Todavia, controlada que é pelas mais poderosas elites do mundo, o objetivo real da OTAN é manter o sistema capitalista-imperialista a qualquer custo. Para isso, essa organização está tentando barrar os regimes progressistas, principalmente os da Rússia e da China, por oferecerem uma alternativa ao sistema do qual essas elites dependem para manter seu poder.
Em seu site Stop NATO, Rick Rozoff tem há tempos feito um acompanhamento dos passos da OTAN. Na entrevista abaixo, dada ao jornal russo Voz da Rússia, ele revela suas preocupações sobre a presente pressão contra a Rússia e a China e, assim, contra o resto do mundo. Acredito que sua idéia de uma aliança entre a Rússia, a China e os países não-alinhados, para tentar barrar os avanços da OTAN, deveria ser seriamente considerada.
_______________________________________
Países não-alinhados, Rússia e China devem clamar pela abolição da OTAN
Miguel Francis, VoR, 30 de maio de 2014
© Foto: OTAN
Em 30 de maio de 1982, a Espanha se juntou à OTAN e tornou-se seu décimo sexto membro. Desde a formação da OTAN, em 1949, a organização aceitou novos membros seis vezes e, a partir de 2014, a OTAN unifica 28 Estados na Europa e na América do Norte. Rick Rozoff, o proprietário e gerente do site e lista de discussão internacional Stop NATO (Pare a OTAN), compartilhou suas opiniões, durante sua entrevista com VoR, sobre a possibilidade de alargamento da OTAN e sobre como a comunidade internacional e a Rússia deveriam reagir a ela.
Quais são suas previsões para o futuro alargamento da OTAN? Será que essa organização conseguiria mover-se para o leste da Europa?
E quanto mais adiante ela teria que se mover? Como você indicou, a OTAN admitiu 12 novos membros em uma década, de 1999 a 2009; aumentou sua adesão colectiva em 75% e tem englobado toda a fronteira ocidental da Rússia, desde o Mar de Barents ao Mar Báltico, do Mar Negro ao Mar Egeu.
Você mencionou os 28 membros da OTAN e ela também agora tem mais de 43, talvez, mais perto de 50 parceiros ao redor do mundo em todos os continentes habitados. Tem um programa de integração avançada com o Cazaquistão, que faz fronteira com a Rússia e a China. Tem um programa individual da parceria e cooperação com a Mongólia, que faz fronteira com a Rússia e a China. E tornou-se uma rede militar global.
Receio que o mundo tenha sentado e permitido que isso ocorresse ao ponto onde agora chegou, um ponto de crise, se não uma catástrofe na Ucrânia. E espero, contra todas as expectativas, que ainda exista alguma possibilidade de reverter esse impulso, embora não esteja confiante de que haja.
Como a comunidade internacional e a Rússia deveriam reagir a isso?
Eu acho que nós estamos usando o tempo verbal errado. Não sei o que a Rússia poderia fazer agora. O que deveria ter feito há mais de 15 anos era oferecer sistemas de defesa aérea e outras formas de assistência militar à República Federal da Jugoslávia, para permitir que esse pequeno país se defendesse contra o ataque de bombardeio de 78 dias pelo bloco coletivo da OTAN.
Tendo falhado em fazer isso, e tendo falhado em impedir a primeira guerra na África há três anos atrás contra a Líbia, e tendo falhado em prevenir a OTAN de estabelecer uma presença naval permanente no mar Mediterrâneo e no mar da Arábia e na Ásia Central e em outras partes do mundo, pergunto-me neste ponto o que pode ser feito.
Diplomaticamente, a Rússia, a China e outros países não-alinhados – existem muitos poucos deles, a propósito –, deveriam, tanto no Conselho de Segurança da ONU quanto em especial na chamada Assembleia Geral, clamar pela supressão aberta da OTAN como um bloco militar agressivo que empreendeu guerras em três continentes, em 15 anos, na Iugoslávia sem qualquer mandato da ONU, e nos outros dois casos por perverter o mandato que tiveram.
Em 1954, a União Soviética expressou sua vontade de aderir à OTAN. No entanto, os EEUU, a França e a Grã-Bretanha rejeitaram adicionar a URSS. Na sua opinião, qual foi o motivo principal para essa recusa? Será que isso significa que a OTAN foi constituída para ser um contrapeso para a Rússia, e o país era visto como o maior inimigo militar e estratégico desde o início e ainda o é?
Esse é exatamente o caso. Qualquer que tenha sido a motivação Soviética em 1954 – poderia ter sido basicamente [em resposta a] um gesto de relações públicas dos EUA: 'se a OTAN é, na verdade, a aliança defensiva que alega que é, então, nós gostaríamos de participar também' –, os Soviéticos pegaram o blefe dos EEUU e os Estados Unidos rejeitaram a oferta. Fazendo o quê? Incorporando a República Federal da Alemanha à OTAN, no ano seguinte, como membro de pleno direito. Foi só depois disso que os soviéticos e seus aliados configuraram a Organização do Tratado de Varsóvia, no mesmo ano, em resposta à incorporação da Alemanha Ocidental.
Então, a OTAN foi configurada explícita e exclusivamente para conter e, afinal, confrontar a [URSS inicialmente e, agora, a] Rússia. E esse é seu unico objetivo, agora, porque, com a fragmentação da União Soviética e a dissolução do Pacto de Varsóvia, em 1991, os EUA estão longe de desabilitar ou fazer as malas de suas forças armadas e ir pra casa. Em vez disso, eles exploram a situação para trazer o equipamento militar da OTAN, e as tropas, diretamente até a fronteira da Rússia em vários casos.
A OTAN foi criada e inicialmente administrada sob grande pressão dos Estados Unidos, certo?
Dwight D. Eisenhower foi o primeiro comandante militar superior da OTAN. Então, ela foi inicialmente quase inteiramente um projeto americano-britânico.
É razoável gastar grandes quantias de dinheiro com a ampliação da aliança; entretanto, muitos Estados, especialmente os admitidos mais recentemente, sofrem com a decadência da economia e dos setores sociais. Por que esses países ainda concordam com a política da OTAN?
Por causa de suas elites políticas, muitas delas tendo sido educadas nos Estados Unidos e muitas delas sendo cidadãos americanos: Toomas Ilves na Estónia, ou recentemente Valdas Adamkus na Lituânia, ou a primeira-dama na Ucrânia até quatro anos atrás, Cathy Yushchenko, que nasceu e cresceu aqui nos EUA. Mikhail Saakashvili na Geórgia estudou na Universidade de Columbia. Eles foram então enviados de volta no período pós guerra fria para governar as nações da forma que os procônsules governaram em nome do Império Romano.
E é surpreendente que eles tenham subordinado as necessidades de seu povo e sua nação aos seus donos em Washington e Bruxelas, que estão dizendo a eles, como você está aludindo, que o mandato de membro da OTAN dita que uma nação gaste 2% do seu PIB em armas e as armas, para serem 'interoperáveis', para usar o termo da OTAN, têm que ser compradas – adivinhe de quem? – dos EUA, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Suécia. E se você tem armas russas, é melhor livrar-se delas e não pensar em comprar qualquer outra, porque elas não são 'interoperáveis' com as da OTAN.
Então, basicamente, a mão estende-se de volta para o bolso dos EUA. E, como é o caso, observamos esse tipo de mentalidade submissiva ao mestre em detrimento dos países.
Qualquer país que se junte à OTAN ipso facto sacrifica completamente sua soberania nacional e orgulho nacional e integridade nacional. E isso também tem exigido que seus filhos e filhas, sob a vontade dos Estados Unidos, possam ser enviados a zonas de guerra ao redor do mundo, para matar e morrer por objetivos de política externa de Washington, e sem perguntas. Se isso não é completa subordinação das nações a uma entidade estrangeira, então não sei o que é...