Lenin mostrou que, no fim do século XIX, seguindo a lógica do capitalismo – promover o lucro e o enriquecimento dos capitalistas –, a nova oligarquia financeira da Europa, principalmente da Inglaterra, vislumbrou abarcar novas fontes de matérias-primas e novos mercados fora da Europa a fim de obter mais lucros. Em pouco tempo, isso levou a um acirramento do confronto entre os grandes monopólios pelos recursos econômicos e, mais tarde, pelas demandas mundiais criadas pelo capitalismo globalizado. Como resultado, perpetrou-se uma partilha do mundo entre as associações de capitalistas, o que gerou uma política de conquista das terras ‘não ocupadas’ (colônias) – a corrida foi tal que, em 1916, não havia mais, no mundo, nenhum território ‘não ocupado’.
Isso estabeleceu, conforme a análise de Lenin, novas relações sociais de produção – a luta de classes elevou-se ao âmbito global e transformou-se na luta dos povos dos países colonizados (empobrecidos ou ‘subdesenvolvidos’) contra os imperialistas.
Mas, essa luta de classe, que tem por objetivo a extinção do imperialismo, implica na união das nações colonizadas em sua luta contra o imperialismo, enquanto a extinção do imperialismo implica também na extinção do próprio capitalismo, visto que as relações sociais estabelecidas pelo capitalismo globalizado, que permitem a extração do lucro nessa fase avançada do capitalismo, deixam também de existir. Por isso, as potências imperialistas, comandadas pelas elites capitalistas, coludem em suas políticas em relação aos países dominados com o objetivo de evitar sua união. Essa é a lógica perversa do sistema de relações internacionais, que condena bilhões de pessoas à miséria, à violencia e à morte pelos privilégios da pequena e criminosa elite capitalista.
Entretanto, o sistema capitalista contem muitas contradições. Como o brilhante trabalho de Marx mostrou, trata-se de um sistema onde a acumulação das riquezas tende a ser concentrada cada vez mais em poucas mãos. Isso também se aplica às nações imperialistas, onde se observa confrontos e rivalidades com o objetivo de estabelecer impérios. Tais confrontos levaram milhões de seres humanos, no século passado, a lutar e morrer em duas Guerras Mundiais onde os únicos beneficiários foram os ricos capitalistas.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o império dos EEUU se estabeleceu como a maior potência mundial comandando uma hierarquia de nações, isto é, uma hierarquia onde as elites capitalistas de outras nações imperialistas estariam sob a ‘proteção’ da elite dos EEUU, apoiando suas iniciativas. O objetivo de tal ‘ordem mundial’ seria manter a relação social de exploração no sistema globalizado, ou seja, manter as colônias em sua condição de subordinação.
Embora tal ‘ordem mundial’ tenha dado resultados por algum tempo, a lógica da concentração do capital não coopera com a idéia de permanência desse esquema. Os capitalistas dos EEUU enriqueceram muito mais do que os de todas as outras nações, enquanto os níveis de miséria nos países explorados atingem hoje níveis nunca vistos na história da humanidade. Para completar o quadro de contradições, as crises inerentes ao capitalismo nunca foram eliminadas e, hoje, atingem um nível de complexidade impossível de ser manejado.
Como resultado, todos os povos do mundo, incluindo os dos países imperialistas, encontram-se hoje ameaçados pela continuada existência de um sistema econômico-social incontrolável e destruidor. Em meio à grave crise atual, os povos das nações imperialistas estão tendo que pagar o alto preço da luta de classe global que se aguça a cada dia, enquanto aumentam a destruição e os crimes contra os povos colonizados a fim de manter sua condição subalterna e sua exploração. Tudo em nome do capital, dos privilégios da pequena elite dona do mundo.
Mas, o crescendo de contradições do capitalismo está levando os povos do mundo à conscientização da necessidade de superá-lo, substituindo-o por outro sistema econômico onde a lógica da acumulação capitalista seja substituída pela lógica do bem-estar social e da dignidade do ser humano - afinal, a história continua sua caminhada.
O artigo abaixo levanta os enormes custos da loucura imperialista para barrar o caminhar da história, e analisa a situação da Itália, uma potência de segunda ordem onde o alto custo de sua cooperação com a ‘ordem mundial’ vigente, embora inquestionável para sua elite corrupta, está começando a dar sinais de exaustão:
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O que nos custa a liberdade da OTAN
Manlio Dinucci, REDE VOLTAIRE, Roma (Itália) | 31 de março de 2014
A liberdade tem o seu preço. E também o tem a submissão voluntária. O preço da submissão aos Estados Unidos e às suas aventuras militares é particularmente alto: para a Itália, 56 milhões de euros por dia. Para a França, 117 milhões de euros diários.
«A situação na Ucrânia recorda-nos que a nossa liberdade não é gratuita e que temos que estar dispostos a pagar.» Isso nos recordou o presidente Obama, tanto em Roma como em Bruxelas, ao expressar a sua preocupação pelo fato de que alguns membros da OTAN queiram diminuir os seus gastos militares. Obama anunciou que os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da OTAN se reunirão na próxima semana em Bruxelas para reforçar a presença da aliança atlântica no leste da Europa e modernizar as suas forças militares. É claro que isso exigirá, naturalmente, mais dinheiro. Assim, já estamos avisados.
A quanto se eleva o gasto militar da Itália? Segundo os dados do SIPRI, o famoso Instituto Internacional [de Estudos para a Paz] de Estocolmo, a Itália subiu em 2012 ao décimo lugar entre os países que mais dinheiro gastam em armamento em todo o mundo, à volta de 30 bilhões de dólares, equivalentes a 26 bilhões de euros ao ano, o que equivale por sua vez a gastar 70 milhões de euros por dia, dinheiro que provém dos fundos públicos e se destina às forças armadas, à compra de armamento e à realização de missões militares no exterior. [1]
Segundo os dados correspondentes ao ano em curso, publicados há um mês pela OTAN, o gasto da Itália no setor de defesa se eleva a 20,6 bilhões de euros, equivalente a mais de 56 milhões de euros diários. Essa cifra, segundo detalhado no orçamento, não inclui o gasto destinado a outras forças que não estão permanentemente sob o comando da OTAN mas que podem pôr-se sob as ordens do comando atlântico, segundo as circunstâncias. Também não inclui os gastos das missões militares no exterior, que não aparecem no orçamento do Ministério da Defesa.
Existem, além do mais, duas somas extra-orçamentais destinadas ao financiamento de programas militares a longo prazo, como o do avião de combate F-35.
O orçamento oficial confirma que o gasto militar da OTAN ultrapassa um trilhão ao ano, o que representa 57% do total mundial.
Mas, na realidade, essa soma é ainda mais elevada já que, ao gasto militar dos Estados Unidos, quantificado pela OTAN em 735 bilhões de dólares ao ano, há que juntar outros gastos de caráter militar que não se incluem no orçamento do Pentágono – como os 140 bilhões anuais destinados aos militares aposentados, os 53 bilhões que vão para o «Programa Nacional de Inteligência», e os 60 bilhões para a «Segurança da Pátria» – que elevam o gasto real dos Estados Unidos em matéria de “defesa” a mais 900 bilhões de dólares, ou seja, mais da metade dos gastos mundiais nesse setor.
O objetivo dos Estados Unidos é que seus aliados europeus assumam uma percentagem mais importante dos gastos militares da OTAN, destinada, por sua vez, a aumentar o fortalecimento e a otimização da “frente do leste”.
Hoje em dia, sublinha Obama, «aviões da OTAN patrulham os céus do Báltico, reforçamos a nossa presença na Polônia, e estamos dispostos a fazer mais.» Avançando nesse sentido, adverte-nos Obama, «cada Estado membro da organização deve incrementar o seu próprio envolvimento e assumir a sua própria tarefa, mostrando a vontade política de investir na nossa defesa coletiva.»
Podemos ter a certeza de que o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, e o seu primeiro-ministro, Mateo Renzi, já confirmaram essa vontade a Obama.
Tradução
Alva
Fonte
Il Manifesto (Itália)
NOTA:
[1] Segundo os dados do SIPRI para o ano de 2012, a França ocupa o 6º lugar mundial em matéria de gasto militar com 58 bilhões de dólares, ou seja, cêrca de 43 bilhões de euros, o que representa 117 milhões diários, sem contar os gastos de defesa incluídos em outros orçamentos que não têm a ver com essa rubrica. Ver o orçAmento de Defesa de 2014 da República Francesa.
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