

Os falcões que têm atacado os povos do mundo não serão barrados por argumentos – tudo o que eles escutam é o poder e a força. Mas, em última instância, eles estão apenas executando ordens e sendo pagos para isso!  Os verdadeiros comandantes do belicismo internacional, os membros do
círculo interno do poder, bem protegidos em seus ‘quartéis generais’, com certeza estão assessando a situação para ver até onde podem chegar. Talvez alguns deles não queiram acreditar que seu fim enquanto classe hegemônica est
á próximo...  Mas, em um certo momento, eles terão que ceder.

É compreensível que eles não queiram sujeitar-se à humilhação e à violência vingativa que sem dúvida adviriam em caso de uma revolução do tipo da Revolução Russa de 1917, e que talvez por isso estejam congelando sua posição; mas, trata-se de uma nova época da história e tal final n
ão consta do script.

Uma solução diplomática, desenhada para 'salvar as aparências (ou a pele)’ da elite dominante enquanto permitindo o desabrochar de um novo mundo em todos os cantos da terra, seria a saída ideal da luta de classe global vencida pelos povos do mundo. Vista historicamente, a mudança do sistema é inevitável;  tal solução diplomática seria, portanto, sábia e oportuna, e evitaria ainda mais destruição e sofrimento.

Todavia, embora a diplomacia esteja sendo tentada pela Rússia, pela China e por outros países a travar aquela luta de classe, ela está sendo teimosa e perigosamente recusada pelos imperialistas...

As crises do capital têm criado muitos problemas para os capitalistas-imperialistas. A atual crise, além dos problemas descritos acima, derrubou as barreiras para outras alternativas econômicas para muitos dos países dominados. Por isso, países como Rússia, China, Brasil, Índia (BRIC) e outros, por serem territorialmente maiores e terem uma base econômica relativamente mais desenvolvida em suas respectivas regiões, estão tendo uma oportunidade de se fortalecer (a situação econômica e social da Rússia e da China é, entretanto, muito superior à dos outros pa
íses da resistência). A multipolaridade, a repartição do planeta entre um grupo reduzido de potências econômicas regionais substituindo a unipolaridade do império americano, está tomando forma de uma maneira inesperada (embora esta seja uma situação temporária pois o sistema tende a despolarizar-se). Diante da seriedade da situação, alianças contra a hegemonia capitalista-imperialista estão ocorrendo, estabelecendo uma economia de resistência paralela e um poder de luta que visam abertamente libertar os povos do mundo contra a opressão. Sua meta final é forçar uma solução diplomática para o conflito. Do sucesso dessas alianças depende o resultado da luta de classe global e o futuro da humanidade.

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