Brasil sob pressão da CIA
Nil Nikandrov, Strategic Culture Foundation, | 21.10.2014 | 00:00Mais de dois mil brasileiros ativistas políticos, intelectuais, pessoas de arte e cultura assinaram um manifesto em 26 de outubro destacando as ações hostis de Washington para a prevenção da vitória eleitoral de Dilma Rousseff. O documento foi publicado nas redes sociais. Ele diz que a chegada ao poder de Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que serve os interesses dos magnatas, inflige danos irreparáveis ao país e tira todos os senões a caminho da interferência direta dos EUA nos assuntos internos brasileiros. Neves vai interpretar o papel de ferramenta obediente nas mãos da administração dos EUA. Washington apela a tudo para atingir seu objetivo e trazer o candidato desejado ao poder – algumas coisas são feitas secretamente, alguns truques são perpetrados de forma clandestina.
Todos os recursos de informação e propaganda da CIA estão sendo usados para oferecer suporte a Neves. Aproximadamente 80 milhões de brasileiros têm acesso à Internet, 150 milhões são usuários de telefone celular. Os serviços especiais dos EUA têm comando perfeito das técnicas de desestabilização. Os recentes protestos e agitação social no Brasil ameaçaram a Copa do Mundo, provando que as forças estão prontas para reagir com o cenário de «revolução colorida», a ser implementado a qualquer momento.
As atividades das organizações não-governamentais não são restritas de forma alguma; seus membros têm laços estreitos com o pessoal da embaixada e do consulado dos EUA, bem como da USAID. A inteligência humana é usada para desacreditar a política do Governo Dilma Rousseff. As mentiras sobre sua ineficácia estão espalhadas por todos os meios disponíveis. «Peritos» prevêm colapso no caso de a Presidente ganhar mais um mandato. Eles divulgam resultados duvidosos de « enquetes de classificação» que complicam a visão da realidade.
Publicações de propaganda dedicadas às previsões usam frequentemente o termo «empate técnico», que oferece muitas oportunidades à CIA para manipular, falsificar e fazer malabarismos com fatos, como forma de reforçar as chances do esperançoso presidenciável que os EUA quer que vença a corrida. Há alguns anos, a mesma coisa ocorreu no México. Enrique Peña Nieto, o candidato apoiado pelos EUA, concorreu contra López Obrador, um populista e um apoiante de Hugo Chávez. As manipulações e o aparelhamento que fizeram Peña ganhar foram generalizados, e muitos mexicanos ainda duvidam de sua vitória; mas Washington disse que a eleição foi transparente e honesta.
Rubens Antônio Barbosa, o principal assessor de Aécio Neves sobre Assuntos Internacionais, é candidato ao cargo de Ministro dos Assuntos Estrangeiros. Os apoiadores de Dilma Rousseff acreditam que ele seja um importante agente de influência da CIA. Ele foi embaixador dos EUA em Londres. Agora, ele dirige o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. De acordo com sua orientação pró-EUA, ele chama pela «despolitização da política externa» e a «reconsideração de prioridades estratégicas em relação aos Estados Unidos e à China».
Após o escândalo da espionagem, quando o fato dos telefones grampeados de Dilma Rousseff, membros do gabinete, líderes militares e líderes de serviços especiais, pela CIA, veio à tona, seguido pela recusa do Presidente Obama a se desculpar, o Brasil fortaleceu a relação com a China – o principal parceiro de comércio desde o mandato do ex-presidente Lula da Silva. Agora, Barbosa diz que, em caso de vitória de Neves, os Estados Unidos ocupará um lugar apropriado (ou seja, predominante) nas prioridades de política externa do Brasil.
Há uma frase dita por Barbosa que fornece uma pista de como será a política externa do Brasil. Ele disse que a proteção dos interesses nacionais não mais será passiva. A Bolívia expropriou duas refinarias de petróleo da Petrobras e o governo não fez nada para proteger os interesses do Brasil. Neves e Barbosa prometem fornecer acesso às empresas de extração de petróleo dos EUA ao óleo da plataforma continental brasileira. A equipe de Neves diz que a política será «mais pragmática» e completamente desprovida de abordagem ideológica, típica do Partido dos Trabalhadores. A defesa de tais questões como a relação com o MERCOSUL (Mercado Comum do Sul, um bloco sub-regional), BRICS e outros grupos internacionais será modificada.
Washington passou por minuciosa preparação para a corrida eleitoral no Brasil. Agora, é a fase final. O Departamento de Estado dos EUA e serviços especiais têm enviado dezenas de agentes experientes ao país com rica experiência de estar envolvidos em operações semelhantes realizadas em todo o mundo. Por exemplo, Liliana Ayalde, a atual embaixadora dos EUA no Brasil, fez bom trabalho no Paraguai para conter a propagação da «ideologia populista». O Brasil é o próximo. Os principais atores envolvidos na conspiração contra Dilma são os oficiais da embaixada e consulado dos EUA no Brasil: Alexis Ludwig (conselheiro político), Paloma Gonsalez (funcionária da seção de política econômica), Samantha Carl-Yoder (chefe do setor consular), Kathryn Hoffman (funcionária política no consulado geral em São Paulo) e Amy Radetsky (chefe do setor político e econômico do consulado do EUA no Rio de Janeiro).
É suficiente olhar para o registro da carreira de Radetsky para entender que Washington preparou-se para uma «situação fora do padrão no Brasil. No Departamento de Estado, ela tem sido responsável por monitorar os eventos no Brasil para ver como eles afetam as relações bilaterais, e trabalhado na política em relação a esse país. Era ela que via todas as mensagens da embaixada dos EUA na capital brasileira. Um pouco mais tarde, ela dirigiu uma equipe especial do Departamento de Estado para monitorar o surgimento e desenvolvimento de situações de crise na região e preparar relatórios sobre a situação para o Secretário de Estado John Kerry. Agora, ela foi enviada urgentemente para o Rio! Que situação de crise faz Radetsky ir para o Brasil?
O estudioso político Díaz Rangel Eleazar, que estuda a situação na Venezuela, diz que uma possível derrota de Dilma vai ser uma «catástrofe». Os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff fazem a vida melhor para dezenas de milhões no Brasil que não tiveram nem electricidade antes. O Partido dos Trabalhadores deu início a drásticas mudanças positivas no continente sul americano. De acordo com Rangel, a administração Obama mobilizou todas as forças de oposição no Brasil e outros países da América Latina, todo o potencial das agências de meios de comunicação e informação para impedir a reeleição de Dilma. Existem fundos alocados para fornecer suporte a Neves na corrida presidencial. Influentes círculos financeiros e econômicos dos EUA estão envolvidos para ajudar Neves a ganhar.
Irão os brasileiros mobilizar-se e evitar o desastre predito por Eleazar Díaz Rangel? Saberemos daqui a uma semana.
Tradução:
Marisa Choguill
* Nil Nikandrov é jornalista especializado em política da América Latina e relações tensas com os EUA; é também crítico de renome da constrição devastadora da economia nacional perpetrada pelas administrações neoliberais. Estabelecido em Moscou, ele escreve artigos, regularmente, desmascarando os esforços feitos pela CIA e outros serviços de inteligência ocidentais para minar os governos progressistas da América Latina. Nil Nikandrov escreveu vários livros –de ficção e documentários – dedicados a temas latino-americanos, incluindo a primeira biografia em língua russa de Hugo Chavez.
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